24 maio, 2020

Bater e Rufar


Minha ânsia adolescente de ler todos os livros do mundo, décadas depois de ver nascerem-me os dentes do siso, transformou-se em reler todos os livros que já lera. Na era da pandemia do sr. corona vírus covid-19, tenho feito o possível para andar para frente. Agora mesmo, na quarentena, estou lendo/relendo pela terceira ou quarta vez o notável

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria ([1881], 1999) Memórias póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre: L&PM.

Em compensação, vou falar em lembranças e relembranças, para não falar em lambanças. Aqui no blog andei falando em plágios que pratiquei em diferentes momentos de minha carreira desde que a profa. Abigahil andou elogiando minhas composições lá naquela Escola Zamenhof de Campo Grande, Matto Grosso do Sul.

Aqui? Sim. Por estas bandas (aqui:
https://19duilio47.blogspot.com/2012/06/plagiario-eu.html
e aqui:
https://19duilio47.blogspot.com/2015/09/mais-plagios.html),
andei falando em meus plágios. Para tempos de quarentena, não acho despropositado que @s leitor@s deem uma olhada.

Agora nas bandas de cá (https://19duilio47.blogspot.com/2020/04/uma-estranha-entrervista.html), publiquei uma entrevista que pode ser considerada um plágio criativo de um texto que estava escondido em meu inconsciente e que reapareceu há poucos dias. Mostrei uma estranha entrevista que só pode ser um plágio criativo das "Memórias Póstumas", optando por copiar e colar (plágio?) a versão do Domínio Público/Biblioteca Nacional:

CAPÍTULO LV / O VELHO DIÁLOGO DE ADÃO E EVA
Brás Cubas...?
Virgília......
Brás Cubas.....................................
Virgília..................!
Brás Cubas...............
Virgília............................................................................................................................................................................ ? ......................................................................................................................................................................................................
Brás Cubas.....................
Virgília.......
Brás Cubas.......................................................................................................................................................................................................................................!...........................!...........................................................!
Virgília.......................................?
Brás Cubas.....................!
Virgília.....................!

Pois então. Mais adiante, quando vi aquele

   Fui até a janela, e comecei a rufar com os dedos no peitoril. [...],

gelei, degelei, tornei a gelar. Era nóis, era eu, era um eu agora antigo, duplamente antigo, trazendo-me evocações extra-literárias. Falo de uma história pessoal que testemunhei num ensaio da banda furiosa do Ginásio São José, de Jaguary, Rio Grande do Sul. Meu colega Pablito, sob a batuta do professor de educação física, o tenente Oscar de Oslt, fez um teste para tocar tambor na banda. O requisito era saber "rufar", mas Pablo não sabia mais que bater. Tomou as baquetas em suas mãos e bateu de um jeito que não necessitou mais que um infinitésimo de microssegundo para o tenente desqualificá-lo daquele -como não diria nenhum dos dois, nem eu- endeavour.

Hoje acredito que eu também estava pensando em inscrever-me para bater tambor nos preparativos para aquela parada setembrina de 1961. Mas, ao ver a recepção à mal-formação digital de meu camarada Pablo, lancei-me a um distanciamento, lento mas gradativo, do local do teste. Nem posso dizer que o tenente agiu como militar e não como professor, que saberia eu dizer naqueles tempos de adolescente?

Falei "evocações"? Então, além do "caso Pablito", tem que ter mais coisa, a fim de justificar o plural. Além do assunto das batidas de Pablito, habitante da Mata, então distrito de Jaguary, evoco minha própria experiência na Banda Marcial Juliana, do -como digo- Colégio Estadual Júlio de Caudilhos. Por alguma razão, no ano de 1963, 4a. série ginasial, decidi inscrever-me para os tambores dessa charanga. Havia uma vantagem, para mim, óbvia: quem tocava na banda ganhava de recompensa a dispensa das aulas de educação física, naqueles tempos ministradas no "Campo dos Cadetes", uma área do Parque da Redenção (Parque Farroupilha para os burocratas), Talvez houvesse outras vantagens, mas não lembro mais.

Circunstâncias transversas fizeram-me, nos momentos que antecediam a abertura dos portões para a turma entrar no prédio do "Julinho" para assistir às aulas da tarde, construir amizade com uma turma de rapazes. O colégio naqueles tempos só era misto no turno da noite: manhã para as garotas do hoje chamado ensino médio, além dos garotos que cursavam até a segunda série do ensino então chamado de ginásio. De tarde, postavam-se os rapazes da terceira e quarta séries do ensino médio e os demais cursando o chamado então curso colegial (clássico ou científico). Aquele bolinho que ficava encostado à parede da esquerda de quem olha, até hoje, o prédio de frente, era liderado pelo agora senhor Catatau, cujo nome o olvido roubou-me.

Pois Catatau, ao saber, ou até ao convidar-me para ingressar na Banda Marcial Juliana, indagou se eu sabia "rufar". Claro que sabia, mesmo antes da influência machadiana, rufar no vidro da janela, na beirada da mesa, deitado, sob o travesseiro, sempre com quatro dedos, o polegar às vezes fazendo o papel de bordão. Tampouco lembro de ter feito teste naquelas instâncias, digamos que com dois lápis servindo como baquetas. Claro que, tal qual meu amigo Pablo, fui reprovado: não sabia rufar baquetas, apenas quatro dedos, prr, prr, prr, prrrr e mais o pim-pim-pim do bordão. Tampouco lembro que testes fiz, mas recordo de fazê-lo, já com desenvoltura, no prato vazio do almoço, com dois garfos. Nesse ponto eu já me tornara um bom rufião, digo, um bom rufador...

Fiquei dois anos tocando tambor na banda. No segundo ano do curso científico, abandonei minha vocação rufante e voltei para as aulas de ginástica lá ainda no Campo dos Cadetes. No terceiro ano, não me envolvi em nenhuma delas: passei ao turno da noite, em que a turma deveria trabalhar de dia e, assim, não ter tempo para a cultura física. Foi então que...

DdAB
P.S. Contei, da melhor maneira que minhas atuais acuidades visual e aritmética permitem, o número de pontos constituintes do diálogo extraordinariamente machadiano. E, na hora da conferência, desisti, recorrendo ao PDF baixado daqui (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000167.pdf). Nada garanto, sobre o restante, principalmente, a qualidade da diagramação do livro da festejada editora L&PM. De fato, comparando com o original disponibilizado pela Biblioteca Nacional, agora deslocados de Virgília para Marcela, vemos:

   Não a conheci logo; era difícil; ela porém conheceu-me apenas lhe dirigi a palavra. Os olhos chispavam e trocaram a expressão usual pôr outra, meio doce e meio triste. Vi-lhe um movimento como para esconder-se ou fugir; era o instinto da vaidade, que não durou mais que um instante.. Marcela acomodou-se e sorriu.
[Os negritos foram colocados por mim para distinguir erros de conferência do texto editado pela L&PM, aquele "pôr", infinitivo do verbo que manteve o acento. Se bem lembro, versões arcaicas do Word/Windows corrigia a preposição "por", colocando o verbo "pôr". E aqueles dois "meio", que apareceram lá no site da Biblioteca Nacional (aqui:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000167.pdf)
como "meia". Aí parece a outra sandice: a "fixação de texto": será que o grande Machado não estava mesmo transformando o advérbio em adjetivo?

P.S.S. Na página 234 da mesma obra, temos todo um capítulo (mas que eu transcrevo do arquivo  da Biblioteca Nacional, que, por sinal, dá os capítulos numerados em arábico e não em romano):

CAPÍTULO CLII / A MOEDA DE VESPASIANO
  Tinham ido todos; só o meu carro esperava pelo dono. Acendi um charuto; afastei-me do cemitério. Não podia sacudir dos olhos a cerimônia do enterro, nem dos ouvidos os soluços de Virgília. Os soluços, principalmente, tinham o som vago e misterioso de um problema. Virgília traíra o marido, com sinceridade, e agora chorava-o com sinceridade. Eis uma combinação difícil que não pude fazer em todo o trajeto; em casa, porém, apeando-me do carro, suspeitei que a combinação era possível, e até fácil. Meiga Natura! A taxa da dor é como a moeda de Vespasiano; não cheira a origem, e tanto se colhe do mal como do bem. A moral repreenderá, porventura, a minha cúmplice; é o que te não importa, implacável amiga, uma vez que lhe recebeste pontualmente as lágrimas. Meiga, três vezes meiga Natura!

