30 dezembro, 2013

Por Farta Dágua (a culpa é do preço pelo curso médio)


Querido diário:
Há anos, fiz render espantosamente o exame das consequências lógicas de algo que, na realidade realmente real, não foi bem o que li nas vetustas escadarias do Museu Britânico. Lá não dizia algo como "Se você não  contribuir para a manutenção do museu, teremos que começar a cobrar pelo ingresso". Primeiro, achei que era uma ideia a merecer uns bons tragos ("pints of bitter", como diria um deles): se tu não paga, então não podemo sustentá o cerviço e tu tem que passá a pagá.

Digamos que isto tenha ocorrido por volta de 1990-1995. Em compensação, lá por 1978, eu era estudanate do mestrado em economia industrial da University of Sussex, naquele mesmo reino que abriga os saques que os britânicos fizeram mundo afora. Ganhei muita coisa daquela minha primeira abordagem ao mundo acadêmico de grau de decência muito superior ao que se encontrava contemporanemente em Porto Alegre, onde eu já ganhara o grau de Magister in Artibus, ou melhor, ganhei o de Mestre (PPGE/UFRGS) e este de Master of Arts ganhei-o mesmo foi lá de Sussex, a chamada universidade vermelha.

Pois bem, uma das coisas que estudei naquele período difícil foi a teoria da formação do preço em diferentes tipos de mercado. Entre eles, claro que um economista industrial deve saber que as "utilidades públicas" devem mesmo ter o preço formado pelo custo marginal, ou alguma combinação razoável com o rateio para pagar os custos fixos. Note-se que a fragmentação infinita (cada milímetro adiante no trajeto é mais caro do que o precedente) é tão estapafúrdia como aquela de pressupor que pobre mora na periferia e, como tal, o preço da tarifa do ônibus deve ser calculado com base no custo médio da operação.

Em compensação, a p. 4 do jornal Zero Hora de hoje tem uma reportagem sobre o calor e a falta de água. Simplesmente a incúria é tão estapafúrdia no Brasil que ano após ano farta água para a lavoura e farta água para a negadinha usar como bem lhe aprouver (lavar automóvel, beber, banhar-se chez elle ou no clube, e por aí vai). Mas se fosse apenas água, ainda poderíamos capturar hidrogênio e oxigênio do meio ambiente, submeter ambos a baixas temperaturas e gerar água, não é mesmo? Claro que não, pois também há carência de oferta de energia elétrica. Dois serviços de utilidade pública ou privatizados ou dirigidos por políticos detentores de cargos em comissão.

Literalmente, diz o jornal numa das chamadas da matéria:

"Culpa é do calor e do consumo, diz empresa"
"[...] Segundo a Corsan (Companhia Riograndense de Água e Saneamento), o desabastecimento ocorre devido às altas temperaturas e ao consumo excessivo de água."

Em outras palavras, a turma dos cargos em comissão está certa de que, caso não haja calor nem consumo, então não faltará água. Só bebendo!

O que falta mesmo é:
.a. vergonha na cara para os governantes e
.b. conhecimento de promover o racionamento (dentro de limites razoáveis, nunca como instrumento de aliviar a incompetência geneticamente implantada nos políticos, ano após ano, geração após geração) por meio do estabelecimento de uma tarifa adequada.

DdAB
P.S. entre os rendimentos retóricos e sarcásticos daquele negócio que se não contribuíres espontaneamente para a manutenção do museu, haverá cobrança de bilhete de ingresso, surgiu meu artigo sobre a obrigatoriedade do uso da gravata: devemos usá-la, a fim de impedir que seu uso seja obrigatório.

Imagem? Rei do Baião do YouTube, claro.
https://www.youtube.com/watch?v=cWiJL0_yj9c

27 dezembro, 2013

Ulysses em Alemão: Parte II

Querido diário:

A postagem anterior (aqui) teve uma visualização extraordinária. Fico a imaginar quantos terão sido frustrados pelo conteúdo, especialmente dado o fato de que a marquei como "Besteirol", um dos marcadores que mais utilizo para o pensamento político dos homens de escol do Brasil.

Basicamente, peguei uma passagem da página 362 da tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro. Estávamos no capítulo 12, intitulado "Os Cíclopes". Ei-la:

Nationalgymnasiummuseumsanatoriumandsuspespensoriumordinaryprivatdocentegeneralhistoryspecialprofessordoctor Kriegfried Ueberallgemein

Se bem entendo dessas coisas, parece-me que estamos falando de um indivíduo humano. E que nos diz a tradução de Antônio Houaiss na graficamente linda 13a. edição datada de 2003? Primeiro fala-nos a linda capa de Evelyn Grumach, que compartilha com João de Souza Leite o "projeto gráfico". São lindos o projeto e a capa. E também é interessante a decisão de não dar nomes aos bois, ou melhor, entramos direto no capítulo 1, com aquele "Sobranceiro, fornido" (daqui) e chegamos à última página precisamente com aquele Trieste-Zurique-Paris, 1914-1921. (Mudou com relação ao que vimos na postagem recém referenciada, que lá havia alguns detalhes). Aliás, aqui falta até um índice, ou seja, informar onde é que começa, digamos, o 12o. capítulo sem nome. Achei-o à p. 399, de um suposto capítulo 12 que começa à p. 378:

Nationalgymnasiummuseumsanatoriumandsuspespensoriumsordinaryprivatdocentgeneralhistoryspecialprofessordoctor Kriegfried Ueberallgemein

Resumo até agora: a tradução de Bernardina é cheia de notas e meandros, aparentemente seguindo comentadores os mais refinados. E as divisões em partes e capítulos são sabe-se lá o quê, pois devem seguir as diferentes versões em língua inglesa, com mais ou menos aquiescência do próprio James Joyce. Ainda assim, voltarei a comentar aspectos do trabalho/edição dela (comparando, talvez, com os dois marmanjos) em que me parece haver carência de explicações. Um comentador, milhões de comentadores, milhões de milhões de comentários possíveis.

Finalmente (e já não é sem tempo...), temos na tradução da editora Penguin, agora na p.

Nationalgymnasiummuseumsanatoriumundsuspespensoriumsordinaryprivatdocentegeneralhistoryspecialprofessordoctor Kriegfried Ueberallgemein

Disse-me o sr. Adalberto de Avila: è vero? Haverá erros de transcrição daquele quilométrico título?

DdAB
Achei que a imagem daqui não destoa dali.

23 dezembro, 2013

Ulysses, Agora em Alemão

Querido diário:

Lendo atentamente a p. 362 da tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro, fiquei a indagar-me se este negócio estava lá no original assim mesmo:

Nationalgymnasiummuseumsanatoriumandsuspespensoriumordinaryprivatdocentegeneralhistoryspecialprofessordoctor Kriegfried Ueberallgemein

E, se estava, preciso saber se aquele "and" perfeitamente visível lá pelo quilômetro 123 daquela palavra era mesmo "and", "und" ou mesmo "metilfenilamina".

