05 outubro, 2014

Eleições e Ditadura


Querido diário:

Para mim, os resultados das eleições avalizam, infelizmente, o mais estrebuchante pessimismo. Houve um ou outro ponto de alegria, mas na linha de celebrar o meio copo vazio, como é o caso da derrota da senadora Ana Amélia em busca de promoção a governadora do Rio Grande do Sul. Ri de mim mesmo em achar que haveria alguma chance de Marina da Silva perturbar o quadro político desta país com a vitória pleiteada para o cargo de presidenta da república. E ri de Marina que ficou aproximadamente com os mesmos 20% dos votos válidos que já tivera ao competir com Dilma há quatro anos.

E fiquei filosofando. Cheguei a pensar que muita gente, até mais pessimista que eu com as perspectivas da emergência da decência na política brasileira ao clamar pela volta da ditadura, tem razões para o desespero que este tipo de clamor exala. Claro que não há nenhuma razão para privilegiarmos a ditadura de generais ou a transição ilegítima/golpista de José Sarney. O que ficou patente para mim com as derrotas que sofri neste domingo (e que bem podia prever há dez ou mesmo 100 dias) é que a ditadura militar surgiu precisamente em resposta à tibieza institucional brasileira. E a derrota de um projeto realmente transformador (que nem apareceu na pauta) também surgiu precisamente em resposta à tibieza institucional brasileira.

A ditadura não tem nada a ver, mas -at the same time- o sistema eleitoral brasileiro não pode ser considerado um condutor da democracia. Começa com o voto obrigatório, o voto proporcional, a ausência de parlamentarismo (com um arremedo grotesco). Não há lei do orçamento, Não há cultura suficiente nos políticos para fazerem alguma problematização na linha da teoria da escolha pública. Volta e meia concluo minhas observações desiludidas com um "só bebendo". E hoje não poderia ser diferente.

DdAB
Imagem: aqui.

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