29 setembro, 2018

Os Butiá, as Eleição e Reflexões Duilianas sobre o Teorema do Eleitor Mediano

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Querido blog:

Não gosto de parecer alarmista, mas refreei o início desta postagem falando em "o mar não está para peixe". Depois explico, mas tô falando nos butiá caídos aos bolso pru causo das eleição.

Mais ameno é o assunto das duilianas, o que faço regularmente, tentando divulgar mais meu nome, por vê-lo um tanto contido por pais e mães do Brasil contemporâneo (diz o Google na pesquisa de 'duilio': aproximadamente 3.430.000 resultados (0,99 segundos), costumo espalhar para a turma que é um bom nome para filhos. Ao mesmo tempo, 'duiliana' bem poderia ser o nome de uma garota: Duilia Ana. Mais que Duilio, o nome de Duilia merece ainda bastante cuidado na divulgação das vantagens de portá-lo (no Google, há: aproximadamente 137.000 resultados (0,86 segundos), ou seja, desproporção entre Duilio e Duilia podendo deixar os pais e mães da futura geração muito preocupados. E principalmente o Brasil. Desagrada-me comparar o número de entradas no Google, por exemplo, com 'Carlos', com 1,2 bilhões de entradas ou 'Maria', com 2,5 bilhões. Ameno? Posso chamar de 'ameno' tratar de um nome que tem infinitamente menos entradas que nomes também de pessoas decentes?

Pois então. As eleição deixam-me contrafeito ao perceber que o sistema um/a eleitor/a-um voto é o melhor que existe, ainda que haja tanta gente de todas as extrações sociais e intelectuais que seguem intentando votar no capitão Pocket (recente e oportunisticamente acusado de ser um pocket cheio dinheiro roubado. E acabo de ouvir que esse candidato já revelou que, se for derrotado em sua intenção de presidir o Brasil, não reconhecerá o resultado, por haver fraude nas urnas, o que seja, o mesmo discordar do sistema um/a eleitor/a-um voto. Mas aí é que reside a encrenca: como é que tanta gente ainda pensa em votar em um cara que sempre foi conhecido por seu autoritarismo e desde agora enxovalha a lisura do processo eleitoral. Pra dizer a verdade, eu também enxovalho, pois começa que acho que o sistema deveria ter o voto facultativo. Mas isto é democrático, ao contrário das pregações do capitão. E já que o assunto é anti-pocket, tenho alardeado que praticarei o "voto útil", Haddad ou Ciro, encaminhando-me em estado de alerta para entender que Haddad está com mais chances de chegar ao segundo turno das eleições.

E isto é uma tragédia, especialmente se considerarmos que temos um radical de direita (conservador e fascista) enfrentando um -por assim dizer- radical de esquerda. Na verdade, temos neo-liberalismo versus igualitarismo (este deve ser considerado com moderação, pois acena-se -à esquerda- com políticas governamentais concentradoras). Segue-se que o teorema do eleitor mediano (as posições extremas tendem a se atenuar no discurso, a fim de capturar o eleitor do centro do espectro político, levando a candidaturas defendendo bandeiras de centro assemelhadas). Este encaminhamento do espectro de escolhas do eleitor, da eleitora, é que me derruba os butiá dos bolso.

Retornando às duilianas, tenho registrado, com até estranha frequência que já ouvi falar que, em Roma, houve um imperador Duilio e, na mesmíssima Roma, um tal São Duilio foi canonizado e depois rebaixado a cidadão comum (como é meu caso...). Pois agora chegou-me ao conhecimento um poema cujo título já diz tudo:

POEMA PARA DUILIO
Gabriela de Fátima Vieira

Sem menos nem mais, tomei um avião e parti
De Minas a Porto Alegre atrás de você, que nem sabe de mim

Guiada pela intuição, fui onde você iria
No restaurante vegetariano, onde você comeria
E ainda fiz hora na exposição do Leminski
Certa de que chegarias

Vi sua nuca pelas costas de todo rapaz
Seu tênis em todos os pés
E sua porta em todas as casas

Fui embora sem te ver e ainda mais apaixonada
Sem nos conhecermos você me deu um amor que me tirou de casa
Esperança, que divertiu minha viagem
E ainda esse poema, que um dia hei de espalhar por toda cidade
Pra finalmente dizer-te: Obrigada!

[Assina o pseudônimo Amélia]

Seja como for, a atividade mais importante do dia é a tarefa política de todos os Duilios e Duilias de boa fé do Brasil comparecerem à Marcha das Mulheres contra Bolso naro, o ogro que uns chamam de Pocket.

DdAB
P.S. Gosto quando os marcadores da postagem oscilam entre "economia política" e "besteirol", o que faz esses termos praticamente sinônimos no Brasil.
P.S.S. Sobre Duilios e Poemas:
.a ver Duilio Gomes - romancista mineiro, cujo nome deve estar no inconsciente da poeta.
.b ver o poema de Carlos Drummond de Andrade intitulado "Fulana"; 'sequer conheço fulana', etc.
P.S.S.S. Já que estou neste clima laudatório se não para minha pessoa, pelo menos para meu nome, achei que também seria oportuno homenagear o livro de Teoria dos Jogos que fiz em co-autoria com Brena Fernandez:
BÊRNI, Duilio de Avila e FERNANDEZ, Brena Paula Magno (2014) Teoria dos jogos; crenças, desejos, escolhas. São Paulo: Saraiva.
P.S.S.S.S. Lá em cima digo que aquela reportagem sobre o mau-caratismo do candidato do povo de curta reflexão sobre filosofia política é apenas para disfarçar o que a revista Veja (e cegue) fará em seu próximo número desancando da maneira mais mesquinha possível o candidato vencedor (Haddad) das eleições para presidente de 2018. Pode? Esperemos, vigiemos e vejamos (mas não ceguemos).

21 setembro, 2018

O Descobrimento do Óbvio: cooperação é bão


Querido blog:

Parece-me já ter filosofado sobre a relação entre ética e egoísmo: um indivíduo que leva os outros a crer que ele não é egoísta (ergo parece, aos olhos dos observadores de seus atos, agir de modo altruístico) terá um pay-off em seu jogo-dinâmico-de-vida-inteira maior que outros jogadores que levam os demais a desacreditar de sua retidão moral e bondade de caráter. Se a ética está em discussão, precisamos ter claro que esse indivíduo pode ser um honesto-de-ocasião, apenas esperando uma oportunidade para dar seu bote. E, pior ainda, se ele vem dando botes aqui e ali, mas nunca é descoberto ("crimes perfeitos"), sendo clara apenas sua ação mimetizadora de comportamentos altruísticos, seu pay-off será mais elevado do que seria em outra circunstância.