DdAB

Pedi ao Google Images alguma coisa com aquele simples Nationalgymnasiummuseumsanatoriumandsuspespensoriumordinaryprivatdocentegeneralhistoryspecialprofessordoctor. Nada veio. Então pedi National e o resto. Nada veio. Parti novamente com  gymnasium,  museum, sanatorium, etc. E a primeira imagem que pintou foi a que selecionei daqui. Era o Yoyogi National Stadium, que é como se diz -presumo- em japonês aquela encrenca do herr professor doctor Ueberallgemein.

21 dezembro, 2013

Mario Giacomelli Colorido na Costa do Rio Uruguay

Querido diário:

Se uma enorme surpresa foi encontrar a maravilhosa foto de uma natureza morta em plena costa do rio Uruguay, mais surpresa ainda antecedeu o achado. Achada na internet, no endereço que já nos cedeu aquela d'"Il Bambino di Scanno", agora vemos esta espetacular foto colorida de Mario Giacomelli. Quem disse que grandes fotógrafos abominam a cor?

Para visitar a galeria de Mario Giacomelli, clique aqui.

Tem muito fotógrafo laureado com fotos coloridas, mas as melhores são poucas... Aqui (na última, quinta, foto) há um exemplo em que se retratam, em carne e osso, atores locais...

DdAB

18 dezembro, 2013

Corujão: clientes onívoros


Querido diário:

Um capítulo importantíssimo da história da humanidade acaba de encerrar-se para mim, dias atrás, quando me dei conta da razão que levou o "Bar e Restaurante Corujão", da Rua Salgado Filho, de Porto Alegre, nos anos 1960 e até mais. Ou melhor, dei-me conta de que criara uma hipótese muito interessante sobre as razões que levaram os idealizadores do projeto a chamá-lo de "Corujão".

É que o bar-restaurante, além daquele chopp que era declarado com o melhor da cidade -entre tantos outros -, também servia seus petiscos (tira-gostos) que incluam carne de rã, rã frita. Muita gente, por achar a iniciativa um tanto nauseabunda, não as ingeria. Confesso que, atraído pela novidade, atraído pela ideia de romper com preconceitos alimentares, atraído pela noção de cadeia alimentar (avant la lettre), mandei ver os crocantes bichinhos mais de uma vez.

O bar decaiu, chegou a virar local de encontros econômicos (mercado de entrevistas íntimas, por assim dizer), passou por alguns tropeços que não me preenchem a memória contemporaneamente.

De minha parte, não sei se acho o nome "Corujão" para um local que permite aos bípedes pensantes muito bem achado. Até dá vontade de engajar-me nas práticas vegetarianas, o que - parece - estou deixando para nova reencarnação, se a ela credenciar-me. Hehehe.

DdAB
A imagem veio-me daqui.
P.S.: parece que sou forçado a tirar férias natalinas, voltando antes do final do ano.

17 dezembro, 2013

Minha Foto Mais Marcante


Querido diário:

Naturalmente a foto mais marcante na vida de um economista não necessariamente é aquela que ele reputa de "a melhor foto", nem, menos ainda, talvez, a melhor foto já sacada por um bípede pensante. A que mais me marcou serviu inclusive para mostrar-me aquilo que levou Roland Barthes lá naquele livro "A Câmera Clara" a falar em studium e punctum. O studium, se bem lembro, é a visão geral que te impacta como um encontrão. De sua parte, o punctum é algo que te fere como uma flecha. Na foto que Mario Giacomelli tirou em 1957 e chamou de "Il Bambino di Scanno", meu studium é a enorme harmonia provocada pelo menino que se encontra no centro geométrico de tudo, sua retaguarda (dois padres) e sua vanguarda (duas beatas).

Meu punctum, aquilo que me leva a pensar em tudo, vida e sociedade, tecnologia e miséria, beleza e barriga dágua, não é mais do que o equilíbrio do menino: ele está anda com as mãos nos bolsos, encontrando-se em plena passada, com o pé direito na terra e o pé esquerdo no ar.

DdAB
A imagem veio daqui. Seu tamanho original é de 55,0 x 39,9 cm^2.

14 dezembro, 2013

Acelerar na Curva

Querido diário:

Hoje mesmo ouvi alguém dando um conselho para um proto-infante: aprender a acelerar na curva. Claro que, na devida idade, estaremos falando de naves espaciais e, talvez nelas, estas precauções mostrem-se um tanto desnecessárias, uma vez que a ação gravitacional de astros e mesmo naves próximos/as não sejam tão decisivos quanto um bom automóvel V-8 de Fórmula 1 daqueles tempos, 1938, se me não engano.

Mas, mais mundanos, se falarmos naqueles carros terráqueos, um conselho como este "Acelerar na curva!" tem muito de enganador, pois não estamos falando em entrar na curva acelerando, o que -dada a tecnologia vigente naqueles tempos- representava o primeiro passo para a compra de um esquife. De qualquer modo, os tempos antigos viam certamente no sangue dos vencedores a capacidade de escolher milimetricamente o ponto da curva em que se pode voltar a acelerar com ganas de acabar com a farra dos competidores.

DdAB
Imagem daqui.

12 dezembro, 2013

Desindustrialização e a denúncia da deseducação


Querido diário:
Ontem nem postei propaganda do seminário que apresentei no PPGE/UFRGS. Se nosso olho é agudo o suficiente, ele alcançará os dizeres de seu site, bem como meu título: "Desendustrialização denuncia Deseducação", tema que venho tratando por este planeta há um bom tempo. O seminário agora resulta no passado e foi muito bom: uma audiência atenta, questões embaraçosas e elogios constrangedores ao conteúdo e a minha própria pessoa. Que fazer? Às vezes a bebida não é para aliviar os males da política, mas para comemorar os bens da vida vivida.

Nem falarei mais detalhadamente sobre os conteúdos nem as questões que me foram endereçadas. O que posso afiançar é que, se minha carga horária de aulas tivesse sido de duas horas de aula por ano (como foi neste 2013, se não me engano), lá estaria eu, convivendo mais com os colegas e, principalmente, os jovens. Sempre digo que aluno não envelhece. Hoje novamente notei a sapiência deste postulado. Meus colegas presentes, claro, envelheceram, mas os alunos permanecem mediando os 20 anos.