Machado de Assis conhecia o que não imaginamos! Aquela cita a Vespasiano e sua moeda que "não cheira a origem" aprendi-a lendo notas ao "Capital", de Karl Marx. Mas agora, na Wikipedia, vejo algo diferente do que eu imaginava lembrar. Eu pensava em dinheiro dos banheiros. A Wiki em português é taxativa:
[Vespasiano] Instituiu um imposto sobre a urina humana, ingrediente chave na indústria antiga da lavagem e processamento de tecidos, justificando com a famosa frase: Pecunia non olet (“Dinheiro não tem cheiro”).
E a Wikipedia em inglês parece aproximar-se da versão do "Capital" que referi sair-me da memória:
Vespasian and Mucianus renewed old taxes and instituted new ones, increased the tribute of the provinces, and kept a watchful eye upon the treasury officials. The Latin proverb "Pecunia non olet" ("Money does not stink") may have been created when he had introduced a urine tax on public toilets.
Before Vespasian, this tax was imposed by Emperor Nero under the name of "vectigal urinae" in the 1st century AD. However the tax was removed after a while, it was re-enacted by Vespasian around 70 AD in order to fill the treasury.

P.S.S. A imagem que nos encima é uma referência ao capítulo "O Delírio", uma obra prima que poderia parecer um conto. E muito bela.

18 maio, 2020

270 Introduções à Filosofia: jamais serei Ph.D.


Já cansado de declarar-me estudante de nível intermediário em introdução à filosofia, fui à Stanford Encyclopedia of Philosophy e pedi busca por "philosophy" (https://plato.stanford.edu/search/searcher.py?query=philosophy), pensando já ter-me envolvido na leitura de todas as áreas em que se divide o campo. Vieram 2003 páginas, parece uma data..., com 10 entradas em cada uma. Lendo um verbete por dia, levaria dois meses para cumprir a tarefa monótona, porém celestial.

Pensei que, tendo lido uma pilha de livros introdutórios, eu já teria sido capaz de formar uma visão de conjunto de todo o campo. Muito me enganei, pois há filosofia de tudo, talvez até a filosofia da filosofia da filosofia, jamais chegarei lá... Para iniciar, a primeira é "Latinx Philosophy", um desses "nunca ouvi falar" que tanto me ocorre no lar, na sala de estar, no bar, em todo lugar. E por que este latinório veio em primeiro lugar? Só pode ser blague do algoritmo, que deve ter-me identificado como do lado debaixo do equador, un cucaracho, como falava nosso inesquecível general Figueiredo. Que jamais imaginaria que um capitão igualaria seu estilo escalafobético.

Este Latinx Philosophy aparece conforme reproduzi em seguida. Claro que haverá muitos desdobramentos relevantes que não serão capturados em meu estilo de pesquisa. E, nem sei se é pior, estarei carregando erros vergonhosos, como exemplifico no P.S.S.S. lá de baixo com "undergraduate philosophy", embora exista o "children's philosophy", uma confusão. Seja como for tenho certeza de que a lição é óbvia: jamais passarei do nível intermediário. Eis aqui o primeiro verbete que apareceu, com aquele Latinx:

Latinx Philosophy (https://plato.stanford.edu/entries/latinx/)
of Latinx philosophy in impulses to autochthonous philosophy within Latin American philosophy. 2.3 Latina...characterizes Hispanic/Latinx philosophy as an ethnic philosophy, that is, the philosophy produced by an ethnic... accounts of ethnic philosophy, Hispanic philosophy, and Latin American philosophy. It also faces challenges...


Mas há lições em todas as áreas em que meu terreninho foi dividido. E já começou na primeira página. Eu, que estudei inglês no início dos anos 1970 no Instituto Cultural Norte-Americano de Porto Alegre, alcançando o nível "advanced", nunca ouvira falar no adjetivo "latinx". Uma das boas razões para não ter ouvido foi que ele não existia mesmo. Claro que fui tentar entender o que estava acontecendo e procurei no Google. Este enviou-me para a Wikipedia e rapidamente ficou claro tratar-se de um neologismo (lá no dizer deles) de 2004 abarcando os latino-americanos, as latino-americanas e todos os gêneros envolvidos entre o "o" e o "a". Que fiz com o verbete que acabo de glosar? Tirei as seguintes filosofias (e desprezei aquele "autochthonous philosophy", por excesso de generalidade, na linha de tipo "filosofia terráquea", em que tudo cabe, até a maneira de pensar do presidente Bolsonaro, como sabemos, uma aberração que berra e faz a barba):

.1. Latinx philosophy
.2. Latin American philosophy
.3. Hispanic/Latinx philosophy
.4. ethnic philosophy
.5. Hispanic philosophy.
Dado o confinamento a que fomos submetidos por um processo de globalização de tudo - riqueza, pobreza, saúde e doença - achei de achar-me no tempo ocioso e fui pesquisar essas 2003 entradas na Plato. Ao iniciar a mexer na encrenca, andei bastante para frente e cheguei a pensar no que haveria no verbete 1947, meu ano de nascimento. Ele poderia guardar algo numerologicamente especial. Mas não tive paciência de girar a roleta até chegar por lá. Então decidi fazer um experimento com os 150 primeiros entradas (ou seja, umas 15 entradas). Só no confinamento!!! E aqui vão os 270 resultados que encontrei.