Tendo em mente este tipo de consideração é que Brena e eu escrevemos:

O jogo do Guri Mimado nos permite entender que em situações em que há conversações prévias a seu início, podem surgir ameaças. Com isso, é evidente que algumas delas podem não ser cumpridas, o que as caracteriza como conversa fiada, como ameaças não realizáveis (non credible threats) ou, ainda, como “ameaças vazias”. Por contraste, parece que as ameaças feitas pelo garoto mimado de que, se tiver de visitar a tia, a chamará de solteirona, martelará o rabo do gato dela e praticará outras diabruras, com as recompensas de 2Bd [duas unidades de bem-estar ou sua correspondência em dinheiro] ou 4Bd é que são eficazes, com a benção adicional de não sofrer punição por parte dos pais. Ou seja, se as ameaças serão levadas a sério ou não, depende muito da reputação pretérita que cada agente construiu ao longo da vida. Aqueles que costumam pagar religiosamente suas promessas, cumprir sua palavra e, portanto, realizar suas ameaças, passam a ser reconhecidos por essas características, o que resulta em pouca inclinação a “pagar para ver” por parte dos demais agentes envolvidos na situação. Já no caso oposto, de agentes que se tornaram conhecidos justamente por jamais honrarem a palavra dada, a situação se inverte: a tendência é que suas ameaças sejam, em princípio e por definição, não críveis. Agentes do segundo tipo estarão condenados à desmoralização eterna, caso não consigam alterar este padrão de comportamento.

in: BERNI, Duilio de Avila e FERNANDEZ, Brena Paula Magno (2014) Teoria dos jogos; crenças, desejos, escolhas. São Paulo: Saraiva.

Estamos, assim, falando nas vantagens de ter reputação de honesto. Parece que, agindo racionalmente, os agentes procurarão comportamentos altruísticos, comportamentos que façam com que pareçam honestos. Mas que dizer deste "agindo racionalmente"? Tem muito mais reflexão sobre o tema feita por acadêmicos de prestígio, como é o caso de Amartya Sen. Já falei que um dos melhores livros que já li na vida foi

SEN, Amartya (2009) The Idea of Justice. Cambridge-Mass: Belknap e Harvard.

com tradução em português (em páginas correspondentes):

SEN, Amartya (2011) A ideia de justiça. São Paulo: Companhia das Letras.

Na verdade, Sen não está falando em honestidade, mas em justiça. O substantivo honestidade e o adjetivo honesto não se encontram no índice analítico do livro e nem em qualquer outra parte do livro (que tenho um PDF da edição em inglês)! Mas eu estou pensando que descobrir o óbvio é dizer que as sociedades que se pautam pela honestidade, que encontram um ideal de justiça, têm maiores probabilidades de sucesso que as demais. E também estou fazendo outra ilação: quem age racionalmente atua com honestidade. Quem age racionalmente busca alcançar a sociedade justa.

E um ladrão, não podemos dizer que ele age racionalmente? Claro que não, claro que seu pay-off-de-vida-inteira é menor que aquele que ele alcançaria, se tivesse comportamento honesto. Claro que há exceções a esta sina. Mas uma das formas de vermos os gangsters "justiçados" é avaliar sua expectativa de vida. Sobre gangsters, li, dias atrás, um diálogo interessante na internet. Dizia uma pessoa: "Como é que, mesmo sendo proibido usar armas, os bandidos o fazem?" E a resposta veio direto: "É por isto que eles são bandidos!". Singeleza cristalina, a meu ver. Claro que comportamentos de bandidos só são compatíveis com... bandidos.

Essas reflexões me levam a pensar que o Brasil tem saída, pois, por maior que seja a impunidade, como a vemos hoje, estou certo de que isto não durará para sempre! Mas tenho um aliado para acelerar a mudança do lado tíbio para o lado reto da vida societária no Brasil. Trata-se agora da implantação do governo mundial, que vejo datada ainda para o presente século. É natural que ela venha permeada por um conjunto de instituições mais inclusivas (na linha de Acemoglu e Robinson) do que as atuais instituições brasileiras. Penso em instituições em que as injustiças da fome, da discriminação de minorias, do abandono da infância e da velhice, da misoginia sejam proscritas, como o são na maior parte dos países decentes do mundo contemporâneo.

Depois de Acemoglu e Robinson, passei a referir-me a esses países com ralo grau de decência como países de desenvolvimento intelectual precário. Neles há precariedade

. na noção de liberdade (não matar, não defender pena de morte, não reduzir a liberdade dos outros por meio do roubo ou escravidão)

. na negação da importância da origem de classe, gênero, raça, credo

. no desleixo com as preocupações sobre a desigualdade

. na desconsideração da formação de uma justiça

. na ignorância sobre princípios da moral e da ética

Então consegui firmar algum princípio: alienado é quem não acha nada, mas também é quem não pensa nas consequências do que acha sobre o meio em que circula.

E esta lição: é óbvio que os conselhos de be good, be smart etc. são maravilhosos pavimentadores da estrada da felicidade.

DdAB

17 setembro, 2018

El Señor Marx y el Derrumbre


Querido diário:

Quase um ano atrás, andei lendo o número de outubro de 2017 da revista Cult que tem no tema de capa "Marx e as Crises do Capitalismo", tudo a propósito da passagem dos 150 anos da publicação de O Capital, digo, Das Kapital. Quando morei em Berlim, à propos, andei sugerindo que trocassem os artigos der e die por das, usando-o em todos os casos, como o the do inglês, ao mesmo tempo, homenageando a conquista da terceira dimensão. Não aceitaram, tentei justificar invocando o fato de que absurdamente voltaram a usar aquele Erset, sei lá. Por desgosto com essa derrota, abandonei os estudos dessa língua germânica.

Entre os interessantes artigos do -assim identificado- número 228 da Cult, temos nas páginas 32-34 o ensaio de Gustavo Moura, cujo título é "Nem profecia nem dogma; o autor de O Capital identificou importantes aspectos das formações sociais capitalistas e decisivas tendências de seu evolver histórico". Lemos na p.33 que Moura está citando uma carta de Marx endereçada a Arnold Ruge: "nós não antecipamos dogmaticamente o mundo de amanhã, mas somente queremos chegar ao novo mundo por meio da crítica do antigo."