Mas um ponto pareceu relevante: alguém falou que educação pode não ser tão importante como variável estratégica. Pensei no que já andei comentando ter ouvido na rádio BBC em meus tempos de chegada a Oxford, vale dizer, início de 1989: a educação te permite descobrir teus objetivos na vida e a ter energia para lutar por eles. Segue-se que a deseducação é bem o que vemos no Brasil: um bando de escabelados roubando por meio da política.

DdAB

11 dezembro, 2013

Caso de Polícia de 11.12.13 :: mais bagatelas


Querido diário:

Investindo-me de pacienciosa paciência, dei umas olhadas na Carta Capital de hoje, que recebi há dias, mas não pude olhar antes por razões pacíficas. Vi o editorial de Mino Carta e a seção "A Semana", com a distinta data de 11.12.13.

Disse Mino Carta às linhas tantas da p. 22:

Na Itália, sublinho, José Genoíno seria um herói celebrado por ter lutado contra a ditadura civil-militar, assim como o foram os partigiani da Resistenza nos derradeiros anos da ditadura fascista. [Itálicos no original].

Eu fiquei pensando: será que heróis celebrados por luta contra ditaduras não pecam? não prevaricam? não são condenados? não vão para a cadeia? "Cada um diz o que quer", concluí.

Em compensação, na p. 26 lê-se:

Dirceu, por sua vez, desistiu do cargo de gerência em um hotel de Brasília, emprego que lhe renderia o direito de sair do presídio durante o dia e a bagatela de 20 mil reais mensais para alguém com seu currículo.

Desta vez, antes de pensar (sou sabido...), fui ao dicionário: bagatela, em dois verbetes, é "ninharia, coisa sem préstimo, valor ou significância". E aí reli a frase: "alguém com seu currículo", cá entre nós, não poderia pegar o emprego de diretor administrativo de um hotel, não é mesmo? Será que eu conseguiria, nessa função, desempenhá-la, convidando governadores e ministros para lá se hospedar? "Bagatela", 20 mil? Será que eu seguiria cumprimentando os amigos do bairro, sorridente e solícito, se ganhasse estes estipêndios realmente nababescos? Será que ainda irei parar no presídio? Será que será? E aí parei, antes que me joguem numa prisão política.

DdAB

Imagem: peguei-a do site do Bistrot Bagatelle de Sampa.

09 dezembro, 2013

Hai kai n. 40

Querido diário:

A p. 46 do livro da L&PM deixa-se ler como:

MILLÔR

O CÉTICO SÁBIO
SORRI
SÓ COM UM LÁBIO

E o Planeta 23 trova com:

Só com um lábio
Apontou o milionário
o devedor atrabiliário.

DdAB
Imagem é daqui. E não pude evitar pensar nos eventos do futebol de ontem em Joinville, ou o que o valha. Tem muito atrabiliário em todos os cantos. Eu mesmo vivo enfurecendo-me contra os políticos.

06 dezembro, 2013

Mensalão: o lado bom

Querido diário:

Um troço legal desta encrenca do "Mensalão" é que escancarou-se escabeladamente a inoperância do poder judiciário brasileiro. Tem gente que diz o contrário, impelida por uma visão excessivamente otimista (wishful thinking) das coisas brasileiras. O processo levou quase 10 anos para chegar a um desfecho, aliás nem chegou a desfecho, pois a comédia segue em vários foros (sem trocadilho).

Morosidade, leniência. Nada tenho a ver com leniência (nem mesmo chego a ser leninsta, cabendo-me -no máximo- o epíteto de lennonista, dado meu amor pelos chamados "rapazes de Liverpool"). Mas veja só: eu mesmo tenho umas cinco ou seis questões engavetadas em diferentes instâncias da vida judiciária. É para bater com as 10, e ainda pedir um copo de café preto com cachaça. A solução, já sabemos, é fazer um convênio com a empresa júnior de alguma faculdade de direito finlandesa que se encarregaria de administrar (prever, planejar, organizar, coordenar, comandar, controlar) a justiça no Brasil.

Por que filosofo? Este infindável descalabro dos preços do "Mensalão": receberam os mais altos dignitários do país em seu xilindró: deputados, senadores, ex-presidente da república e o governador de Brasília. Depois veio a farsa do emprego de José Dirceu, a aposentadoria de José Genoíno, a fuga de um trânsfuga cujo nome agora (sem trocadilho) me foge.

Com esta encrenca das prisões lotadas e antecâmaras do inferno para a classe baixa, inventou-se o "regime semiaberto", uma ideia que fracassou rotunda, completa e estrondosamente, mas que agora serve às mil maravilhas também para a classe alta, políticos de escol. Faltam, porém, milhares de réprobos. Regime fechado para todos, mais dinheiro nas cadeias, mais empregos de guardas, dentistas, lavadeiras e cozinheiras nos presídios. Mais eficiência da justiça! Mais cachaça com café, só que desta vez sem o café, meu!

DdAB
Imagem: aqui.

04 dezembro, 2013

Hai Kai n. 39

Querido diário:

Disse-nos o proverbial hai-kai composto por

MILLÔR
PROBLEMINHAS TERRENOS:
QUEM VIVE MAIS
MORRE MENOS?

De sua parte, o Planeta 23 trovou:

Planeta 23:

Morre menos
Quem bem segue
Os jovens galenos.

DdAB
P.S.: este terceiro verso de meu hai-kai apareceu-me com tanta espontaneidade que percebi não ser muito de meu vocabulário a palavra "galeno". O primeiro bom sinal foi que estes Google Letras não a sublinhou de vermelho. E o Aurelião confirmou: qualquer médico: então o "jovem" não é ocioso, pois talvez, se nos esquivarmos dos médicos cubanos ou os velhos brasileiros, teremos menos mortes em nossa existência. Vou parando aqui, pois o marcador Besteirol parece querer ativar-se.
Imagem: aqui.

03 dezembro, 2013

Congo: haveria milagre com o setor serviços?

Querido diário:

De acordo com meu banco de dados, o país de menor renda per capita do planeta é a República Democrática do Congo, com US$ 400 (PPP). A participação de seu setor serviços no PIB é de 33,1%, contrastando com os 79,7% da economia dos Estados Unidos. Caso o Congo também gastasse mais, digamos, em educação, saúde, água e saneamento, elevando seu terciário às mesmas proporções do americano, isto levaria sua renda per capita para US$ 1,318.2 (PPP), postando-lhe um aumento substantivo naquela renda per capita abaixo do nível de subsistência mesmo para o caso de um índice de Gini igual a zero.

Claro que há linkages na economia congolesa, não é mesmo? Não se produz água potável ou esgoto sem insumos, mas basicamente, no caso em que o governo force o centro de gravidade do gasto para, por exemplo, a educação, seu tíbio esforço estará semeando o futuro. O que me inquieta é que, por exemplo, se houvesse um imposto de Tobin (sobre finanças internacionais), aportando US$ a cada congolês, fazendo-lhe verdadeiramente este dinheirinho chegar-lhes às mãos, haveria uma mudança tão espantosa que nem poderíamos acreditar!