18th Century German Philosophy Prior to Kant
Academic philosophy
Adam Smith’s Moral and Political Philosophy
Aesthetics
African American Philosophy
African Philosophy
African Sage Philosophy
Afro-Caribbean Philosophy
Akan Philosophy (ethics and political...)
Akan Philosophy of the Person
al-Farabi’s Philosophy of Logic and Language
al-Farabi’s Philosophy of Society and Religion
America’s Analytic Philosophy
American philosophy
American pragmatist philosophy
Analytic Philosophy
Analytic Philosophy in Latin America
Analytic Philosophy of Technology
Ancient Philosophy
Ancient Political Philosophy
Applied or practical philosophy
Applied philosophy
Aquinas’ Moral, Political, and Legal Philosophy
Arabic and Islamic Natural Philosophy and Natural Science
Arabic and Islamic Philosophy
Arabic and Islamic Philosophy of Language and Logic
Arabic and Islamic Psychology and Philosophy of Mind
Arabic philosophy
Arabic philosophy and Averroism
Aristotle's philosophy of mind
Aristotle’s Natural Philosophy
Asian philosophy
Autonomous philosophy
Byzantine Philosophy
Chinese Philosophy
Chinese Philosophy and Chinese Medicine
Chinese Philosophy of Change (Yijing)
Chinese Philosophy: ethics
Chinese Philosophy: legalism
Chinese Philosophy: Mohism
Chinese political philosophy
Christian Philosophy
Civil philosophy
Classical Indian Philosophy
Comparative Philosophy: Chinese and Western
Computational Philosophy
Confucian Japanese Philosophy
Contemporary philosophy of art
Continental philosophy
Critical philosophy
Cross-cultural philosophy
Daoist philosophy
Dewey’s Moral Philosophy
Dewey’s Political Philosophy
Doxography of Ancient Philosophy
Ecofeminist Philosophy
Einstein’s Philosophy of Science
Environmental Philosophy
Epicurus' philosophy
Epistemology
Epistemology in Chinese Philosophy
Epistemology in Classical Indian Philosophy
Ethics
Ethics and social/political philosophy
Ethnic philosophy
Ethnophilosophy
Experimental Moral Philosophy
Experimental Philosophy
Feminist Environmental Philosophy
Feminist Epistemology and Philosophy of Science
Feminist History of Philosophy
Feminist Philosophy
Feminist Philosophy of Biology
Feminist Philosophy of Language
Feminist philosophy of law
Feminist Philosophy of Religion
Feminist Political Philosophy
Formalist philosophy of mathematics
General philosophy of science
Greek philosophy
Greek political philosophy
Greek Popular Philosophy
Greek Sources in Arabic and Islamic Philosophy
Hermeneutics
Hispanic and Latino/a philosophy
Hispanic philosophy
History of Philosophy
Hobbes’ Philosophy of Science
Hobbes’s Political Philosophy
Hume’s Moral Philosophy
Ibn Rushd’s Natural Philosophy
Ibn Sina’s Natural Philosophy
Imperial Chinese philosophy
Indian Buddhist Philosophy
Indian philosophy
Influence of Arabic and Islamic Philosophy on Judaic Thought
Influence of Arabic and Islamic Philosophy on the Latin West
Innovation in philosophy
Intuitionism in the Philosophy of Mathematics
Ionian Philosophy
Islamic philosophy
Japanese Confucian Philosophy
Japanese Philosophy
Japanese Pure Land Philosophy
Japanese Zen Buddhist Philosophy
John Wyclif’s Political Philosophy
Joseph Butler’s Moral Philosophy
Kant's Critical Philosophy of Mathematics
Kant’s Moral Philosophy
Kant’s Philosophy of Mathematics
Kant’s Philosophy of Religion
Kant’s Philosophy of Science
Kant’s Social and Political Philosophy
Language in Indian philosophy
Latin American philosophy
Latin American Philosophy: Metaphilosophical Foundations
Latin and Arabic philosophy
Latinx Philosophy
Legal philosophy
Leibniz-Wolffian philosophy
Leibniz’s Early Philosophy
Leibniz’s Exoteric Philosophy
Leibniz’s Philosophy of Mind
Leibniz’s Philosophy of Physics
Locke’s Moral Philosophy
Locke’s Philosophy of Science
Locke’s Political Philosophy
Logic and Language in Early Chinese Philosophy
Logic in Classical Indian Philosophy
Logic in Islamic philosophy
Madhyamaka philosophy
Medieval natural philosophy
Medieval Philosophy
Medieval Political Philosophy
Meta-philosophy
Metaphysics
Metaphysics in Chinese Philosophy
Mexican philosophy
Mill’s Moral and Political Philosophy
Modern philosophy
Moore’s Moral Philosophy
Moral Philosophy
Moral and Political Philosophy
Mysticism in Arabic and Islamic Philosophy
Natural philosophy
Natural Philosophy in the Renaissance
Naturalism in Classical Indian Philosophy
Naturalism in Legal Philosophy
Naturalism in the Philosophy of Mathematics
Newton’s Philosophy
Nietzsche’s Moral and Political Philosophy
Nominalism in the Philosophy of Mathematics
Nonfeminist philosophy
Normative social and political philosophy
Ontology
Perfectionism in Moral and Political Philosophy
Peripatetic philosophy
Peruvian philosophy
Phenomenological philosophy
Philosopht Xunzi
Philosophy
Philosophy and biology.
Philosophy and Public Policy after Piketty
Philosophy for Children
Philosophy Hanfeizi
Philosophy in Mexico
Philosophy of action
Philosophy of Architecture
Philosophy of Aristotle
Philosophy of Arithmetic in Light of the Traditional Logic
Philosophy of art
Philosophy of Biological and Biomedical Studies
Philosophy of Biological Science
Philosophy of Biology
Philosophy of Biomedicine
Philosophy of Cancer
Philosophy of Cell Biology
Philosophy of Chemistry
Philosophy of Childhood
Philosophy of Computer Science
Philosophy of Cosmology
Philosophy of Dance
Philosophy of Descartes
Philosophy of Digital Art
Philosophy of Economics
Philosophy of Education
Philosophy of Evidence-Based Medicine
Philosophy of Evolutionary Biology
Philosophy of Film
Philosophy of Formal Sciences
Philosophy of History
Philosophy of Humor
Philosophy of Immunology
Philosophy of intuitionism
Philosophy of Kalam
Philosophy of language
Philosophy of Law
Philosophy of Liberation
Philosophy of Linguistics
Philosophy of Locke
Philosophy of logic
Philosophy of Macroevolution
Philosophy of Mathematics
Philosophy of Medicine
Philosophy of Mind
Philosophy of mind and language
Philosophy of Mind in Antiquity
Philosophy of Modern Physics
Philosophy of Molecular Biology
Philosophy of Money and Finance
Philosophy of Music
Philosophy of Neuroscience
Philosophy of nominalism
Philosophy of painting
Philosophy of perception
Philosophy of philosophy
Philosophy of Physics
Philosophy of Plato
Philosophy of play
Philosophy of pragmatism
Philosophy of Psychiatry
Philosophy of race and gender
Philosophy of religion
Philosophy of science
Philosophy of Science in Latin America
Philosophy of sensation and perception
Philosophy of Sport
Philosophy of Statistical Mechanics
Philosophy of Statistics
Philosophy of Systematic Biology
Philosophy of Systems and Synthetic Biology
Philosophy of Technology
Philosophy of the Arts
Philosophy of Theater
Philosophy of Time
Philosophy of truth and reason
Philosophy of Western Europe
Philosophy: Mohism
Platonism in the Philosophy of Mathematics
Political philosophy
Positive philosophy of religion
Post-structuralist philosophy
Practical philosophy
Pre-Critical philosophy
Presocratic Natural Philosophy
Presocratic Philosophy
Probability in Medieval and Renaissance Philosophy
Process Philosophy (ontology and metaphysics)
Pufendorf’s Moral and Political Philosophy
Qing Philosophy
Rational Ethics
Robert Nozick’s Political Philosophy
Russell’s Moral Philosophy
Sage Philosophy
Scottish Philosophy
Scottish Philosophy in the 18th Century
Scottish Philosophy in the 19th Century
Social and Political Thought in Chinese Philosophy
Social philosophy
Spinoza’s Political Philosophy
Structuralism in the Philosophy of Mathematics
Theology
Theoretical Philosophy
Tibetan Epistemology and Philosophy of Language
Trans-empirical philosophy
Universal philosophy
Western philosophy
Whitehead’s philosophy
Wittgenstein's anti-philosophy
Wittgenstein’s Philosophy of Mathematics

Então fiquei pensando: PhD em Philosophy? Qual delas?

DdAB
P.S. Parece que não faltou nada, exceto a Filosofia do Conjunto Vazio, numa referência às indagações sobre a natureza do pensamento do presidente da república do Brasil.
P.S.S. A listagem inteira nos moldes anteriormente referidos deu umas 150 páginas de  texto no Libre Office do Ubuntu. Pensei: para ler um livro de 150 páginas, nunca encontro tempo, mas para esta lista de filosofias encontrei. E aí lembrei de um primo cuja mãe/tia não se conformava com os péssimos resultados escolares alcançados por ele, que mostrava extraordinária memória ao saber de cor todas as escalações de todos os times de futebol que disputavam campeonatos no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.
P.S.S.S. E aqui está o milésimo verbete:

embellishments, though—as is usually the case in philosophy—there are many issues taken up here which could...the like. The targets might be undergraduate philosophy students, and the goal might be to give them ... not a perfection (see almost any textbook in philosophy of religion); (6) ontological arguments presuppose...
Graham Oppy
Claramente daqui não posso ficar com a "undergraduate philosophy", mas - se ainda não o tivesse feito - retiraria a "philosophy of religion". E, em outros locais, tem casos que requerem atenção, que dou apenas um contra-exemplo: "philosophy written".

16 maio, 2020

Bono Vox e Mestre Capiba



Por ser uma breve observação sobre o genial compositor pernambucano Mestre Capiba (aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Capiba), deixo-a para o final, de sorte a poder estender-me sobre algo genial: a lista de 60 canções selecionadas por Bono (Vox) para comemorar seu ingresso no mundo sex - sexagenário, os 60 anos de existência.

De minha parte, no ano zero de minha própria existência, o carnaval foi embalado pela canção de Braguinha intitulada "Pirata da Perna de Pau" (ver aqui: http://dicionariompb.com.br/braguinha/obra). Corria, pelo que me contam, o ano de 1947 (no em que, em meu próprio dia, nasceu Moraes Moreira). Em breve a ela eu deveria/deverei acrescentar mais 72, soixante dix-sept. Vou imediatamente iniciar a procura do que rolou em 1948.

Segue-se a lista de Bono:

Ordem originalOrdem alfabética
1. Luciano Pavarotti e Bono e Zucchero – "Miserere"Adele – "Chasing Pavements"
2. Sex Pistols – "Anarchy In the UK"Andrea Bocelli - "Con Te Partiro"
3. Kanye West – "Black Skinhead"Angélique Kidjo – "Agolo"
4. Billie Eilish – "everything i wanted"Arcade Fire – "Wake Up"
5. David Bowie – "Life on Mars?"Bee Gees – Immortality – "Demo Version"
6. The Beatles – "I Want to Hold your Hand"Beyoncé feat Kendrick Lamar – "Freedom"
7. Ramones – "Swallow My Pride"Billie Eilish – "everything i wanted"
8. The Clash – "Safe European Home"Bob Dylan – "Most of the Time"
9. Public Enemy – "Fight The Power"Bob Marley & The Walers – "Redemption Song"
10. Patti Smith – "People Have the Power"Bruce Springsteen – "There Goes My Miracle"
11. John Lennon – "Mother"Coldplay – "Clocks"
12. The Rolling Stones – "Ruby Tuesday"Daft Punk feat Pharrell Williams & Nile Rodgers – "Get Lucky"
13. Elton John – "Daniel"Daniel Lanois – "The Maker"
14. Andrea Bocelli - "Con Te Partiro"David Bowie – "Heroes"
15. Elvis Presley – "Heartbreak Hotel"David Bowie – "Life on Mars?"
16. Johnny Cash – "Hurt"Depeche Mode – "Walking In My Shoes"
17. This Mortal Coil – "Song to the Siren"Echo and the Bunnymen – "Rescue"
18. Kraftwerk – " Neon Lights"Elton John – "Daniel"
19. The Fugees – "Killing Me Softly With His Song"Elvis Presley – "Heartbreak Hotel"
20. Prince – "When Doves Cry"Frank Sinatra & Bono – "Under My Skin"
21. Daft Punk feat Pharrell Williams & Nile Rodgers – "Get Lucky"Gavin Friday – "Angel"
22. Madonna – "Ray of Light"Iggy Pop – "Lust for Life"
23. JAY-Z feat Alicia Keys – "Empire State of Mind"INXS – "Never Tear Us Apart"
24. Talking Heads – "Love Goes to Building on Fire"JAY-Z feat Alicia Keys – "Empire State of Mind"
25. Lou Reed – "Satellite of Love"John Lennon – "Mother"
26. The Verve – "Bitter Sweet Symphony"Johnny Cash – "Hurt"
27. Joy Division – "Love Will Tear Us Apart"Joy Division – "Love Will Tear Us Apart"
28. New Order – "True Faith"Kanye West – "Black Skinhead"
29. R.E.M. – "Nightswimming"Kendrick Lamar feat U – "XXX"
30. Adele – "Chasing Pavements"Kraftwerk – " Neon Lights"
31. Arcade Fire – "Wake Up"Lady Gaga – "Born This Way"
32. Pixies – "Monkey Gone to Heaven"Lou Reed – "Satellite of Love"
33. Oasis – "Live Forever"Luciano Pavarotti e Bono e Zucchero – "Miserere"
34. Iggy Pop – "Lust for Life"Madonna – "Ray of Light"
35. Gavin Friday – "Angel"Massive Attack – "Safe From Harm"
36. Massive Attack – "Safe From Harm"New Order – "True Faith"
37. Kendrick Lamar feat U2 – "XXX"New Radicals – "You Get What You Give"
38. Bob Marley & The Walers – "Redemption Song"Nick Cave & The Bad Seeds – "Into My Arms"
39. Echo and the Bunnymen – "Rescue"Nirvana – "Smells Like Teen Spirit"
40. Nirvana – "Smells Like Teen Spirit"Oasis – "Live Forever"
41. Pearl Jam – "Jeremy"Patti Smith – "People Have the Power"
42. Bob Dylan – "Most of the Time"Pearl Jam – "Jeremy"
43. Beyoncé feat Kendrick Lamar – "Freedom"Peter Frampton – "Show Me The Way"
44. Depeche Mode – "Walking In My Shoes"Pixies – "Monkey Gone to Heaven"
45. Nick Cave & The Bad Seeds – "Into My Arms"Prince – "When Doves Cry"
46. Simon & Garfunkel – "The Sounds of Silence"Public Enemy – "Fight The Power"
47. Coldplay – "Clocks"Ramones – "Swallow My Pride"
48. INXS – "Never Tear Us Apart"REM – "Nightswimming"
49. New Radicals – "You Get What You Give"Sex Pistols – "Anarchy In the UK"
50. Angélique Kidjo – "Agolo"Simon & Garfunkel – "The Sounds of Silence"
51. Lady Gaga – "Born This Way"Simple Minds – "New Gold Dream (///)"
52. Frank Sinatra & Bono – "Under My Skin"Sinéad O’Connor – "You Made Me The Thief Of Your Heart"
53. David Bowie – "Heroes"Talking Heads – "Love Goes to Building on Fire"
54. Simple Minds – "New Gold Dream (81/82/83/84)"The Beatles – "I Want to Hold your Hand"
55. Sinéad O’Connor – "You Made Me The Thief Of Your Heart"The Clash – "Safe European Home"
56. Van Morrison – "A Sense of Wonder"The Fugees – "Killing Me Softly With His Song"
57. Bruce Springsteen – "There Goes My Miracle"The Rolling Stones – "Ruby Tuesday"
58. Daniel Lanois – "The Maker"The Verve – "Bitter Sweet Symphony"
59. Peter Frampton – "Show Me The Way"This Mortal Coil – "Song to the Siren"
60. Bee Gees – Immortality – "Demo Version"Van Morrison – "A Sense of Wonder"

Quanto menos eu conheço da lista, mais louvo a qualidade da audição de Bono. Claro que reconheci "I want to hold your hand", senti falta de "She loves you" e também de Chico Buarque, "Pedro Pedreiro". Também senti falta dos quartetos para cordas de Beethoven, pois gosto da piadinha de William Baumol dizendo que o setor serviços tem um fator intrínseco de estancamento da produtividade do trabalho, pois um quinteto de cordas não poderá jamais ser composto por quatro instrumentistas. Ainda assim, amo os quartetos de Beethoven das cordas e também os do piano, sem saber até hoje quais os mais sublimes.

Seja como for, essa diferença entre os 60 de Bono e os talvez milhares de quartetos e quintetos de cordas e de piano de Beethoven, Mozart, Brahms, essa turma leva-me a pensar na frase que ouço (hoje não consegui confirmação) de autoria de Mestre Capiba: a música se divide em dois grupos indevassáveis: a boa e a má. Quartetos, quintetos, roquenrou e pop-rock: esta é a vida.

DdAB
P. S. "She loves you" tá explicado no texto. "I'll get you in the end" entrou no mesmo compacto que o pai da Angélica (que era piloto da Varig) trouxe-lhe no 15o. aniversário. E eu dancei com ela e ela disse-me "I'll get you in the end", mas nunca pegou, os tempos não eram propícios.

12 maio, 2020

Heródoto Merece Respeito, Bolsonaro!





Interesses materiais (R$ 10,00) levaram-me a adquirir o livro:

KAPUŚCIŃSKI, Ryszard (2006) Minhas viagens com Heródoto; entre a história e o jornalismo. São Paulo: Companhia das Letras.

Um livro fascinante que me deu lições fascinantes, se não me faço redundante. Tanta coisa... Decidi fazer uma postagem brincando com a estupidez do presidente da república e seus acólitos. Tentando assenhorear-me do cerne do livro do, como vim a entender ser seu prenome, Ricardo, fui direto para a Wikipedia e entendi que a melhor solução para mim é ir direto ao assunto, pois -outra fonte- dá 2.8 milhões de entrada para "Heródoto". Só para contar 1, 2, 3, ... 2.799.999, 2.800.000, levaria quase um dia e meio.

Então decidi ser rasteiro, como o presidente da república, claro. Mas não posso ser tão naïve quanto o pinta. Então direto lembrei de uma postagem (aqui: https://19duilio47.blogspot.com/2013/04/os-sete-orificios-da-cabeca.html) em que comento o que é ciência e o que não é. E o caráter evolutivo da ciência que nos leva a pensar que os antigos diziam cada barbaridade. E nunca que os pósteros pensarão o mesmo de nós, claro. Da postagem e do livro de Rubem Alves, destaco uma citação:

Existem sete janelas na cabeça: duas ventas, duas orelhas, dois olhos e uma boca. Do mesmo modo, existem no céu duas estrelas propiciadoras, duas desfavoráveis, duas luminosas e uma só indecisa e indiferente, que é Mercúrio. Daí e de muitos outros fenômenos semelhantes da natureza (sete metais, etc.), que seria fatigante enumerar, concluímos que o número dos planetas é necessariamente sete... Além disso, os satélites são invisíveis a olho nu, logo não podem ter influência sobre a Terra, logo são inúteis, logo não existem.

Pois então, e apenas então. Nosso amigo, polaco Ricardo, na página 204, cita Heródoto:

De minha parte, não posso deixar de rir quando vejo os que descreveram a circunferência da Terra pretenderem, sem atender à razão, ser a Terra redonda, envolvida pelo oceano de todos os lados, e a Ásia igual  à Europa. [...]

Moral da história: devemos tratar Heródito e Francis Bacon com o maior respeito. E não posso deixar e rir por tratar Jair Bolsonaro com o maior desprezo.


DdAB
P.S. O mapa principal veio daqui=
http://www.mapas-historicos.com/cartografia-historia.htm, que também forneceu o que vemos acima de minhas iniciais. Diz ali mesmo na figura tratar-se do "mapa de Eratóstones". Sabemos que 200 anos antes de Cristo, a moçada já sabia que a Terra é esferóide.
P.S.S. No outro dia, comentei o que Bolsonaro fez ao ler minha postagem em que eu referia uma citação que se espalhava pelas páginas 215-6, ele pensou ser 209. E agora não precisou de calculadora, afirmando, com orgulho, que a página que refiro é 204, dizendo: "Agora entendo, 204-0=204."

10 maio, 2020

Meu Problema Filosófico: Bolsonaro


Especializando-me em introdução à filosofia, li, tempinhos atrás, o livro

RUSSELL, Bertrand ([1912], 2018) Os problemas da filosofia. Lisboa: EDIÇÕES 70.