Então estamos precisando prestar bastante atenção a esta proposição: apenas depois da crítica ao mundo antigo é que chegaremos ao novo. Esta mesma posição, mutatis mutandis, é repetida na Crítica do Programa de Gotha.

Mas tem mais gente tratando do tema del derrumbre del capitalismo. Meses antes daquele outubro, ganhei de presente de Naira Vasconcellos o livro:

SODRÉ, Nelson Werneck (1984) Contribuição à história do PCB. São Paulo: Global.

E na página 18 lemos o seguinte:

Como qualquer adolescente sabe, os comunistas e seu Partido têm suficiente compreensão da História para não esperar a 'implantação' -para empregar um dos chavões prediletos do escasso vocabulário da reação- do comunismo de um dia para o outro (como poderia supor algum demente), ou, no polo oposto, apenas quando toda a população, até o último indivíduo, estiver convencido de que assim deve ser feito. Admitem, portanto, e não é preciso excessivo esforço de raciocínio para isso, que a passagem ao socialismo (ao comunismo é coisa ainda mais complexa) demanda etapas de transição, cujo caráter, duração, função, etc., muda de caso a caso. O problema está intimamente ligado a outro, sempre presente e quase sempre obscuro e por isso mesmo polêmico, em todos os tempos: o do 'caráter da revolução' de cada uma dessas etapas. Não cabe aqui discutir questão tão complexa. É suficiente dizer que as chamadas 'reformas de base' definiam o caráter da revolução brasileira naquela etapa, isto é, a etapa da segunda década do século XX, no Brasil. Tratava-se de um elenco de reformas, ditas básicas, que não tinham conteúdo socialista, mas que permitiriam, implantadas e desenvolvidas, acelerar bastante aquilo que, em História, se conhece como revolução democrático-burguesa. Um dos traços irônicos dessa revolução reside no fato de que ela obriga a burguesia a cumprir seu papel histórico em países, como o Brasil, em que ela chegou tarde e está historicamente defasada. O elenco das 'reformas de base' não era, pois, em si, revolucionário: a estrutura de classes não seria subvertida. Importava, em linhas muito gerais, numa reforma agrária (que alguns queriam 'radical', mas cujo sentido só entendiam em palavras); numa reforma urbana, que deteria a espoliação do inquilinato; numa reforma eleitoral (dando direito de voto a soldados e marinheiros, e de votar e ser votado a qualquer cidadão maior e não insano, bem como aos analfabetos); numa reforma econômica que reduziria a sangria da remessa de lucros, nacionalizaria as principais empresas multinacionais, particularmente aquelas da área energética, sanearia a especulação financeira, baratearisa o crédito, preservaria os salários e, portanto, o poder aquisitivo dos trabalhadores, etc.

Até aqui o velho Nelson Werneck mandou bem. O mesmo fez meu colega de UFSC, o prof. Gerônimo Machado: não queremos o socialismo agora, mas reformas democráticas que conduzam a ele. Por falar em reformas de base, em 1963-4, havia o programa de reformas cobradas ao pres. João Goulart, quando ele retomou o poder com o fim do parlamentarismo:

. reforma agrária
. reforma educacional
. reforma fiscal
. reforma eleitoral
. reforma urbana
. reforma bancária.

Aqui comentei uma série de reformas que considero relevantes para a retomada (ou melhor, da tomada, pois com esse Gini sempre superior a 0,5, desde 1960) da vida democrática brasileira, o que apenas pode ser feito se houver redução no grau de desigualdade na distribuição da renda. E, naturalmente, sob o ponto de vista da vida política, a redemocratização do país.

Concluo dizendo que todas essas reformas de que falo têm em comum o fato de manterem o status quo no que diz respeito, alternativamente, a rupturas institucionais, como é o caso del derrumbre del capitalismo. Dei-me conta de que a humanidade ainda não gerou instituições suficientemente fortes a fim de lidar com um sistema econômico diferente do capitalismo. Se soubéssemos quais são essas instituições, já poderíamos estar propagandeando-as. O que sabemos é que as reformas de que Jango falou e as de que falei e até os cronistas de Zero Hora falaram podem criar essas pré-condições. Por fim, considero mais sensato que o capitalismo seja substituído naturalmente a vê-lo destruído abruptamente. Aliás, já andei brincando com a ideia de que "o capitalismo acabou há mais de 15 dias", isto é, já vivemos em outra formação econômico-social diferente daquela que Marx chamou de capitalismo.

DdAB
P.S. A imagem que nos encima fi-la (fila?) eu mesmo mostrando o esquema geral de crescimento de uma economia capitalista. O capitalista detém um montante D de dinheiro, com ele compra mercadorias no valor M, inclusive os serviços do trabalho, leva esse M ao recesso da fábrica e o envolve no processo produtivo do qual resulta um volume maior de mercadorias, M', sendo este levado ao mercado e vendido pelo valor D'. Se não for vendido, não gerou valor nenhum e o capitalista perderá seu amado dinheirinho investido nessa canoa furada.
P.S.S. Aquele M' não está bem contado: antes de dar seu salto mortal (isto é, ser vendida), a mercadoria não tem valor nenhum. Claro que, estilizadamente, podemos dizer que ela tem potência de valor com magnitude M'.
P.S.S.S. Desde que aprendi que o conceito de eficiência se desdobra em "produtiva, alocativa e distributiva", entendi que o capitalismo é mau na eficiência distributiva e na alocativa. Seu forte é a eficiência produtiva, dada sua espantosa tendência de gerar progresso técnico eliminador do trabalho vivo. Ou seja, para bom entendedor, ninguém precisaria trabalhar tanto, sendo constrangido a fazê-lo precisamente por causa daquelas viagens de subsunção formal e subsunção real da classe trabalhadora. Com uma boa reforma, pode-se controlar as ineficiências alocativa e distributiva, mas não se deve desprezar o lado alegre do capitalismo que é mesmo o de eliminar trabalho vivo e deixar tempo livre para a macacada jogar cartas ou esculpir obras de arte.


15 setembro, 2018

ZERO HORA E O GAÚCHO QUE HERRA


Querido diário:

Designo às vezes como Zerro Herra o jornal Zero Hora. O elogio que lhe faço em tratá-la tão familiarmente é que a escolhi para mostrar-me sua agenda de notícias diárias, jornal de papel. Os jornais de papel vão acabar e não será por pragas rogadas por mim. Enquanto isso, vou consumindo minha fração ideal de árvores do planeta. A crítica que faço ao jornal é que ele é insofismavelmente um veículo de ideias de direita. Às vezes surgem jornalistas livre-pensadores que não duram muito. Pode ser que peçam para sair, não sei. Ismael Canapelle, Clara Averbuck e milhares de outros e outras.