DdAB
Imagem: aqui, população confere com estes estonteantes 75 milhões. E fiquei a indagar-me de que bacano é a foto daquele 1355 da, adivinho, Societé Nationale des Chemins de Fer, un nom belgique, se bem julgo.

01 dezembro, 2013

Hai Kai n. 38

Querido diário:

MILLÔR:

A CIDADE DURA
NÃO FAZ HOMENS
A SUA ALTURA

Planeta 23:

A sua altura
Não superava
A formosura.

DdAB
Imagem daqui.

28 novembro, 2013

Ulysses: Nova Tradução

Querido diário:
Recebi a muito querida mensagem que segue, originária do e-mail de Adalberto Alves Maia Neto (ver, indo ao verbete "Duilio Aluno"). Enviei-lhe o registro da postagem daqui e ele, Adalberto, fez sua própria tradução, que se fez acompanhar por inteligentíssimos comentários. Recapitulemos o original:

Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.

Diz aí, meu grande amigo:

Minha tradução: “Majestoso, o gorducho Buck Mulligan veio do alto da escada carregando uma tigela de espuma, na qual repousavam cruzados um espelho e uma navalha.”
1.       Stately. Poderia também ser imponente;
2.       Plump. Prefiro gorducho, porque acho roliço muito afetado;
3.       Came from the stairhead. Veio do alto/topo da escada, surgiu do alto/topo. Tem a preposição de e não pode ser no alto/topo, pois ele usou o verbo ‘came from’. Acho também que a melhor tradução seria “veio”, porque ele usou o verbo to come no sentido de surgir, mas também em português se eu falo que veio do alto da escada eu estou dizendo que surgiu do alto. Quer dizer, acho que aqui a expressão mais correta é veio de. Se ele quisesse poderia ter usado ‘emerged’, ‘appeared’, mas não, ele usou ‘came’;
4.       Prefiro do alto, mais direto, mais simples, que eu acho que era o estilo do Joyce;
5.       Bearing a bowl of lather. É exatamente carregando/portando uma tigela de espuma. Quer dizer, ele está dizendo que o sujeito está carregando uma tigela que é usada para por espuma e fazer a barba. Ele não está dizendo, nesse ponto, que a tigela está com espuma. Depois ficamos sabendo que de fato tem espuma na tigela. Mas será que já tinha espuma desde o início. Se tinha, como é que poderiam lay crossed? Não faz sentido imaginar que o espelho e a navalha estavam mergulhados na espuma, né? Mas porque em português eu não mantenho o mesmo sentido do original, ou seja, apenas uma tigela de espuma? Não precisa especificar que tem espuma na tigela. Se ele quisesse ele diria que tinha espuma na tigela, mas ele apenas se referiu ao instrumento, ou seja, a bowl of lather. Também não tem que especificar que a espuma é de barbear. Isso fica subentendido, pois existe a lâmina e o espelho. Ficaria muito sem graça especificar que a espuma é de barbear;
6.       Razor. Razor, apenas razor só pode ser navalha, pois o sujeito não poderia fazer a barba apenas com uma gilete, pois precisaria de algum aparelho para colocar a gilete, e aí o Joyce usaria outro termo. Me parece certo que deve ser navalha;
7.       Lay crossed. Acho que estavam exatamente um (a navalha) sobre o outro (o espelho). Ou seja, repousavam cruzados. Acho que muda a ordem em português em relação ao inglês.

Sigo eu DdAB. Assim terminou o texto, o que nos deixa ver que sua criatividade e verve engendraram soluções ainda não aventadas pelos tradutores anteriores. Parece que estamos, agora, a carecer de um ensaio específico sobre a comparação de meus palpites sobre as melhores palavras da primeira sentença e as de AAMN. Aqui termina a postagem.

DdAB
Imagem: aqui. Vemos nada mais nada menos do que o Edifício Alcides Maya, na Rua Demétrio Ribeiro em Porto Alegre.
P.S. Em 1/jun/2014, mudei o título para Ulysses.

27 novembro, 2013

Hai-Kai n. 37

Querido diário:
Não é bem contrabando: pelo que fiz em matéria de postagens, este ano terá menos do que meu primeiro ano cheio no Google. Ou seja, em 2009, postei 248 vezes. Este ano, se não fizer duas ou mais por ano, não chegarei a este número. Dito isto, vamos aos hai-kais.

MILLÔR
COM GRANDEZA
ELE SE ELEVOU
ÀS MAIORES BAIXEZAS!

Planeta 23
As maiores baixezas
A todas nos leva
Ir na correnteza.

DdAB
P.S.: minha resposta é inspirada nas notícias dos dias que correm sobre a aquiescência do deputado Genoíno aos intensos esforços que "aliados" fazem sobre aposentá-lo com os proventos de deputado federal (R$ 26 mil, pelo que disseram). Uma vez que ele acha que apenas o tribunal de justiça é que está errado, nada há de errado em aceitar esta prebenda, o que o tornará, ainda mais, um sinecurista.
Imagem: daqui. Um ex-guerrilheiro cardíaco e aposentado devidamente excomungado por um site que, mal olhei, corei de ver tanto reacionarismo. É um país sem noção. Nem a esquerda (a deles, a minha segue altaneira) nem a direita têm a menor compostura!

25 novembro, 2013

Filosofia do Ciberespaço

Querido diário:

E no outro dia me dei conta de que os políticos fazem leis, ao invés de buscar a participação societária. Tem lei para tudo, até para dar nome a rodovias, nomes de políticos, naturalmente. Tem mudança na constituição da república para garantir direitos aos descendentes dos seringueiros que deram borracha para armar os exércitos aliados! Só com voto distrital é que se poderá superar esta distorção. Por exemplo, aquele vexame do plebiscito sobre as armas há quase 10 anos indagando se a negadinha pode ou não ter armas. O 'não' perdeu estrondosamente para o 'sim, pode, claro, com tanto ladrão'.

DdAB


24 novembro, 2013

Fino Humor

Querido diário:

.a. a primeira manifestação da finesse do humor brasileiro vi quando, aos 10 anos de idade, tive um colega, em campo grande mato grosso que se chamava Washington e cujo apelido era vasingueton.

.b. há pouco tempo vim a saber que um rapaz de sobrenome Carneiro passou a ser conhecido como Bode.