Velhinho, né? Mas, já que estamos no assunto da wing do tema da biblioteca de que me encontro divorciado (motivo covid-19, mas que haverá reencontro em breve), vai um outro introdutório e maravilhoso. Diferentemente daquele mr. Marcondes que citei no dia 3 de maio, Thomas Nagel não fala em história da filosofia, mas seleciona alguns temas, dando interessantes respostas filosóficas sob o ponto de vista contemporâneo, contemporâneo dele. Além de um capítulo introdutório de seu livro, temos:

Como sabemos alguma coisa?
Outras mentes
O problema mente-corpo
O significado das palavras
Livre-arbítrio
Certo e errado
Justiça
Morte
O significado da vida

NAGEL, Thomas (2007) Uma breve introdução à Filosofia. São Paulo: Martins Fontes. [Título original: What does it all mean? O título em português foi retirado do primeiro parágrafo da Intrudução]

Voltando a Russell, quero citar um trechinho, associar com Isaac Azimov (citarei de memória) e fazer um comentário edificante sobre o futuro do presidente da república. Eu disse Russell, páginas 215-6:

[...] Há muitas questões - e entre elas as que são do mais profundo interesse para a nossa vida espiritual - que, tanto quanto podemos ver, têm de continuar insolúveis pelo intelecto humano a menos que os seus poderes passem a ser de uma ordem diversas diferente do que são agora. Tem o universo alguma unidade ou plano ou propósito, ou é uma confluência fortuita de átomos? É a consciência uma parte permanente do universo, dando a esperança de um crescimento sem fim em sabedoria, ou é um acidente transitório num pequeno planeta no qual a vida terá de acabar por se tornar impossível? São o bem e o mal importantes para o universo ou apenas para o homem? Tais questões são levantadas pela filosofia, e respondidas de modos diversos por filósofos diversos. Mas parece que, sejam as respostas susceptíveis de ser descobertas de outro modo ou não, nenhuma das respostas sugeridas pela filosofia são demonstrativamente verdadeiras. Contudo, por mais pequena que seja a esperança de descobrir uma resposta, faz parte da actividade filosófica continuar a considerar tais questões, para nos tornar cientes de sua importância, para examinar todas as suas abordagens e para manter vivo aquele interesse especulativo no universo que é susceptível de sr liquidado, se nos confinarmos ao conhecimento que pode ser definitivamente estabelecido.

Actividade? Susceptível? Só pode ser mesmo português de Portugal, tanto é que a editora 34 tem sede em Lisboa... Seja como for, imagino Bolsonaro lendo este trecho do antigo livro introdutório de um dos grandes filósofos do século XX. Foi Russell um dos que contribuiu substantivamente para a união definitiva da lógica e da matemática. E, no final da vida, tornou-se um ativista da causa da paz mundial, como é o caso de Noam Chomsky nos dias que correm. Imagino Bolsonaro militando a favor da paz mundial: aí mesmo é que guerras e mais guerras é que iriam rolar.

Por todas as conquistas comprovadas do intelecto de Bolsonaro, torna-se patente que, ao ler o trecho que selecionei, além de dar berros, urros e rugidos de ódio de sua condição de imbecil, ele também diria tratar-se de uma abordagem comunista, pois - argumentaria ele - leitura complicada e coisa de Moscow.

Deixando avaliações sobre o presidente do Brasil de lado, passo a comentar alguma coisa da passagem selecionada. Hoje sabemos que, seguindo a sequência principal, o Sol vai tornar-se uma anã branca. Quando essa contração começar, é provável que o sistema planetário sofra calorões inauditos. E, dando sequência a essa situação, ao transformar-se em estrela gigante vermelha, o calor da expansão é capaz de acabar com o que ainda restava de seu sistema planetário. Se a Terra ainda estivesse na órbita que conhecemos, ela seria torrada como minhoca no café dos bêbados, uma simpatia bem antipática para eles deixarem a birita.

E daí? Daí vem Isaac Azimov para nos salvar. Primeiro, ele provavelmente em algum de seus livros de ficção científica problematizou a questão do abandono do planeta. Eu mesmo já andei dizendo que "viver em planeta é perigoso", antevendo o momento em que a humanidade construirá naves espaciais enormes, acomodando famílias inteiras, comunidades inteiras e flanará fagueira pela imensidão do espaço.

Seja como for, ainda em seus movimentos terráqueos, Azimov escreveu um conto intitulado "A última pergunta", integrante do livro "Nove amanhãs" (memórias que merecem conferência, pois meu livro está alheio a meu confinamento). A história começa com dois engenheiros, um tanto embriagados na comemoração de um evento cibernético, digamos, um novo e potente computador, quando um indaga ao outro: a entropia pode ser invertida? Entropia como sabemos é o estado de desorganização da matéria. O melhor exemplo que chegou a mim é pensarmos no sistema formado por um ovo: casca, clara e gema. Então seu estado de organização é máximo. Imagine que o ovo se quebra, a entropia sobe significativamente, ou seja, aquela matéria bem organizada deixa de sê-lo. E nunca mais se poderá montar novamente aquele ovo. Perdeu-se organização, aumentou-se a entropia.

Nenhum dos engenheiros sabe a resposta e deslocam a pergunta ao computador. Este faz uns barulhinhos, range dentes (dentes?), etc., e manda um bilhetinho: não tenho dados suficientes para responder. À medida que os computadores vão evoluindo, volta e meia, alguém torna a indagar ao mais moderno deles: a entropia pode ser invertida? E assim a humanidade evoluiu, sempre expandindo seu conhecimento e mantendo-se incapaz de responder a essa simples pergunta. Os próprios seres humanos começaram a se transformar, tornando-se espécies de seres gelatinosos que se comunicam por telepatia, sei lá. Quando eles já não têm razão para viver, pois evoluíram para uma espécie de beco sem saída, dotados de um conhecimento deles próprios astronômico e do funcionamento do próprio universo, que praticamente está em desorganização absoluta. No momento em que estão prestes a encerrar a trajetória pós-humana, um deles indaga novamente: a entropia poderá ser invertida?

E a resposta que não seria dada nem pela ministra Damares nem pelo próprio presidente Bolsonaro é: faça-se a luz!

DdAB
P.S. Aquela maçaroca lá do início é para reproduzir duas galáxias se encontrando. Eu a selecionei pois pareceu-me ter tudo a ver com o atual governo brasileiro e seu intelecto privilegiado (no mau sentido).
P.S.S. Informantes do Palácio do Planalto levaram-me a crer que, quando o presidente da república ler esta postagem e aquela referência à página do livro de Russell que citei, ou seja, páginas 215-6, ele exclamará: "Que animal! Ao invés de citar a página 209, fica mandando a gente usar a máquina de calcular para ver qual é mesmo a página citada."

08 maio, 2020

Meus CDs e a Pandemia: sorrisos e lágrimas


Melhor dizendo, desdizendo o título: meus 394 CDs mexidos nesta tarde de confinamento domiciliar, causaram-me tristeza, rapidamente substituída por incontida alegria. Minha postagem atende ao marcador "Vida Pessoal", mas -falando rapidamente em capacidade ociosa- poderia também ser "Economia Política", que é o marcador modal. Que capacidade ociosa? Primeiro, é que ouço apenas um de cada vez, ficando, portanto os outros 393 completamente ociosos. Segundo, especialmente agora que permanecerão sob meu teto, a capacidade ociosa de todos os 394 será total. Um dia, quem sabe, eles vão a um museu?

Tudo começou com intenções nutridas bem antes da classificação desta gripe matadora pelo presidente da triste república do Brasil como gripezinha. Olha o absurdo do cara que, quando escrevi "gripezinha", o corretor de texto sublinhou, está fora do léxico do velho Google. Aliás, Bolsonaro também é sublinhado em vermelho. Como diz o versinho da infância:

Diz o vermelho perigo,
O verde pode passar.
O amarelo, nosso amigo,
Nos aconselha a esperar.

Espero que ele renuncie, contrariamente -já vou falar- ao que hoje decidi: não renunciar a meus CDs deu-me incontida alegria. A verdade é que devem ter-se passado já uns 72 anos que não ouço nenhum deles. Isto que, entre minhas "iguarias", tenho uma coleção de uns 40 Concertos de Aranjuez, com diferentes violonistas. Um dia, irreverente, pensei -e nunca fiz, mas ainda há tempo- em fazer uma análise da variância entre os tempos dos três movimentos executados pelos diferentes violonistas. Creio que, com esse resultado seriam esclarecidas aquelas questiúnculas menores (para o presidente da república, lógico) sobre de onde viemos e para onde vamos.

Pois então, e apenas então. Comecei a "folhar" aquelas embalagens minimalistas (comparadas com os bolachões, lógico), muitas delas apenas miniaturizando as capas das velhas gravações. A intenção era lançar todas ao lixo seco. Olha que te olha que de repente comecei a curtir, a lembrar de diferentes momentos de minha vida (estimativa conservadora: mais de 394 momentos), em muitos casos até o instante da compra, outros, o sublime instante em que ganhei um ou outro de presente. Outros ainda evocaram-me incríveis situações prazerosas proporcionadas pelo prazer de lembrar, cantarolar canções ou movimentos dos vários CDs contendo música de câmara. E meus tangos, também uma coleção de uns 50 exemplares?