Mas hoje o registro de pensamento de direita que desejo acentuar não é do jornal, mas de do "eleitorado gaúcho". E como sei isto? Comprei meu exemplar do jornal de hoje e li em sua página 10 a manchete de uma das colunas do artigo de Rosane de Oliveira, outra cronista intrinsecamente de direita. Em compensação, ela divulga dados sobre o "conservadorismo do eleitorado gaúcho". E que lemos?

. que 76% dessa macacada é contra a legalização do aborto. Claro que a forma como se chegou a esta conclusão é decisiva: se a pergunta é secamente "sou a favor, sou contra, indiferente ou não quer responder", pode haver um falso positivo naqueles 76%. Mas o provável mesmo é que a macacada seja mesmo intrinsecamente de direita. Nossas sucessivas eleições para a assembleia legislativa são capazes de selecionar a flor do reacionarismo, os pecuaristas progressistas com produtividade econômica da terra igual à do mar, ou até menor e os urbanos abandonados pela educação que seus ancestrais deputados descuraram tão desabotinadamente.

. que 73% dessa macacada é contra a legalização da maconha. Que contraste com minha posição, que considera "o maior golpe do mundo" a ser dado no tráfico de drogas ilegais torná-las gratuitas: sem preço, com oferta abundante, sem escassez, não há mercado. E o puxador de fumo, o cheirador de papelotes, o cachimbador de crack terão enfermeiros e não traficantes como interlocutores. Que contraste, hein?

. que 71% dessa macacada é a favor da redução da maioridade penal. Eu, naturalmente, sou a favor de reduzir a impunidade especialmente para os maiores de 21 anos, os que entraram para a política e, como tal, os governos locais, estaduais e nacionais.

. que 43% dessa macacada é a favor da pena de morte. De minha parte, sou a favor da pena de morte apenas para os que são a favor da pena de morte. Mentira, mentira: não sou a favor da pena de morte para ninguém. Nem em tempo de guerra. Aliás, sou contra a guerra. E para exterminá-la, sou a favor do governo mundial.

. que a prisão perpétua para crimes hediondos tem 75% dos "eleitores gaúchos" a favor.  Meu medo com a super necessária nova constituição da república é que a cláusula pétrea que proíbe prisão perpétua seja revogada...

A única esperança que me resta é que essa pesquisa tenha sido feita com regras metodológicas absolutamente alheias aos tratos do bom-senso.

DdAB
P. S. Vergonha para o Amapá! Só para o Amapá?

14 setembro, 2018

História da Ficção, volume 1

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Querido diário:

Pensei que devo escrever minha própria história da ficção. Por falta de prática, comecei imaginando um velhinho daqueles literatos do tempo antigo, talvez um tanto baseado no romance "Meu irmão alemão", de Chico Buarque. Escrevo: tenho cerca de 1.200 livros, uns 200 ou 300 de ficção, muitos outros de economia, outros ainda de divulgação científica e outros, tico-tico-no-fubá. De sua parte, para simples comparação, o dr. Rodrigo Cambará, personagem da saga "O Tempo e o Vento", de Érico Veríssimo, muito metido a bacana, tinha anunciados 5.000. Um monte. Eu garanto não ter lido todos esses 1.200 e os amigos do dr. Rodrigo, alguns deles, juravam que ele teria lido no máximo uns 50. Ou exagero?

Na primeira prateleira, da esquerda para a direita de minha biblioteca de leitura-literária, estão Eça, Graciliano e Érico. Este ainda derrama-se para a segunda. Se eu não fizer o relato seguindo a estrita ordem em que os livros foram colocados na estante, minha mãe morre. Isto implica que devo começar com um livro que não li, Não importa, se é ficção, posso mentir que li.

Então vejamos: Eça de Queirós, como todo mundo, deixou uma obra impressa em vida muito interessante - digo-o mesmo sem haver lido tudo - e divertida. Mas meus livros mais amados foram "A Cidade e as Serras" e a "Correspondência de Fradique Mendes". Por quê, então, não li o primeiro primeiríssimo da prateleira? Por quê só esbarrei aqui e ali no "O Primo Basílio"? Porque, mal comecei a familiarizar-me com a história, como de hábito, fui conferir o final, mas mesmo antes disto entendi que Basílio se enroscaria com Luísa, o que me desagradou, talvez simples ciúme. Ciúme ou não, o fato é que, ao ler "Ulysses", de James Joyce, também fiquei furioso ao constatar com meus próprios olhos que Molly Bloom passava regularmente Leopold Bloom para trás. Por quê Basílio e não eu? Por quê Luíza daquele tempo e não Luana Piovani dos dias que correm (ou melhor, de uns cinco anos atrás)? Eu queria eu! Agora, cá entre nós, tem muita Luíza na literatura. Para quantificar o "muita", já vou dando exemplos. Um: "Um Ramo para Luíza", de José Condé e a Luizinha de "Caetés". Li o primeiro no final dos anos 1960s. Falarei adiante deste e de outros Gracilianos.

Ao lado de "O Primo Basílio" postei -sem segundas intenções- "O Crime do Padre Amaro" Eu li "A Cidade e as Serras", com absoluta certeza, ou em 1963 ou 1964 ou 1965 ou 1966. Dou quatro opções para garantir a certeza! E garanto. Se não roubaram, haverá traços de minhas impressões digitais, cabelos, células, espirro, entre suas páginas encontrada na biblioteca do Colégio Estadual Júlio de Caudilhos. Lembrava de alguma coisa, como a calefação na casa de Jacinto de Thormes à Paris. O interessante é que, em fevereiro de 2011, fomos passar as férias em Lisboa, segunda viagem, nova parceria. No final de tarde chuvosa, num shopping center, com ares ou nomes internacionais, depois de ter feito uma refeição na praça de alimentação, vi uma feira de livros com ofertas. Comprei este Eça, outro livro com as histórias de Jorge Luis Borges escritas em co-autorias. Levara acompanhando-me a "A Filosofia e e Espelho da Natureza", de Richard Rorty, um livro que li inteirinho, nada entendi e acho-o um dos melhores de não-ficção que li na vida. Minha edição é super-maneira, portuguesa, com certeza. Tem uma edição Relume-Dumará, brasileira. Olhei-a e vi a baixaria nacional: nem índice remissivo o diabo da Relume-Dumará ofereceu ao leitor doméstico.