.c. por fim, li na sensaborona coluna de Keiton (ou Kledir?) na Zero Hora de tempos atrás tem algo divertido (sensaborona? pode sensaborão escrever coisas úteis?) informa que um músico pernambucano (se a memória não falha) nasceu batizado de Kledir (digamos) e recebeu o apelido Kleiton. Ou nasceu Kleiton e foi apelidado de Kledir.

hehehe

DdAB
Esta imagem familiar é pública, não é, não?

22 novembro, 2013

Hai-Kai n. 36

Querido diário:

Segue-se logicamente ao hai-kai n. 35 (aqui) o que numerei como 36:

MILLÔR
EIS O MEU MAL
A VIDA PRA MIM
JÁ NÃO É VITAL.

Planeta 23
Já não é vital
dizer que te amo:
é mau sinal.

E uma variantezinha mais romântica:

Já não é vital
dizer que te amo:
é sideral!

DdAB
Imagem: aqui. Tornei-me Fulgêncio?

20 novembro, 2013

Ministro, o Sr. Roubou?

Querido diário:
Parece-me que foi ao ex-ministro do Trabalho do governo Collor, um sr. Magri oslt que um repórter indagou: "Ministro, o sr. roubou?" E parece que ele teria respondido: "Veja bem." E desenleado uma justificativa de convencer qualquer um, se não de sua inocência, certamente de que levou os limites da dialética (argumentativa) a cânones nunca antes alcançados.

Em compensação, lê-se na p. 14 de Zero Hora de hoje:

Os petistas presos divulgaram uma carta para agradecer ao suporte dos militantes da legenda. No texto, eles declaram não aceitar a 'humilhação' que estão sofrendo.

Lembrei do velho Marquetti: a natureza proveu-nos com uma boca e dois ouvidos, a fim de que ouçamos duas vezes mais do que falamos. E também da sabedoria brasileira: quem muito fala dá bom dia a cavalo. Parece que a justiça brasileira também é desprezada por altos dignitários da república, não apenas deste Planetinha 23.

DdAB
Imagem: daqui. No instantâneo, José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, todos de gravata.
P.S.: amanhã (hehehe, escrevo às 8h29min de 21/nov/2013), a capa do jornal dirá que o congresso nacional, aquele antro de sinecuristas, está pensando em manter o deputado Genoíno em julgamento até que possa aposentar-se por licença de saúde. Só bebendo!

17 novembro, 2013

Sobre Neblina e Sombrinha: aneto, endro e umbelinas

Querido diário:
Importante momento de meu sábado foi quando, em plena sessão do filme "O Mordomo da Casa Branca", a sra. Oprah agradeceu os elogios feitos por uma conviva a um prato (salada de batatas?) feita pela famosa ex-apresentadora da TV. Esta disse não ser sei-lá-quê-outro-tempero-a-conviva-pensava, mas aneto (como apareceu na legenda in Brazil). Fiquei pensando que também poderei valorizar minhas saladas com tal especiaria. Iniciei com o Aurelião: Aneto: não tem o menor registro. Mas o dicionariozinho do MEC (de 1960, I presume) tem e ainda remete às umbelíferas. "Ah, as umbelíferas", pensei.

Segui à internet: tem pilhas. E um deles dá como sinônimo o endro, tempero de meu perfeito conhecimento e que dá um sabor divino a certos tipos de queijo que atenderiam no Brasil pelo epíteto de queijo-prato, para não falar naqueles Gouda, Edam e assemelhados. A Wikipedia brasileira (de onde vem a ilustração que nos encima) tem coisinhas. Mas com esta de "umbelíferas" ocorreu-me que fui aluno da profa. Umbelina, digamos, em 1963, or so, no Colégio Júlio de Caudilhos. Naturalmente, chamavam-na de Neblina ou Sombrinha, dependendo da eufonia desejada.


Aí procurei livre no Google o nome "Umbelina" e veio algo daqui muito elucidativo:


ORIGEM DO NOME UMBELINA

Qual a origem do nome Umbelina: LATIM

SIGNIFICADO DE UMBELINA

Qual o significado do nome Umbelina: PEQUENA SOMBRA.

Ou seja, em matéria de endro, não vemos sombras oficiais na figura, mas não dá para duvidar que, devidamente expostas à luz, aquelas ervas mostrem contornos sombrios. Então será que Umbelina estaria a designar pessoas sombrias? Creio, mais, que poderiam referir-se a pessoas de pele mais escura, morenas. E talvez tenha mesmo tido um colega erudito ao perceber que "umbelina" rima com "sombrinha".

DdAB

14 novembro, 2013

Graça: outro tipo na Grécia

Querido diário:
Volta e meia falo no Graça-Graciliano. Hoje falo em Osman Lins que escreveu um dos mais belos trechos, principalmente, mais engraçados (non-sense) que já li! Explicando-me: Osman Lins fez a maior graça.

No livro "A Rainha dos Cárceres da Grécia", o mundo e sua novela começa no dia 26 de abril de 1974 (na p.7):

   Muitas vezes, durante o último ano, tão penoso e vazio, mencionei aqui a intenção de ocupar as horas vagas, dar-lhes sentido talvez, escrevendo o que Julia -Julia Marquezim Enone- sempre discreta em relação a si mesma, me contou de sua vida, o que testemunhei e o que depois pude saber.

Não está claro que ela morreu, né? Mas não sei se estrago a história ao contá-lo. Vamos mais diretamente ao ponto. Na página 133, estamos em 27 de março de 1975 (eu mal estava começando a parte teórica do curso de mestrado em economia):

Morta Laura, il passato, il presente
e il futuro, tutto gli è tormento e pena

La vita fugge e non s'arresta una ora,
e la morte vien dietro a gran giornate,
e le cose presenti e le passate
mi danno guerra, e le future ancora;
e'l rimenbrare e l'aspettar m'accora
or quinci or [...]

   Não, Petrarca, teu soneto não é duro bastante para celebrar o aniversário, o segundo, da iníqua morte de Julia, esmagada, cinco meses depois de dar por terminada a sua obra, sob um caminhão GM de cor verde, chassi de oitocentos e oitenta e dois milímetros, eixo dianteiro tipo viga em I (capacidade três mil, setecentos e cinquenta quilos), eixo traseiro flutuante dupla redução (capacidade nove mil e trezentos quilos), tanque para cento e quatro litros de óleo diesel, freios a ar, pneus de doze e catorze lonas, carregado, peso bruto total vinte e dois mil e quinhentos quilos.

Claro que isto me evocou a canção de Adoniram Barbosa, "Iracema", em que o rapaz não se conforma com a morte da garota, mas não lhe dá completa razão, pois ela "travessou contramão". Os detalhes do atropelamento teriam sido transmutados pelo texto de Osman, não é mesmo?

DdAB
Imagem vem de .
Esta passagem de Osman Lins marcou-me tanto que já a postara aqui.