A questão -the question, como diriam William Shakespeare e Aristóteles- passou a ser: selecionar tantos bons momentos, proxies de felicidade sublime e sideral. Mas aí veio-me uma ideia da manutenção do plano original: tristeza profunda ao dar-me conta de que havia CDs e canções que me lembraram maus momentos, por exemplo, quando estava para voltar ao Brasil do paraíso (Oxford). O lindo "Apesar de Você" de minha ligeira pós-adolescência. A vingança com "Vai passar", de meados dos anos oitenta. Tanta coisa que comecei a selecionar entre os que já estavam na lista do matadouro aqueles que, -on second thoughs, como diriam Winston Churchill e Elisabeth Regina, herself- mereciam ficar. Ao selecionar todos, alcançou-me a incontida alegria que tenho anunciado desde o início destas românticas reflexões. Consolidada a decisão, achei que todos os demais mereciam ser examinados com a mesma intenção. E surgiu a moral da história: ficaram todos. Mudaram de lugar na casa, a fim de não incomodar o cotidiano, mas é certo que todo dia 8 de maio de todos os anos que me restam vou examiná-los, ouvir algumas peças e... ser feliz.

DdAB
P. S. A imagem, sei que não é eterna, pois os links também são finitos, é de um filmezinho de "She's a rainbow", dos Rolling Stones e do disco "Their Satanic Majesties Request", de 1967, ano em que iniciei minha série de exames vestibular para a faculdade de arquitetura. Esta faceta de minha vida pessoal conto-a outro dia. As marcas que lembram o YouTube são de lá mesmo e você a encontra clicando aqui. De todos meus agora já proverbiais 394 CDs o que tem esta canção é o preferido, pois guarda a canção preferida entre todas as canções dos 73 anos incompletos.

05 maio, 2020

Marx 202


Já anunciei tratar-se de um TOC. Há alguns anos venho comemorando o aniversário de nascimento de Karl Heinrich Marx (05.05.1818). E, se o TOC estivesse estragado (o que não estava...), recebi o convite do Facebook para publicar uma lembrança de três anos atrás.
Lembro que, dias atrás, eu falava na definição dada por eles (Marx e Engels) do valor de uma mercadoria:

V = c + v + m,

valor V, capital constante c, capital variável v e mais-valia m.

E desconheço outra definição em economia que tenha mais implicações que esta e suas derivações, como a taxa de lucro r = m/(c+v), para explicar o desenvolvimento do modo capitalista de produção e seu eventual ocaso.

De minha parte, há anos inventei uma brincadeira sugerindo que o capitalismo acabou há mais de 15 dias. Isto me dá certa folga para dizer que vivemos hoje em outra formação econômico-social que requer todo nosso engenho para não nos enganarmos. Primeiro: socialismo não dá pé hoje, pois nem a humanidade inventou instituições que o apoiem, nem os sistemas acabam por decreto, como exemplifico com o sistema da língua esperanto. Ademais, não devemos esquecer que as ditaduras sangrentas contemplam entre seus contemplários a União Soviética e a China.

E que sobra do marxismo? Muita coisa, tanta coisa que me retiro da tentativa de listar e passo a bola ao refinado prof. Adalmir Marquetti.

DdAB

04 maio, 2020

Filosofia: qual a primeira?

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Uma das recompensas ao negão ignorante é que ele vai ficando extasiado várias vezes por dia, ao ir aprendendo coisas e mais coisas. Na condição de estudioso de introdução à filosofia, um dia deparei-me com a compreensão de que a grande inovação filosófica na transição entre os séculos XIX e XX foi o que chamam, se não falha a memória, virada linguística. Li com interesse alguns textos sobre o assunto, naturalmente de autores/comentadores em livros introdutórios, falando sobre as obras de Frege, Russel, Moore e Wittgenstein, essa turma. A virada linguística. A filosofia analítica desses rapazes, contrastando com o que ouço chamarem de filosofia continental.

Todos os grandes filósofos, Aristóteles, Platão, três pontinhos, Descartes, Kant e pósteros, essa turma toda, todos eles devotaram alguma atenção ao problema da linguagem, aliás, a praticamente todos os campos em que a filosofia moderna costuma ser dividida. E o que depreendi da leitura da própria história da filosofia escrita por modernos é que a filosofia da linguagem tomou corpo, pois aquele quarteto que citei (e milhares de outros) queriam chegar à causa primeira, à preocupação com a qualidade do discurso filosófico. E entenderam que é a linguagem, seus signos e a comunicação. Como pode alguém filosofar numa linguagem passível de ambiguidades?

Se não me estendo, se não me abalo, se não me abato, vou fazer alguns arrazoados para colocar a filosofia da mente à frente da filosofia da linguagem. Mas antes preciso falar algo que só mesmo voltando a olhar (voltando?) o mais charmoso livro de uma survey da filosofia do século XX, que assim me foi apresentado por Eduardo Grijó, a long time ago,. Vou citando a primeira sentença do prefácio de:

RORTY, Richard (1988) A filosofia e o espelho da natureza. Lisboa: Dom Quixote.

   Quase na mesma altura em que comecei a estudar filosofia, fiquei impressionado com o modo como os problemas filosóficos aparecem, desaparecem, ou mudam de forma, em resultado de novas assunções ou vocabulários.

Nem preciso dizer mais nada. A exemplo dos livros O Capital e Ulysses, decorar a primeira sentença de um livro desses portes praticamente me desincentiva de ler o resto. O caso é que agora que quero especular sobre quem é a primeira filosofia abate-me um enorme baixo-astral, pois pode ser que o que penso ser algo interessante não passe de uma investida infantil e amadora de um pigmeu intelectual.

Mas relendo pela segunda vez (ou seja, terceira leitura) a obra:

LACOSTE, Jean (1992) A filosofia no século XX. Campinas: Papirus. Coleção Filosofar no presente.

parece que estou, enfim, entendendo que o mais básico ato de filosofar é penetrar nos meandros que nos são dados a pensar sobre a linguagem: signos e comunicação. Ao problematizar a noção de verdade, Lacoste diz que o início do processo é o reconhecimento e validação dos termos em que se dá o debate. E imaginei que neste caso precisamos recuar às faculdades mentais que possibilita essa validação: os estados mentais são prévios à fixação dos signos.

Pois nesse meu afã de tornar-me um PhD também em filosofia (titulação que obviamente não alcançarei jamais), deparei-me com o livrinho:

BIRMAN, Joel (2003) Freud e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Coleção Passo a passo, 27.

Diz ele na p. 36 caput:

[...] O psiquismo como objeto teórico autônomo se constitui somente aqui, de fato e de direito, passando a ser concebido, pois, de maneira descolada dos acontecimentos reais.
   O que Freud queria dizer com isto? Antes de mais nada, que existia uma realidade psíquica ao lado da realidade material, de maneira que a real queixa de sedução dos indivíduos [adultos, na psicanálise, falando abusos sexuais de seus pais, DdAB] deveria ser remetida à primeira e não mais à segunda, como supunha até então. O acontecimento continuava sendo real para o sujeito, é claro, mas o registro da experiência era a realidade psíquica e não mais a material. Enunciar isto seria formular que a verdade do acontecimento se fundaria apenas no registro dos signos e não mais no das coisas.

E qual não foi minha surpresa ao me ver filosofando... Tudo começou com a observação do comportamento de meu sobrinho-neto que mal completou um ano de idade. Ele não fala, mas se esta postagem demorar vai vê-lo como locutor proficiente. Mas o  garoto tem uma vida mental poderosíssima: ri, chora, grita, dá urros, rosna e ainda não diz nem mamãe.

Neste mundo, entendi que o cérebro-mente inicia percebendo as coisas e apenas então passa a atribuir-lhes signos de identificação e a incorporar signos de terceiros. Lá na ilustração da postagem, temos a capa do fascinante livro de John Bonner. A família usa um galho para penetrar no formigueiro, as formigas tentam defender sua morada, atacam o galho e os chimpanzés as comem. E o bebê-chimpanzé olha atentamente e em poucos instantes estará pronto para imitar seus amados.

Meu ponto é que os estados mentais - acreditar, amar, desejar, odiar, temer, ver, etc. - são anteriores à linguagem, isto é, são eles os elementos que requerem o primeiro ato de filosofar: como é que as ideias surgem, existem outras mentes, aqueles recortes que me fazem lembrar que está na hora de reler o livro introdutório ao tema de autoria de Thomas Nagel.

DdAB

03 maio, 2020

Hegel, Marx e o Lado Alegre do Capitalismo

NA LUTA TODO DIA: A CRÍTICA À DIALÉTICA HEGELIANA - MARX E ENGELS
De que se trata
Um negão de meu porte, ao especializar-se em Introdução à Filosofia, precisa dedicar uns bons momentos diariamente no afã de ser promovido à Filosofia Média, algo assim, nada a ver com o medievo tipo Agostinho, Anselmo, Tomás e Ockam. E de onde tirei esse quarteto? De um livro introdutório, claro:

MARCONDES, Danilo (1997, 2007) Iniciação à história da filosofia; dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar.

Esta obra já foi referida por mim em apoio a importante teorema (de minha autoria) aqui (https://19duilio47.blogspot.com/2020/01/o-primeiro-teorema-da-idade-versao.html).