Este livro acompanhava-me desde o Brasil e levei-o a Portugal apenas como companheiro e leitura leve (...) para as férias. Além de Rorty, é provável que tenha levado outro, de economia, mas -a certa altura- embarafustei pela leitura de "A Cidade e as Serras", investida agora em outra edição gloriosa, pela capa, papel cheiroso, gramatura adequada, diagramação límpida. No verso de sua folha de rosto, escrevi:

. O Crime do Padre Amaro
. O Primo Basílio
. O Mandarim que li na volta ao Brasil)
. A Relíquia (que li na volta ao Brasil)
. Os Maias
. A Ilustre casa dos Ramires
. Correspondência de Fradique Mendes.

E também li o ensaio "Eça de Queirós e o Século XIX", de Vianna Moog. E parece que parei por aí. Quereria dizer o quê? Que li ou lerei? Sinto vergonha por ainda não ter lido tudo isto, mas não posso estar tão desocupado para ler incansavelmente. Bem no topo da página 3 de "A Cidade e as Serras" em que consta um bico-de-pena de Eça, com seu bigodão e cravo na lapela, escrevi: "Tenho que rir sozinho! Ia esquecendo o mouse sem fio no Hotel Ibis, em Floripa." Falarei lá adiante que concluí a leitura -em Porto Alegre- no dia 21 de março de 2011. Reconstituo: estava "negociando com Brena Fernandez o trabalho conjunto que viria a ser a segunda edição do livro que levei vários anos organizando intitulado "Técnicas de Pesquisa em Economia" e que foi publicado em 2002 pela Editora Saraiva. Empreitada de sucesso, pois nós ambos organizamos o livro "Métodos e Técnicas de Pesquisa nas Ciências Empresariais".

Uma vez que já me aposentara da PUCRS, não queria ter envolvimento maiúsculo,, mas sobretudo queria alguém que sentisse envolvimento com o futuro da obra, novas edições, site, aquelas coisas. Tentei algum ex-colega da UFSC, comentando com o prof. João Rogério Sanson, que estava difícil fazer a parceria. Ele me indicou o nome de Brena Fernandez, uma economista estudiosa de epistemologia, tipo o prof. Ramón Fernandez (que não tem qualquer parentesco, ironias dos genogramas...). Viajei para Floripa bem no início de 2011, ficando lá por duas ou três noites, já não lembro. Claro que levei um computador, pois poderia trabalhar, delirar ou deixá-lo parado. Não lembro tampouco como saí do apartamento do hotel, deixando meu amado mouse, nem o que me fez voltar, digamos que fechar a janela ou pegar uma capa, guarda-chuva, sei lá. Como possivelmente Eça estivesse pronto para ser recuperado para a leitura de bordo, não me contive e nele joguei o desabafo.

Pois então. Seguindo alinhado à margem direita deste arquivo, quando transformado meu DOC em PDF, anotei uma espécie de índice analítico de que falarei adiante, remetendo às páginas 130, 135, 138 e 174. Na página 5 há alguns dados de imprenta, mas o que destaco são minhas anotações. Como uma espécie de subtítulo para "A Cidade e as Serras", escrevi: "Narrado em primeira pessoa por Zé Fernandes."

Voltam as datas: "Lisboa, 21/fev/2011, 18h26min, relógio Citizen adquirido há menos de 10 horas. Livro lido entre 1963 e 1965 (estimativa) na Biblioteca do 'Julinho'. E mais chamadas: "Tudo que é sólido desmancha no ar!", remetendo à p.94 e "p. 235: partidas dobradas", e ainda a informação de que botei no blog essas coisas. Por fim, os verbos "rugir, rosnar e ganir". Talvez o primeiro que quase matou-me de rir tenha sido o "ganir" lá da página 54. Talvez antes, preciso conferir, a gente volta no tempo para conferir.

Um vídeorromance. Há que escrevê-lo. Há muita coisa, há muita coisa. Na página 7, inicia-se a transcrição de uma carta firmada pelo J. de José Maria e não Z de "teu Zé". Editado, presumo, com o título de "Thormes visto por Eça de Queirós, em 2/jan/1898. Mais de 100 anos atrás. Serão 200, 300, mil, milhões de anos. A gente volta no tempo para conferir.

Falarei nisto mais adiante, talvez lá pelo volume 200, mas não posso perder a oportunidade de citar Machado de Assis, que levou-me a pensar na mudança semântica entre almoço e jantar. Hoje falamos em três refeições: café, almoço e janta. No CEUE, pedia-se "uma janta", que eu amava. Podia ser "com bife" ou "com guisado". Aqui, Eça diz a Emília (também ele tem sua "Minha querida Emília") que está escrevendo "à espera da ceia" e, em parênteses: "Aqui jantamos ao meio-dia." Ora, então é razoável pensarmos que, lá e acolá, janta-se em orários diversos. Se bem entendo de Machado, o que não é excessiva diferença com relação a Eça, as três refeições são o almoço, a janta e a ceia. Preciso indagar ao prof. Conrado de Abreu Chagas.

Na página seguinte do livro "A cidade e as Serras", a carta fala em "e todavia", expressão que sempre me pareceu estranha, ainda que eu mesmo possa tê-la usado, ou a alguma equivalente. As conjunções aditivas eram e, nem, também, bem como, não só..., mas também, ao passo que as adversativas eram mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante. Quer dizer, não se pode ser aditivo e adversativo ao mesmo tempo. Na álgebra dos conjuntos, e dá ou, melhor dizendo, dá a união, não é mesmo? E depois já entrou um grifo no adjetivo "inabitada" para casa. Não quis o "desabitada"?. E já vem um anglicismo: "Nunca seria possível vir passar aqui dois meses de férias, por gosto, este ano, mesmo com o alegre propósito of roughing it. Não há quartos, -não há mesmo cozinha. Realmente a casa, tal qual está, é um vasto celeiro. Excelente para guardar milho - impossível para conter uma família." O travessão, a vírgula, o milho grafado com a naturalidade dos velhos amigos, ele - que chegara à Europa há 300 anos.