13 novembro, 2013

Controlar a Vontade

Querido diário:

Onde é que se encontra um versinho como o que segue?

Quando de repente vem
Vontade de trabalhar
Eu me sento num banquinho
E deixo a vontade passar.

E que tal, então, cultivar a vontade de sorte a reduzir o ódio que devotamos à humanidade quando

.a. fazemos dieta?

.b. fazemos exercícios físicos?

.c. fazemos um break em nossas vidas privadas, a fim de perder tempo estudando?

DdAB
A imagem é daqui.

10 novembro, 2013

"Ulysses" e o Número Platônico

Querido diário:

PROÊMIO
Recebi do sr. Adalberto de Avila uma mensagem no Twitter que abaixo transcrevo. No hológrafo central da nave, ele acrescentou o que intercalei. Parece tornar-se evidente que estamos frente a um dos mais estranhos comentadores das obras de Homero, James Joyce e Bono (bona fide) com que jamais este blog topou, o que é estupefaciente, como se falássemos da política brasileira bicentenária, ou daquele campeonato em que o Grêmio foi rebaixado.

OS PROLEGÔMENOS
Parece evidente que existem três e apenas três (3 = 3 = 3) traduções de "Ulysses", retirando-o da sua -nos dias que correm- pacata Dublim e reposicionando-o sobre o Rio de Janeiro, São Paulo e a própria Brasília. Para termos uma ideia da variabilidade que engolfa o tema, examinemos a sentença inicial da trilogia. Trilogia? Três: número platônico! Antes, vejamo-la na língua original.

Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.


VOLUME 1


Editora Abril Cultural: São Paulo, 1980 (que adquiri nsq [id est, não sei quando, mas antes de 1990, digamos)]). A tradução original circulou com o selo da Editora Civilização Brasileira, em 1966 (que adquiri nsq, mas antes de 1970) foi feita por Antonio Houaiss (que deve ter nascido Antônio e a lei, em 1973 ou algo assim, mudou para Antonio [mas na op. cit. está Antônio mesmo], pois em Portugal até hoje se escreve António). Corria uma piada, que talvez eu tenha lido no respeitado jornalzinho O Pasquim, que Houaiss levou mais anos traduzindo do que Joyce escrevendo. By the way, Joyce escreveu entre 1914 e 1921.

A imagem que vemos acima é mais feinha que a original.

Primeira sentença (página 9):

Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha.

Número de páginas: 852 - 7, ou 846.


VOLUME 2


Editora Alfaguarra/Objetiva: Rio de Janeiro, 2007, que adquiri em 2013 mesmo e estou lendo. Quase desisti quando aquele enterro do capítulo 6 não acabava nunca. A tradução é de Bernardina da Silveira Pinheiro. O interessante da tradução da professora Bernardina (da UFRJ) é que a tradução foi concluída em torno de seu 85o. aniversário. 

A primeira sentença está na página 27, deixando-se ler como:

Majestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados, um espelho e uma navalha de barba.

Número de páginas: 839 - 25 ou 815.


VOLUME 3

Editora Penguin/Companhia das Letras: São Paulo, 2012. Adquiri-o em 2012, coisa rara, pois não me é usual comprar lançamentos absolutos, pelo menos não o faço com a mesma frequência com que pronuncio a palavra "quixeramobim", dando-lhe um sotaque de colono italiano em Bento Gonçalves - RS. A tradução é de Caetano W. Galindo, contendo uma introdução escrita em 1922 por Declan Kiberb, umas 75 páginas que lerei apenas quando a palavra quixeramobim (aqui) tiver como sinônima a permutação mibomarexiuq, que parece asteca. Nesta linha, o Ulisses desta editora pintou como Ulysses (que, ao revés, lê-se como sessylu, como sabemos palavra que significa secilu, em inca e secilou, em francês).

A primeira sentença, depois daquela bruta introdução, posta-se na página 97:

Solene, o roliço Buck Mulligan surgiu no alto da escada, portando uma vasilha de espuma em que cruzados repousavam espelho e navalha.

Número de páginas: 1006 - 93, ou 913.

ESTIMADORES DE VARIABILIDADE
Exórdio
As três traduções mantêm o número de capítulos delineado por ninguém mais ninguém menos do que o próprio autor: 18.

Medidas de tendência central e de variabilidade
Só comentaremos o número de páginas, eis que 18, 18 e 18 têm média 18 e variância nula. Segue-se que a média dos números de páginas de 815, 846 e 913 é 858,3 e sua variância é 5.128,3.


COMENTÁRIOS FINAIS
Tem tanta coisa, tantos comentadores escrevendo, tendo escrito sobre "Ulisses" que até os deuses duvidam. As três traduções brasileiras mostram algumas comunalidades neste aspecto, sendo mais circunspecta a de Bernardina da Silveira Pinheiro. Inclusive, e não sei de onde saiu, um "passo-a-passo" chamado de "Notas", muito útil, ainda que não sacie toda a fome de todos os leitores. Os três contam com material de apoio desenhado por James Joyce para seus amigos, alguns deles. É o que leio nos verbetes das Wikipedias in English e em português. Que posso dizer para concluir? Riulcnoc (em maia).


DdAB
Curiosum I: primeira sentença em inglês, com tradução do Google: "Imponente, gordo Buck Mulligan vinha do stairhead, tendo uma tigela de espuma em que um espelho e uma navalha estava atravessada."
P.S.: este "stairhead" não foi traduzido, né?

Curiosum II: como não acredito sem ver, cito a fonte que me cedeu a frase que não conheço/conhecia no original. Aliás, o próprio original é sujeito a disputas: qual edição é a melhor? Fonte da frase acima está aqui.

Curiosum III: a fonte da imagem é daqui. Todos conhecemos Jon Elster, não é mesmo? Marxismo Analítico, Teoria da Escolha Racional, não é mesmo?

Curiosum IV: este site aqui é maravilhoso. Tão maravilhoso, actually, que antecipou esta minha postagem, com vantagens, inclusive a de não ter nada a dever a Adalberto de Avila... Olha, por exemplo, o que ele diz aqui e que seria inalcançável pela dupla Adalberto-Myself: "As soluções tradutórias são opções criativas. Houaiss, Bernardina e Galindo tiveram, cada um, o seu encontro insubstituível com Joyce. E por isso já não é apenas Joyce em português. Será Joyce-Houaiss, Joyce-Bernardina e Joyce-Galindo." Tornou-se claro que minha tradução preferida, que estou lendo, é a de Bernardina? Não conferi nos demais este troço (termo, aliás, que ela utiliza) dos quatro pontos (ou seja, duas vezes dois pontos), como é o caso de, por exemplo, na página 149: "Um velho ator: bisavô: ele entende do riscado." Acho interessante esta do Joyce-Houaiss, Joyce-Bernardina e Joyce-Galindo, pois nunca falaríamos em Maughan-Érico/Vallandro, e por aí vai! Só vale a pena dizer isto quando são duas ou mais as traduções. Estudo assemelhado deve ser feito naquele Salinger que teve a tradução brasileira do "Catcher in the Rye" como "Apanhador no Campo de Centeio" e a portuguesa como "Uma Agulha num Palheiro".