Mas hoje quero falar em filósofos mais próximos a nós. Como que num proêmio, vou logo dizendo que sempre ouvi dizer que, para sermos bons economistas, devemos conhecer história. Nunca entendi bem o significado dessa afirmação. História da conquista da Gália pelos romanos? Vercingetórix? Isto sempre me agradou, pois tinha suporte bibliográfico na revista Asterix. Ou seria a história dos Estados Unidos, que Marx e Engels estudaram tão zelosamente? Ou a da Guerra do Paraguay? Ao longo dos quase 60 anos que me declaro cercando a ciência econômica (que até hoje ainda não se rendeu...), li pilhas de matérias históricas, claro. Mas somente agora, ao ler Danilo Marcondes é que consegui firmar um pé, um pé cheio sobre terreno sublime, na importância da história para entendermos exatamente onde estamos e para onde vamos, o lado que precisa ser escavado dentro da formação econômico-social capitalista para realmente desfrutarmos seu lado alegre.

Hegel e a História
Pois então. Marcondes tem um capítulo que inspirou a presente postagem, não fosse outro capítulo... Falo inicialmente do capítulo 7 "Hegel e a Importância da História". Na página 223, vemos a seção B "Consciência e História", em que Marcondes inicia citando o próprio Hegel, um trecho do livro "Filosofia do Direito". Hegel:

O que quer que aconteça, cada indivíduo é sempre filho de sua época: portanto, a filosofia é a sua época tal como apreendida pelo pensamento. É tão absurdo imaginar que a filosofia pode transcender sua realidade contemporânea quanto imaginar que um indivíduo pode superar seu tempo, saltar sobre Rodes.

Primeiro, lembrei Edmund Wilson, citando (?) Michelet, que disse que "o indivíduo tem mais a cara de seu tempo que a de seu pai". Segundo, até merecia uma nota de rodapé aquele "saltar sobre Rodes". Ao ler, lembrei que aprendi essa expressão lendo "O Capital", de Karl Marx. Agora voltei a ela via Wikipedia (minha tradução):

Hic Rhodus, hic salta - querendo dizer: "prove o que você pode fazer aqui e agora."

E, na minha tradução e ligeira edição do mesmo verbete, segue-se:

A frase surge da forma latina das fábulas de Esopo [...], traduzida do grego antigo "Αὐτοῦ γὰρ καὶ Ῥόδος καὶ πήδημα" (literalmente) "Aqui está Rodes, pule aqui!". Na fábula, um atleta arrogante se gabava de ter alcançado um salto estupendo em competições na ilha de Rodes. Um espectador o desafia a dispensar os relatos das testemunhas e simplesmente repetir sua realização no local onde agora se encontra: "Aqui está Rhodes, pule aqui!"

Ok, chega de Rodes,  voltemos a Hegel. O comentador diz:

   A reflexão filosófica deve partir, portanto de um exame do processo de formação da consciência. Na verdade, através da consciência crítica de nossa situação histórica, podemos entender o próprio processo histórico as 'leis da história', seu sentido e sua direção e, apenas desta forma, podemos ir além da consciência de nosso tempo.
   Há em Hegel um compromisso com a ideia de progresso humano, mas este progresso é sempre julgado do ponto de vista dos que o alcançaram, i. e., de um ponto de vista específico.
[...]
   Já nas "Lições de Iena", que contêm material postumamente desenvolvido e reelaborado na "Fenomenologia do Espírito", Hegel formula sua concepção de processo de formação da consciência. Trata-se de um tríplice processo, Ou de uma tríplice dialética, consistindo em três elementos básicos:
1) as 'relações morais', isto é, a família, ou a vida social; 
2) a linguagem, ou os processos de simbolização; e
3) o trabalho, ou a maneira como o homem interage com a natureza para dela extrair seus meios de subsistência, elemento que será valorizado fundamentalmente por Marx.

Primeirão: então ficamos sem qualquer dúvida sobre aquela encrenca thatcheriana sobre o indivíduo ser mais importante que a sociedade. Sem família, não se pode falar em vida social. Thatcher e a turma neo-liberal desejosa de estado mínimo. Eles não leram o livro de contabilidade social que eu mesmo editei em co-autoria com Vladimir Lautert. Lá falamos com muita ênfase no tripé da organização institucional da sociedade como: mercado-estado-comunidade. Ou seja, se o estado é uma das partes estruturante da vida societária, que diabos poderiam autorizar a enquadrá-lo como necessitando ter tamanho mínimo?

Segundo: a linguagem, tá na cara, tem tudo a ver. E o ativista Noam Chomsky está aí mesmo para dizer que aqueles macacos lá de trás experimentaram uma mutação física em seu cérebro que lhes permitiu fazer frases. Eu mesmo, se não falo de parentes, lembro os macacos bonobo que, pelo que leio em biólogos mais ardentes que Chomksy, têm um vocabulário de 10 palavras. Mas admito que "falar" não é apenas isto, que linguagem não é apenas registrar pensamentos dentro de um léxico mais curto que coice de porco (fonte do dito que digo fora de contexto: http://19duilio47.blogspot.com/2020/02/ditos-gauchos-velhos-novos-e-inventados.html).

Terceiro: o comentador fala que o terceiro elemento estruturante é o trabalho. E passa a discorrer o que ele-Hegel entende por isso: a relação que o homem estabelece com a natureza para tratar de sua sobrevivência e, já vou eu acrescentando, para tratar de sua própria escalada evolucionária, quando - bem sabemos - deixamos ser aqueles macacões que habitavam o... sul da França. Bicharocos que precisaram de "pão e rosas" para seguir rosnando e evoluindo, gerando o velho Vercingetórix e a linda Catherine Deneuve.

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História e a vitória sobre as necessidades
Não é à toa que a incompreensão de alguns economistas que desprezam tudo o que maus professores ensinaram na faculdade de economia tinham que inserir em tal desprezo o descarte da reflexão sobre as chamadas "questões fundamentais da economia" que tratam, claro, de toda atividade produtiva humana, mas que nos levam a pensar exatamente nos bicharocos pré-colombianos, super-pré-colombianos:

Primeira: o que, quanto produzir - vai ter mais milho assado ou mais semente resultando de cada safra. Se tiver muita semente, há promessas de que as muié maia, no período seguinte, possam surgir com mais milho assado. Se comerem tudo, ano que vem, as coroas começam do zero. Uma luta na apropriação do meio ambiente.

Segunda: como produzir - elas vão usar as mãos ou alguma daquela turma de mulheres excepcionais vai inventar de catar uma varinha no chão que servirá para fazer as covas e nelas depositar as sementes. Depois veio a enxada e, em seguida, a agricultura de precisão, com satélites e tratores. Uma luta para controlar o meio ambiente.

Terceira: como distribuir a produção:: uma luta de cada pós-macaco com os demais, ou de grupos de pós-macacos com outros grupos. Até hoje esta luta não dá sinal de serenar. Talvez não serene nunca, mas tenho a fornida crença que uma sociedade social-democrata, ou a nova-social-democracia, poderá dar um jeito. Hoje vemos a contradição principal forjada entre desempregados e empregados, claro que tudo sob a égide da distribuição original: entre trabalhadores e capitalistas-e-rentistas. E hoje sabemos que nunca mais haverá, se é que algum dia houve, emprego para todos. E hoje, ao invés de reduzirem a jornada de trabalho para criar empregos para todos, o grandioso sonho de enormes parcelas da sociedade é precisamente aumentar a produtividade do trabalho para botar mais pós-macacos na rua - fire them, no dizer americano.

Lado Alegre do Capitalismo (não me interprete mal)
O mais famoso capítulo do volume I d'O Capital é, óbvio, o primeiro. Mas, depois de vencido aquele pesado conteúdo, o leitor se deleita com o capítulo 26 (que, dependendo da edição, tem outro número). Encontrei o trecho que desejo realçar aqui:
https://www.marxists.org/archive/marx/works/download/pdf/Capital-Volume-I.pdf