Pulando do anglicismo ao galicismo: "À la rigueur, tudo se poderia lavar e caiar rapidamente mas o que não se poderia improvisar são os quadros, soalhos, tetos, telhado." Ele está cogitando com a esposa de vir a passar uma temporada na propriedade que a família mantém "nas serras". Mas a moradia serve mesmo é para mostrar o cuidado em inventar novas palavras: "A casa, essa, inteiramente [...] de sua inabitabilidade", com grifo no original. E segue: "Excelente para guardar milho - impossível para conter uma família." Milho, um dos presentes da América ao Velho Mundo. Conter? Se me fosse dado o atrevimento de editar Eça, eu falaria em "acolher". Também já vai ficando claro que a passiva sintética vai longe: "[...] o que não se podem improvisar são quartos, soalhos, tetos, telhados."

A esta altura, volta-se a falar na pobreza: "[...] horrenda imundície da gente" Decerto há miséria, e esse é um dos reversos de toda esta beleza. Decerto as casas de aldeia ou dos caseiros são, por culpa dos proprietários, verdadeiros covis, onde mesmo o gado estaria mal. Mas há também, na gente, o amor da imundície." Ênfase no original.

E tem gente contemporânea, como é o caso do que lemos na página 196 de "Caetés" falando em "pela manhã" e "pela madrugada", que segue com "pela manhã comecei a escrever". Eça não tem meio-termo: de manhã. E a página 9. Em seguida fala em "João Pinto", que trata bem a quinta, o que me levou a pensar na dupla José Fernandes e Jacinto de Thormes, invertendo os papeis: Eça, o proprietário, vira José Pinto, o administrador que conta a história de Jacinto, alias, Eça.

Já me alonguei, mas não posso deixar de registrar o final olímpico carregado de preposições imprescindíveis: "Mil beijos aos pequenos e para ti muitos também com os mesmos mil do [...] teu J.". De fato, alonguei-me, deixei muito recorte não costurado. Lugar comum, poderia explicar, prefiro seguir. Começa o romance.

E eu interrompo o meu, por enquanto.

DdAB
P.S. Botei aquela ilustração lá em cima para homenagear a turma...

08 setembro, 2018

A Violência na Eleição de 2018


Querido diário:

Hoje tenho revelações interessantes a fazer. A primeira está no título. Depois vem a imagem cujo encaminhamento chegou até mim por meio do mural de Roberto Rocha no Facebook. O pastor Silas Malafaia dizer o que lemos naquela imagem a que cheguei simplesmente andando no caminho indicado é algo que merece a adoção de medidas legais por parte de qualquer juiz eleitoral. Mereceria, devia eu ter dito, caso eles fossem realmente trabalhadores sérios e compenetrados de suas funções. Malafaia, como sabemos, ao ouvir que Marina Silva estava anunciando, caso fosse eleita em 2014, procurar uma solução benévola para acabar com o aborto ilegal, enquadrou-a e deixou o disse pelo que disse que disse. E Marina recuou, com medo, talvez, de receber postagens como a que nos encima.

A terceira revelação interessante diz respeito a meu inefável jornal, a Zero Hora, no exemplar de 7 de setembro. Começa no Informe Especial assinado por Túlio Milman:

Página 2:
A FACADA NÃO COMEÇOU ONTEM
   O atentado contra Jair Bolsonaro não pode jamais ser relativizado. É inaceitável.
[...]
[...] O que aconteceu  em Minas Gerais não é diferente do que ocorre em outras partes do mundo onde fanáticos usam armas para tentar impor suas verdades.
[...]

O resto até que é menos enviesado. Claro que o atentado é inaceitável, contra qualquer pessoa, como é o caso da Marielle. Ergo esse negócio de violência "em outras partes do mundo" nada mais é que o atestado de viés da parte do festejado jornalista. Que parece desconhecer os arquivos do próprio jornal, como provaremos com a lapela que agora transcrevo:

Página 9
Os atos de violência nas eleições de 2018
Desde meados do ano passado, diversos atos de violência contra ou envolvendo pré-candidatos e candidatos à Presidência da República foram registrados no país. Relembre alguns deles [que reoganizei para a estrita ordem cronológica].

7/8/2017 - Doria é atingido por ovo em Salvador
Ao chegar a Salvador para receber o título de cidadão soteropolitano, João Doria (PSDB), então prefeito de São Paulo e cotado à época para disputar o Planalto, foi atingido por ovo arremessado por manifestantes.

17/8/2017 - Bolsonaro é alvo de ovo arremessado em São Paulo
Pouco mais de uma semana após a agressão contra Doria, o hoje candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, foi atingido por um ovo durante ato público em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

17/8/2017 - Tiros durante visita de Lula a Salvador
PMs fizeram três disparos de arma de fogo para conter apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Vem Pra Rua, em Salvador. Ninguém se feriu.

19/8/2017 - Alckmin sofre ataque com ovo em São Paulo
O candidato do PSDB na corrida presidencial, Geraldo Aclkmin, também foi alvo de ataque com ovos. Na ocasião, o tucano que foi atingido enquanto participava de eventos nas proximidades da Galeria do Rock, no centro de São Paulo.

19/3/2018 - Lula recebido com confusão no RS
Primeira cidade onde passou a Caravana de Lula pelo RS, Bagé, registrou confrontos de apoiadores e opositores do ex-presidente. Alguns manifestantes foram presos.

27/3/2018 - Tiros na Caravana de Lula no Paraná [diferentemente do registor anterior, a palavra "caravana" aparece em minúsculas, o que corrigi, pois é apenas um errinho que nada tem a ver com ideologias...]
Dois ônibus da caravana do ex-presidente Lula foram atingidos por pelo menos dois disparos de arma de fogo, na noite do dia 27 de março, no Paraná. Um dos veículos era ocupado por jornalistas e outro transportava convidados da comitiva. Ninguém ficou ferido.

28/4/2018 - Tiros no acampamento de Lula no Paraná

O acampamento de apoiadores de Lula foi alvo de ataque. O sindicalista Jefferson Menezes foi atingido por um tiro de raspão no pescoço. Ele foi internado em estado grave, mas teve alta nos dias seguintes. Uma mulher foi ferida por estilhaços.

4/5/2018 - Ataque ao acampamento de Lula no Paraná

O delegado da Polícia Federal Gastão Schefer quebrou equipamento de som do acampamento em defesa do ex-presidente Lula, em Curitiba, onde o petista está detido por condenação no âmbito da Lava-Jato. O delegado invadiu o local e quebrou o aparato enquanto os petistas se organizavam para o grito de "bom dia, Lula".