Curiosum V:
Começamos com isto:
Google
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Civilização/Abril Cultural
Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha.
Alfaguarra/Objetiva
Majestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados, um espelho e uma navalha de barba.
Penguin/Companhia das Letras
Solene, o roliço Buck Mulligan surgiu no alto da escada, portando uma vasilha de espuma em que cruzados repousavam espelho e navalha.


Curiosum VI
Stately: sobranceiro, majestoso, solene. Sou mais majestoso.
Plump: fornido, gorducho, roliço. Gostei mais do fornido. Ou, diria eu, gordacho, que este editor de texto do Windows não reconhece.
Stairhead: alto da escada, topo da escada, alto da escada. Alto da escada é melhor, mas eu preferiria balaústre.
Bearing: ‘com’, trazendo, portando. Ganha o trazendo. Portando não é mau, talvez também coubesse segurando.
Bowl of lather: vaso de barbear, tigela com espuma, vasilha de espuma. Haveria ou não espuma naquela tigela? A bowl of lather não requer necessariamente a espuma, apenas que seja a bowl da espuma. Mas a sra. Bernardina resolveu a questão, talvez, olhando o texto mais adiante: “[...] ele apoiava o espelho no parapeito, molhava o pincel na tigela e passava a espuma na face e no pescoço.” Ou seja, tinha mesmo espuma dentro da tigela. E não era este troço de vaso de barbear e, presumo, nem de vasilha de espuma. Era uma tigela cheia de espuma para se amaciar a barba antes de cortá-la com navalha ou gilete.
Mirror: todo mundo traduziu como espelho. Sabidos.
Razor: todo mundo traduziu como navalha. Naquele tempo já havia giletes, o que deixa-nos – se não pudermos andar adiante nas investigações – em dúvida sobre se o velho Joyce queria mesmo dizer navalha ou gilete.
Lay crossed: se cruzavam, repousavam cruzados, cruzados repousavam. Fico a indagar-me como é que poderia uma navalha cruzar-se com um espelho. Acho que apenas se pode conceber o espelho sobre a navalha ou esta sobre esse. E o mais plausível é o que diz o Google Tradutor: estavam atravessados, ou seja, a navalha estava colocada em ângulo de 45 graus (ou outro acutângulo) com relação às diagonais do espelho.

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P.S. Acrescentado às 22h40min de 21/jan/2014.
Acabo de ver o site aqui. De lá retirei a seguinte capa do Ulisses em tradução não registrada neste meu blog, pois é de Portugal. Mas talvez ainda venha a adquiri-la e lê-la, comparando-a com as três traduções brasileiras.
Diz lá o texto:
Ulisses | James Joyce
2013/12/01 BY DAS CULTURAS
«Ulisses» é um romance de referências homéricas, que recria um dia de Dublin, a quinta-feira de 16 de Junho de 1904, o mesmo em que Joyce conheceu Nora Barnacle, a jovem que viria a ser sua mulher.
Nesse único dia e na madrugada que se lhe seguiu, cruzam-se as vidas de pessoas que deambulam, conversam, tecem intrigas amorosas, viajam, sonham, bebem e filosofam, sendo a maior parte das situações construídas em torno de três personagens. A principal é Leopold Bloom, um modesto angariador de publicidade, homem traído pela mulher, Molly, e, de modo geral, o contrário do heróico Ulisses de Homero.
Joyce começou a escrever esta obra em 1914, recorrendo às três armas que dizia restarem-lhe, «o silêncio, o desterro e a subtileza».
Depois de várias dificuldades editoriais, «Ulisses» seria publicado pela Shakespeare & Company, em Paris, em 1922, no dia de aniversário de Joyce.
«Mais do que a obra de um só homem, “Ulisses” parece de muitas gerações (…). A delicada música da sua prosa é incomparável.» [J. L. Borges, «James Joyce», 1937]

P.S.S.: também vale a pena olhar aqui. É altamente informativo e altamente erudito. E temos esta capa:
P.S.S.S.: e tem mais. Veio daqui, mas não fui capaz de saber mais a respeito. A não ser que não é a mesma coisa: não é o Ulisses de Joyce.
P.S.S.S.: e agora esta, na Edição Livros do Brasil:

P.S.S.S.S. E agora esta que sempre esteve aqui! (Escrevi isto às 18h04min de 4/fev/2014).
P.S.S.S.S.S. Em 1/jun/2014, mudei o título para Ulysses.

08 novembro, 2013

Duplo Luto

Querido diário:
Duplo luto quer dizer: luto e luto, sofro e sofro, sofre-se e sofre-se, baixaria e baixaria. Pois hoje meu afamado jornal tem duas notícias deixando qualquer um de luto:

.a. aquelas fraudes do leite, lembra?, quando descobriram em Ibirubá e outras progressistas cidades gaúchas uma turminha que metia amônia, sei lá, no leite das crianças. Claro que os rapazes disseram que estavam defendendo o leite das crianças. Uma vez que sou contra a pena de morte e mesmo a tortura, sou de opinião que esses rapazes deveriam mesmo era ler uns dez livros de ética e moral.

.b. aquele negócio das mulheres e os animais (aqui), lembra? pois um tribunal disse que o prefeito não tem razão para nomear sua mulher como secretária de estado (e ter criado uma secretaria para recebê-la, a secretaria dos direitos animais). E outro disse que nada a ver, que tudo bem, que a coroa pode ocupar o tal cargo. Creio que o argumento reza no sentido de que o cargo foi mesmo criado para ela.

.c. e talvez um terceiro luto: sou tão inconformado com meus tempos que chego a pensar que sou mesmo um intelectual, hehehe.
DdAB

07 novembro, 2013

Feira do Livro, Blogs, Azar do Brasil



Querido diário:
Ante-ontem foi o dia mais extraordinário da Feira do Livro de Porto Alegre (ver chamada aqui). E ontem o Caderno da Feira do indefectível jornal Zero Hora tem na capa uma sort of entrevista com a escritora Jasmin Ramadan (do multiculturalismo alemão, I presume). Segue-se logicamente que ela teve um livro lançado em "nossa" feira e tem um blog hospedado no Brasil (aqui).

