04 outubro, 2014

O Valor (Adicionado) e o Presidente do Banco Central


Querido diário:

Volta e meia, quando falo sobre minha teoria do nível absoluto do valor, economistas desavisados pensam que sou louco. Outros profissionais do ramo, volta e meia, também pensam, mas estribam-se em razões diversas...

Penso que, aproveitando a confusão deixada por Marx e sua teoria do valor exposta no primeiro volume d'O Capital, tem gente que não entende exatamente que a teoria do valor foi escrita para deixar claro que as trocas de mercadorias ocorrem entre equivalentes intermediados pelo trabalho (humano, de quem mais?). Tem gente inclusive que pensa poder rastrear uma correspondência perfeita entre preços e valores, o que é descartado precipuamente por Marx. O autor alemão deixa bem claro que há mercadorias com preço e valor nulo. Além disto, outros não se dão conta de que o valor deve considerar também as necessidades de sobrevivência dos trabalhadores desempregados, das crianças e dos velhos.

Por ter presentes todas estas considerações é que venho pregando que

.a. o trabalho gera valor da produção (VBP), com uma função de produção dada por VBP = f(L), em que L é o trabalho humano

.b. VA = g (VBP), ou seja, o valor não é gerado propriamente pelo trabalho mas pela produção, o que permite pensarmos perfeitamente naqueles casos em que existe preço sem concomitante existência de valor (por exemplo, maná ou dádivas da natureza) ou mesmo apropriação privada de uma, digamos, pacífica praia e seu aluguel aos garotos urbanos.

De onde vêm estas equações expressas em a. e b.? Da famosa equação quantitativa da moeda, uma identidade contábil que predica:

.c. M x V = P x Q, onde M é o estoque de dinheiro da economia, V é sua velocidade de circulação, P é o nível geral de preços e Q é o produto interno bruto (também representado às vezes por Y).

Então, se criarmos um contexto de velocidade unitária e preços invariáveis, torna-se claro que

.d. M = Y, ou seja, o valor adicionado (PIB, renda, despesa) é igual ao dinheiro circulante.

E quem define o dinheiro circulante em uma economia? É o presidente do Banco Central! Mas ele não o faz de maneira independente do sistema econômico. Se ele não permite à oferta monetária crescer no ritmo adequado, ele tranca o lado real e se, ao contrário, ele joga mais dinheiro do que a capacidade produtiva pode crescer, então ele gerará inflação. E para que serve, então, aquele M? O M, isto é, a oferta monetária é distribuído pela sociedade de acordo com regras econômicas e institucionais. Uma regra econômica mais ou menos pura é, por exemplo, a explicação da razão que leva alguns setores industriais a se qualificarem a cobrar um preço superior a outros. E uma regra institucional é, por exemplo, o pagamento dos aposentados e pensionistas.

Todo mundo quer aumentar sua fração em M, mas vemos um jogo de soma zero e, como tal, alguns conseguirão, alguns terão mais sucesso do que outros. Haverá mesmo perdedores, ou seja, agentes que no ano corrente -mesmo com um PIB maior, até ganharão menos do que no ano pretérito.

DdAB
Imagem daqui.

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