"Relembre alguns", disse o redator lá em cima. Não consta desta lista, por exemplo, o odioso atentado à vida da vereadora Marielle Franco, representante do PSOL. O assassinato ocorreu no dia 27 de março deste ano. Pois é, falei em Zero Hora, mas não se sustenta: é Zerro Herra, mesmo! Seguimos com a colunista Rosane de Oliveira, na página 14. A coluna de página inteira mostra em seu sudeste uma notícia chamada relevante:

Página 14
ATENTADO À DEMOCRACIA
[...]
   A campanha deste ano é uma das mais tensas desde 1989. Nas redes sociais, militantes se agridem o tempo todo. O próprio Bolsonaro disse no sábado passado, em Rio Branco (AC):
-Vamos fuzilar essa petralhada aqui do Acre e botar esses picaretas para correr.
   Questionado na Justiça pelo PT [a petralhada...] e pela Procuradoria-Geral da República, disse que usou uma figura de linguagem.

Esta gracinha (???) do jovem capitão da reserva remunerada do Exército Brasileiro não configura para o redator lá da página 9 como um ato de violência. O problema do capitão é que ele não sabe distinguir realidade de fantasia e, enquanto tal, vive dizendo sandices, como essa do comprometimento em fuzilar (termo super jargão da milicada) os antagonistas.

Segue a Página 14 [notícia em caixa alta]
Não há, até aqui, nenhum indício de que o aloprado que esfaqueou Jair Bolsonaro tenha agido a mando de algum adversário, até porque nenhum seria tolo de planejar um atentado capaz de alavancar a candidatura da vítima.

COMEÇOU CEDO

   A violência começou na pré-campanha, com ohttp://19duilio47.blogspot.com/2018/09/a-violencia-na-eleicao-de-2018.htmlhttp://19duilio47.blogspot.com/2018/09/a-violencia-na-eleicao-de-2018.htmls ataques à caravana do ex-presidente Lula no Rio Grande do Sul e no Paraná, em março.
   Os petistas foram recebidos por adversários com relho, pedradas e queima de pneus para bloquear rodovias.
   No Paraná, dois ônibus da comitiva foram alvos de tiros. Até hoje a autoria não foi esclarecida.

REAL E VIRTUAL

   O discurso de ódio beira a insanidade nas redes sociais.
   O atentado contra Jair Bolsonaro deve servir para os líderes políticos -incluindo o próprio candidato- orientem seus militantes a trocar as agressões pelo debate de ideias.
   O pensamento de que as divergências se resolvem na bala ou na ponta da faca serve de adupo para violências.

Pois então. Nada de Marielle, nada de críticas aos juízes.

Página 20 - OPINIÃO DA RBS ATENTADO À DEMOCRACIA
[...]
   O triste episódio [do atentado ao capitão] introduz um elemento novo nas campanhas brasileiras, até agora preservadas da violência que atinge outros países.

Será que o sr. Túlio MIlman é o editorialista? Ou leu este trechinho do editorial antes da fazer sua festejada coluna? Claro que suspeito daquele "campanhas brasileiras até agora preservadas da violência que atinge outros países". Quer dizer: um jornal e tanto, um viés e um tantão.

Página 21 RBS Brasília - Carolina Bahia
Ataque eleva tensão
[...] É certo que os ânimos estão acirrados, que a polarização entre radicais de esquerda e direita reduz o debate a um nível baixíssimo. O próprio Bolsonaro disse em campanha no Acre que iria 'fuzilar a petralhada toda.' O PT entrou no STF contra Bolsonaro. Mas também é claro que não se pode admitir atos que coloquem em risco a vida de qualquer indivíduo. [...] Não podemos esquecer que somente neste ano houve ataque a tiros contra um ônibus da Caravana de Lula e, meses depois, a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi covardemente assassinada. As autoridades de segurança ainda devem a solução desses casos.É certo que os ânimos estão acirrados, que a polarização entre radicais de esquerda e direita reduz o debate a um nível baixíssimo. O próprio Bolsonaro disse em campanha no Acre que iria 'fuzilar a petralhada toda.' O PT entrou no STF contra Bolsonaro. Mas também é claro que não se pode admitir atos que coloquem em risco a vida de qualquer indivíduo. [...] Não podemos esquecer que somente neste ano houve ataque a tiros contra um ônibus da Caravana de Lula e, meses depois, a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi covardemente assassinada. As autoridades de segurança ainda devem a solução desses casos.

Pois foi aqui que vi a única manifestação ao covarde assassinato de Marielle Franco. Um jornal e tanto, uma lista enormes de atropelos. Desconheço o escore dos deslizes da esquerda e os da direita nas redes sociais. Mas aqui, tá na cara que a direita é que dá de 10. E até agora estou a perguntar-me se aquele delegado que avançou sobre o acampamento está sendo julgado. E o japonês da Federal, que trabalhou com tornozeleira, por ter sido considerado ladrão?

E os juízes que ganham fortunas, ou melhor afanam? Uma palavra de ordem adequada para este pais é, claro, educação. Com ela é que se formam instituições sociais sólidas. Além da educação, precisamos de justiça. Disse o Requião na Carta Capital da quarta-feira que passou que "a justiça esqueceu do Direito". E qual palavra de ordem pode, no longo prazo, acabar com todos esses desmandos? A dra. Liliane Hilgurt defende, e já me convenceu, uma assembleia nacional constituinte exclusiva e soberana, em que os eleitos não mais poderão ser candidatos a cargos eletivos em sua vida. Para não se arbitrarem privilégios.

DdAB
Apêndice
Já que o mote é Bolsonaro, dá uma olhada no que segue retirado ao mural de Carlos Horn no Facebook.
Nenhum texto alternativo automático disponível.

06 setembro, 2018

Repúdio e Solidariedade: só Bolsonaro pode provocar os dois


Querido diário:
Olha o que Róber Iturriet escreveu em seu mural há 19 horas (ainda não se falava em atentado, o que lamento!:
1. Globo reuniu-se com o Bolsonaro.
2. MP foi para cima do Alckmin.
3.PGR aliviou Bolsonaro no episódio da incitação à violência .
4. Temer deu o beijo da morte no Alckmin.
Parece que os ventos mudaram entre aqueles que detêm o poder.

