23 outubro, 2014
Indústria Nacional: magia e ideologia
Querido diário:
Retorno ao tema da desindustrialização e das propriedades mágicas atribuídas por muitos estudiosos do desenvolvimento econômico à indústria em uma economia nacional.
Tudo começou com uma postagem de Leonardo Monastério em que ele informa sobre a divulgação de um trabalho que fez em coautoria com Guilherme Matoso Macedo (aqui) e constata que um emprego em uma indústria moderna cria seis empregos nos serviços. O texto para discussão intitula-se "Multiplicador local do emprego: mesorregiões brasileiras (2000-2010)". Tem muita coisa a discutir no artigo, mas creio que uma razão arguida para explicar o caráter explosivo desse multiplicador (um para cinco ou seis) é que o setor industrial moderno gera elevados salários e, como tal, induz o crescimento dos serviços. Fiquei pensando que o caráter factual brasileiro desta regularidade não deve obscurecer alternativas criativas de geração de renda em regiões de baixo desenvolvimento econômico. Por exemplo, na Inglaterra, todo o processamento da papelada do trânsito (certificados de propriedade do veículo, essas coisas) são processadas em uma região distante da Grande Londres. Claro que isto gera renda e os funcionários públicos irão procurar restaurantes, escolas e outros serviços.
De sua bibliografia retirei outro texto para discussão do IPEA (n. 1681, intitulado "Desindustrialização precoce e sobrevalorização da taxa de câmbio"). Fala-se a indústria exerce "impacto no avanço e na difusão tecnológica, na produtividade, na produção de outros setores e na própria renda per capita". Fiquei pensando: não precisa ser indústria nacional para gerar avanços e difusão tecnológicos, nem na produtividade (PIB por trabalhador), nem mesmo na produção de outros setores. Claro que na renda per capita isto ocorre, pois os bens gerados pela indústria não são inferiores, não é mesmo? Parece-me que este tipo de argumentação (não a de Macedo e Monastério) supõe que a indústria precisa ser nacional: produtos importados não teriam impactos sobre o sistema industrial/produtivo local. Ou seja, um trator não precisa ser produzido no Brasil para elevar a produtividade da lavoura de soja do Matto Grosso.
De outra parte, parece óbvio que um Ministério do Comércio Exterior ou um Banco Brasileiro de Comércio Exterior poderia/m lidar adequadamente/especular com a desvalorização do câmbio originária de um grande volume de exportações devidas a circunstâncias favoráveis fortuitas, como o petróleo do Mar do Norte e a Holanda ou ainda a soja de Matto Grosso e outros produtos agroindustriais nacionais. Mas, para deixar tudo mais difícil, o câmbio brasileiro obedece a um elenco de restrições macroeconômicas destinadas a elevar o consumo de cachaça (impacto direto na indústria de bebidas...)!
DdAB
A imagem veio daqui e mostra quão angelical é a indústria local...
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