Ou seja, no dia 30 de outubro, estaria em seu blog (que não vi), segundo ZH:

As construções são feitas aqui, em toda parte, muito juntas umas das outras. Há edifícios altos ao lado de pitorescas casinhas decadentes e, em todas as ruas, pequenas e grandes, incontáveis fios de energia pendem como guirlandas, estendidos, às vezes mais esticados, às vezes frouxamente, de um poste a outro [...].

Eu, volta e meia, comparo o Brasil daqui e dali e agora o que me emocionou da sra. Ramadan foram os "incontáveis fios de energia que pendem como guirlandas". É a construção, não é a construção: mostram claramente os serviços industriais de utilidade pública (os fios de energia elétrica, inclusive alta tensão na Av. Ipiranga da sofrida cidade) e comunicações (os telefones, as guirlandas). O lado menos engalanado deste tipo de arcaísmo no trato urbano é o desemprego, a falta de atividade dinâmica na construção civil, o baixo investimento, a baixa demanda derivada: galerias subterrâneas para a fiação. Além de expandirem a demanda por emprego, essas coisas, ela teria a insuspeita vantagem de ver-se menos vulnerável a tempestades e -fenômeno importante- roubo de fios por parte dos detentores de empregos percários.

DdAB
Imagem: minha foto de um tijolo vindo da fábrica portando um buraco e um prego. Fico pensando se é mesmo azar do Brasil que estejamos vivendo o que muitos chamam de desindustrialização (o que, certamente, não é, de acordo com o conceito de Rowthorn & Wells). Recapitulando Rowthorn & Wells: há três itens:
.a. queda do emprego industrial (transformação)
.b. elevação do produto
.c. elevação da participação no comércio internacional.
Quem sabe, ainda não vamos importar tijolos da China?

P.S. Estava eu olhando o Facebook, distraidamente, no dia 23 de fevereiro de 2021 quando li uma chamada a certa matéria clamando por proteção à indústria de alta tecnologia no Brasil. E lá escrevi: 
Eu particularmente indago como é que a indústria de palitos dentais perdeu tanta qualidade, pois aqueles marca Gina e mais alguns outros quebram-se invariavelmente após palitarmos um ou dois dentes.
E ali embaixo temos a figura de um tijolo que comprei, inadvertidamente, em uma loja de materiais de construção em Porto Alegre. Aquele prego de forma côncava com relação à superfície plana (plana?) do tijolo é mais uma prova de que o Brasil precisa mesmo é começar "por baixo": palitos, tijolos e especialmente esgotos para atender a 100% da população e empresas.
Nenhuma descrição de foto disponível.

05 novembro, 2013

Ensaios sobre a Economia Gaúcha: é nóis

Querido diário:
Hoje foi um grande dia, como podemos olhar por AQUI. Trata-se do livro que Adalmir Antonio Marquetti e eu editamos e hoje lançamos na Feira do Livro de Porto Alegre. São 13 ensaios, um deles completamente inédito e os demais reproduzindo (com mudanças tópicas, mas significativas) artigos que fizemos em co-autoria, coadjuvados ou não ainda por terceiros. A casa editora é a Fundação de Economia e Estatística, instituição hoje presidida por Adalmir e onde trabalhei em duas oportunidades entre 1972 e 1987.

O site que já referi acima com aquele clique levando-nos AQUI diz o seguinte:

Os 13 trabalhos selecionados para integrar o presente livro estão organizados em três partes, privilegiando o movimento que leva do conhecimento mais geral ao mais particular, o que nem sempre coincide com a ordem cronológica da divulgação prévia a esta obra. O que importa ressaltar é que, considerando os diferentes tipos de metodologia usados nesses 13 estudos, observa-se um verdadeiro painel de técnicas analíticas voltadas à análise micro e macroeconômica aplicada a estudos nacionais e regionais. Trata-se de um misto de narração de achados substantivos com um depoimento para as gerações futuras de como seus ascendentes profissionais organizavam seu pensamento sobre a realidade tangível.

Além de nossa autoria, os seguintes colegas e ex-alunos tiveram participação maiúscula nos textos:

Anderson Casa Nova
André Marques Moreira
Gustavo Hickmann
Luciano Moraes Braga
Rafael Kloeckner
Vladimir Lautert

E, além destes profissionais, envolveram-se com a materialização de nosso projeto as seguintes pessoas:

Tânia L. P. Angst
Tamini Nicoletti,
Israel José Cefrin da Silva,
Susana Kerschner,
Jadir Vieira Espinosa e
Giuliana da Silva Santos.

Pode-se ficar mais feliz? Diz o gaúcho: isto é melhor do que dinheiro achado.

DdAB

03 novembro, 2013

A Construção Civil Sem Noção


Querido diário:
Por contraste à participação do investimento no PIB do Brasil, a China tem um número astronômico. E a fração do investimento representada por obras e instalaçõesl (construção civil) é de mais da metade. Por contraste, o Brasil -terra do carnaval, futebol e praia- tem até mais da metade. Ou seja, nossa indústria da construção civil é absolutamente desfocada de um tamanho de um país que precisa tanto de bens de capital. Quer dizer, poderíamos importar bens de capital no sentido de máquinas e equipamentos, mas não podemos importar buracos, túneis, essas coisas.

Em compensação, a foto de minha autoria inicia com um pedaço de um automóvel made in Brazil, capital francês, ou multinacional. Vemos o espelho. Depois, vemos uma grade de ferro (ou o que seja, que, no Brasil, precisamos andar cercados dentro de nossas casas e em tudo o mais, pois há guerra civil e o governo precisa ficar pensando em como promover a indústria nacional, deixando o povo para ser promovido, talvez, por multinacionais chinesas, ou o que seja).

Atrás das grades deveriam estar os políticos nacionais, mas o que vemos é uma cicatriz na parede do edificiozinho localizado no bairro Medianeira/Glória em Porto Alegre (lá tem um número que certamente nosso presidente Obama deve saber qual é). Ela cicatriz começa bem à esquerda do que a portentosa foto capturou e segue paralela ao solo, até que, faz um ângulo reto e começa a subir. Depois, como o caminho mais curto entre dois pontos é mesmo uma curva, esqueceu-se que, se todos os ângulos fossem retos ou zerados, seria muito mais fácil de uns buracos daqueles não serem destruídos por outros, inclusive os canos de ar condicionado, água, esgotos, e por aí vai.

Será que os trabalhadores da construção civil e que talvez atuem sob a supervisão de engenheiros tiveram mais de um dia de aula em suas existências?

DdAB
O marcador principal desta postagem é Lixo Urbano (e secundariamente Economia Política). Lixo Urbano? Claro, aquele tipo de obra que potencializa os acidentes no futuro é mesmo uma selvageria urbana. Em compensação, pareço bem ranzinzanzão neste domingo, não é mesmo?