E olha o que Cristiano Abreu comentou:
A candidatura do Bozonaro é DESCONSTRUÍVEL. Mais fácil do que parece. Dizer q ele é machista, racista, homofóbico não é eficaz. Ele assim se declara e os espíritos regressivos se identificam e o acham "sincero". O importante é mostrarmos suas FALSIDADES.
Ele se diz outsider, mas é deputado federal a 27 anos com 2 projetos aprovados: rendimento medíocre p um ser q vive mamando no Congresso sem NADA FAZER.
Seus filhos todos tb entraram na política, com aumentos de patrimonio q chegam a mais de 430 por cento.
Dos seus projetos NENHUM trata de Segurança, seu tema fetiche, sendo ele deputado federal pelo RJ, NADA propôs, organizou ou conseguiu no tema p seu estado.
Economia: ele seria uma continuidade(piorada!) do Temer: presidente que colocou no Alvorada com seu inesquecível voto no impizza (com seu amigo: Eduardo Cunha). Menos empregos, destruição dos direitos: ele seguiria o q vivemos nesse desgoverno q colocou. As pessoas costumam perceber quem defende emprego e renda e quem os destrói: como a campanha do chuchu não consegue esconder. E esse é um tema CENTRAL.
Nacionalismo. Outra FRAUDE do bozo: q gosta de se arrotar patriótico, mas defendeu q "entreguemos de vez a Amazônia" aos amenricanos. Apoiou a prisão do Almirante Othon, responsável pelo submarino nuclear brasileiro na "Sujajato". ( que militar apoia o desmantelamento do programa Nuclear de seu país??? Um militar IMPATRIOTA!!!). Operação sujajato q já deu 6 Bi dólares de indenização, só de empresas produtivas e BRASILEIRAS, p os EUA. Ele se diz nacionalista mas nada vê aí. Nessa operação que destruiu CENTENAS de MILHARES de empregos industriais no Brasil, na cadeia de petróleo e gaz, ANIQUILANDO a indústria naval brasileira ( destruição concentrada no SEU estado Rio de Janeiro) e o colonizado do Bozo, TRAVESTIDO de "nacionalista" não vê que há um ATAQUE ao Brasil originário na Sujajato. Com o juiz Moro indo sempre p os EUA receber treinamento no Departamento de Justiça sobre "lavagem de dinheiro"(nos EUA: país q tem tal lavagem liberada em 4 estados!!!). Depois esse juiz volta e só persegue empresas brasileiras e produtivas. Que juiz norte-amenricano faria "treinamento" em outro país e depois faz uma operação interna a destrir CENTENAS de MILHARES de postos de trabalho???
Nos EUA Moro iria p cadeira elétrica!!!
Mas o bozonaro, ex militar IMPATRIOTA q se TRAVESTE de nacionalista, apóia a SujaJato(como TODO IMPATRIOTA).
E, corerentemete, votou CONTRA o Regime de Partilha do Pré-Sal deixado pelo Lula ( esse Sim: NACIONALISTA: com 50 por cento de Tudo p Petrobrás, conteúdo nacional obrigatório nas peças industriais p retirar o petróleo e Fundo Soberano p Saúde e Educação, inspirado na Noruega). o Bozonaro votou CONTRA tudo isso, a favor da entrega mesmo de TODO o petróleo às petroleiras gringas... que como todos sabem: Não são corruptas! Não compram juizes nem deputados nos países aonde se descobre petróleo.
Para o Impatriota colonizado do Bozonaro a corrupção é um problema exclusivo do Brasil, quase genético! Bem sintonizado com os midiotas da globo q se odeiam, Odeiam o Brasil(q Tanto MELHORAVA).
Essa mídia Jamais irá tocar nesses pontos que destrõem Bozonaro.(pois o criaram, criando a Crise brasileira: geraram o clima de q o "Brasil é uma mer..", estimulando o surgimento do "Tiririca Nazi". Pois com o "Horror" q foi o PT, o Brasil saiu da 14° economia do mundo p 6°, a Petrobrás valia 15 Bi em 2003 e em 2014 MAIS de 250 BI, o Brasil parou de pedir dinheiro ao FMI e virou CREDOR do FMI... Enfim, o PT "quebrou o Brasil" e como todos Lembramos "nossa vida só piorou nos governos do PT". Era preciso parar com isso...). Logo é nossa tarefa difundir tais Verdades, pois essa mídia, longe de ser "contra o Bozonaro", o TiriricaNazi, ela O CRIOU.

Pois a verità é que lamento o atentado, sou pela paz, sou contra a violência, etc. Por isso sou contra a candidatura de Jair Bolsonaro.
DdAB
P.S. Expressando meu espanto, escrevi aquele título para a postagem. Fui buscar uma imagem, como de hábito. E achei que a chamada para o Google Plain era a melhor imagem. Um milhão de documentos com o título, os primeiros tratando, lógico, do atentado a Jair Bolsonaro.

01 setembro, 2018

A Fraqueza da Base Jurídica da Condenação de Lula pelo Apartamento

Querido diário:

Meu amigo virtual Jorge Eduardo Huyer hoje em torno do meio dia publicou o texto que segue lá no Facebook. Trouxe para cá, por achá-lo muito significativo.

Texto da minha amiga advogada Débora Spagnol:
"Entendo e sou totalmente a favor de diálogos. Mas nesse caso não quero me envolver.
Só gostaria de contribuir com o seguinte: eu li todas as peças do processo: a acusação, a defesa, a sentença de primeiro grau, a apelação e a sentença de segundo grau.
Entendo que o Moro - além de ser o juiz incompetente da causa, que deveria ser julgada pela justiça estadual da localização do imóvel - não conseguiu descrever qual benefício Lula recebeu e em troca de qual ato. Então condenou com base numa teoria alienígena, com base em “atos de ofício indeterminado”.
E fez isso pq de acordo com a nossa legislação Lula jamais seria condenado: não há provas, só as convicções do menino do power point.
Por isso o caso de Lula é visto por inúmeros juristas de peso - nacionais e estrangeiros - como um caso autêntico de law fare - utilização do judiciário para fins políticos.
Assim, por entender que Lula está preso injustamente por um processo de exceção - pensamento aliás compartilhado por milhares de pessoas que o veem como o melhor candidato e portanto gostariam de ter a oportunidade de votar nele - entendo que o argumento de que “Lula não pode concorrer porque é um presidiário” é sim um sofisma utilizado para fins políticos dos demais eleitores.
O próprio fato de terem antecipado o julgamento da inelegibilidade para hoje - às vésperas do início do horário eleitoral atropelando todos os prazos é uma clara demonstração do estado de exceção que vivemos.
E não precisa ser petista para entender dessa forma: basta querer ver com olhos de justiça."