   Este é o lugar para voltar a uma das grandes façanhas da apologética econômica. Deve-se lembrar que, se através da introdução de máquinas novas ou da extensão de máquinas antigas, uma parte do capital variável é transformada em constante, o apologista econômico interpreta essa operação que 'fixa' o capital e por esse mesmo ato 'libera' os trabalhadores, exatamente na maneira oposta, fingindo que libera capital livre para os trabalhadores. Somente agora é possível entender completamente o descaramento desses apologistas. O que é libertado não são apenas os trabalhadores imediatamente despejados pelas máquinas, mas também seus futuros substitutos na geração em ascensão e o contingente adicional de que, com a habitual extensão do comércio na antiga base, seria absorvido regularmente.
   Agora eles estão 'liberados', e cada nova partícula de capital que procura emprego pode eliminá-los. Se atrai a eles ou a outros, o efeito sobre a demanda geral de mão-de-obra será nulo, se esse capital for suficiente para retirar do mercado tantos trabalhadores quanto as máquinas lançadas sobre ele. Se empregar um número menor, o dos supranumerários aumentará; se empregar um valor maior, a demanda geral por mão-de-obra aumentará apenas na extensão do excesso de empregados em relação aos 'libertados'. O impulso que o capital adicional, buscando uma saída, de outra forma teria dado à demanda geral de trabalho, é, portanto, sempre neutralizado na medida em que os trabalhadores são demitidos pela máquina. Ou seja, o mecanismo da produção capitalista administra questões que o aumento absoluto do capital não é acompanhado de aumento correspondente na demanda geral por trabalho. E isso o apologista pede uma compensação pela miséria, pelos sofrimentos, pela possível morte dos trabalhadores deslocados durante o período de transição que os bane para o exército da reserva industrial! A demanda por trabalho não é idêntica ao aumento de capital, nem a oferta de trabalho com aumento da classe trabalhadora. Não é o caso de duas forças independentes trabalhando umas nas outras. Les dés sont pipés. [Os dados estão lançados, DdAB]
   O capital trabalha de ambos os lados ao mesmo tempo. Se seu acúmulo, por um lado, aumenta a demanda por trabalho, por outro, aumenta a oferta de trabalhadores pela "libertação" deles, enquanto ao mesmo tempo a pressão dos desempregados obriga os empregados a fornecer mais trabalho e, portanto, torna a oferta de trabalho, em certa medida, independente da oferta de trabalhadores. A ação da lei da oferta e demanda de trabalho nesta base vem a completar o despotismo do capital. Assim, logo que os trabalhadores aprendem o segredo, como acontece que, na mesma medida em que trabalham mais, produzem mais riqueza para os outros e à medida que o poder produtivo de seu trabalho aumenta, também na mesma medida até sua função como meio de auto-expansão do capital se torna cada vez mais precária para eles; assim que descobrem que o grau de intensidade da competição entre si depende inteiramente da pressão da população excedente relativa; assim que, pelos sindicatos, tentam organizar uma cooperação regular entre empregados e desempregados, a fim de destruir ou enfraquecer os efeitos ruinosos dessa lei natural da produção capitalista sobre sua classe, e logo o capital e seu bajulador, a Economia Política, clamam pela violação da lei 'eterna' e, por assim dizer, 'sagrada' da oferta e demanda. Toda combinação de empregados e desempregados perturba a ação 'harmoniosa' desta lei. Mas, por outro lado, assim que (nas colônias, por exemplo), circunstâncias adversas impedem a criação de um exército de reserva industrial e, com ele, a dependência absoluta da classe trabalhadora à classe capitalista, capital e seu lugar-comum, um desses Sancho Pança, revolta-se contra a 'sagrada' lei da oferta e demanda e tenta verificar sua ação inconveniente por meios forçados e interferência do Estado.

Lado alegre do capitalismo, eu disse alegre? Não é o que entendemos no trecho de Marx que acabo de reproduzir. Mas algo vai mais além. A substituição do trabalho por máquinas, trabalho vivo por trabalho morto, é a maior virtude do capitalismo, isto é, o aumento da produtividade do trabalho, desde que controlado para a distribuição. Sempre entendi, ou melhor, hoje entendo que o capitalismo tem esse lado alegre a oferecer: a libertação do trabalho rotineiro. Basta o proletariado conscientizar-se de que precisa votar em partidos social-democratas.

Voltando à importância da História, agora para Marx
   Sigo citando o livro de Marcondes:

[...] Segundo a análise de J. Habermas [...], Hegel teria, em suas Lições de Iena, levado em conta três dimensões da formação da consciência: a vida moral, as formas de simbolização (linguagem) e o trabalho, sendo que Marx viria a privilegiar o trabalho como a mais fundamental.
   O próprio Marx diz que seu objetivo é 'inverter o homem de Hegel', que tem os pés na terra e a cabeça nas nuvens, mostrando que sua cabeça, i.e., suas ideias são determinadas pela 'terra', ou seja, pelas condições matriais de sua vida. A consciência que é considerada livre e autodeterminada passa a ser vista como condicionada pelo trabalho. Hegel, ao contrário de Kant, já admitia o conhecimento como socialmente determinado, existindo formas de consciência que correspondem a momentos históricos determinados. Só a partir da consideração da totalidade pode-se fazer a reconstrução dessas diferentes forma.s A alienação consiste em uma visão parcial, a partir de uma única forma, ou de um único momento. Isto, no entanto, segundo Marx, é ainda manter-se exclusivamente no plano das ideias e da cultura, o que consiste também em uma forma de alienação. [Diz Marx:]
Minha pesquisa me levou à conclusão de que as relações legais e as formas políticas não poderiam ser explicadas, seja por si mesmas seja como provenientes do assim chamado desenvolvimento geral da mente humana, mas que, ao contrário, elas se originam das condições materiais da vida ou da totalidade que Hegel, segundo o exemplo dos pensadores... do século XVIII engloba no termo 'sociedade civil'. (Contribuição à crítica da economia política, 1859, [...].
[Prossegue Danilo Marcondes]
   A questão central da análise de Marx passa a ser portanto o trabalho [sic, DdAB], questão, aliás, praticamente ausente da análise dos filósofos desde a Antiguidade. O trabalho é uma relação invariante entre a espécie humana e seu ambiente natural, uma perpétua necessidade natural da vida humana. Esse sistema de ação, instrumental,, contingente [contingente, sô? DdAB], surge na evolução da espécie, mas condiciona nosso conhecimento da natureza ao interesse no possível controle técnico dos processos naturais. O processo autoformativo da espécie humana é condicionado, o que vai contra a ideia hegeliana de um movimento do Absoluto. Depende assim de condições contingentes da natureza.  O Espírito não é , como queria Hegel, o fundamento absoluto da natureza, mas, ao contrário, a natureza é o fundamento do 'Espírito'. no sentido de uma processo natural que dá origem ao ser humano e ao meio ambiente em que vive. Ao reproduzir a vida nessas condições naturais, a espécie humana regula sua relação material com a natureza através do trabalho, constituindo assim o mundo em que existimos. As formas específicas segundo as quais a natureza é objetificada mudam historicamente, dependendo da organização social do trabalho. Só temos acesso à natureza através de categorias que refletem a organização de nossa vida material. No processo de trabalho não só a natureza é alterada, mas [também] o próprio homem que trabalha, não havendo assim uma essência humana fixa. "A História é a verdadeira história natural do homem', diz Marx. Seu materialismo histórico.[sic, DdAB], portanto, pretende ser uma teoria científica da história. Marx analisa então os diferentes estágios, caracterizados através da noção de 'relações de produção', que levaram a humanidade desde a sociedade primitiva, passando pela sociedade escravocrata e pela sociedade feudal, até a sociedade burguesa de sua época.
   Podemos considerar, de certa forma, a filosofia de Marx como uma 'filosofia do fim da filosofia'. Isto quer dizer que a filosofia, tal como concebida tradicionalmente, está esgotada e é incapaz de realizar efetivamente a crítica a que se propõe. Para Marx, a filosofia indica a necessidade da prática revolucionária, de 'transformar o mundo', nas palavras da XI tese sobre Feuerbach, citada acima. A análise filosófica tradicional deve dar lugar assim a uma análise econômica, política, histórica e sociológica. E a reflexão filosófica teórica deve dar lugar a uma prática revolucionária transformadora, através de uma concepção de unidade entre teoria e prática.

Ufa! Transcrervi tudo até o fim da seção A. Que digo eu? Digo o que me disse meu colega Gerônimo Machado: "não queremos socialismo agora, apenas as reformas democráticas que conduzirão a ele". Eu digo que a humanidade não criou ainda (e talvez nem crie) as condições para se chegar ao socialismo. E talvez crie, por exemplo, em uma forma diferente de transformar a propriedade privada dos meios de produção em propriedade coletiva. Mas tem muita, muita água para rolar por baixo de todas as pontes já construídas e a construir.

Acrescentado em 6 de maio de 2020: e qual é mesmo o lado alegre do capitalismo? Uma de suas leis fundamentas de funcionamento é a concorrência: entre capitalistas e trabalhadores, entre capitalistas e capitalistas e também entre trabalhadores e trabalhadores. E que faz esta lei, sob o ponto de vista da produção? A concorrência entre os capitalistas leva a que estes desejem aumentar a maior fração possível de seu capital variável em capital constante. Ou seja, aumentar a produtividade do trabalho, ou seja, reduzir o número de trabalhadores por unidade de produção. Isto é, criar tempo ocioso. Se isto significa apenas aumentar o número de participantes daquelas reuniões da Plage des les Grèves, à beira do rio Sena em Paris, ou seja, aumentar o número de pessoas sem renda, trata-se de um traço amargo do capitalismo que deve ser suprimido por meio de políticas redistributivas, como a renda básica universal, incentivos à formação de empresários e outras.

DdAB
P.S. Onde se lê no parágrafo que sucede a primeira citação de Hegel, leia isto mesmo, Edmund Wilson: o autor de "Rumo à Estação Finlândia". É que agora corrigi, pois eu escrevera Edward Wilson, autor de biologia que muito aprecio, inclusive sua autobiografia "Naturalista". Claro que não apoio qualquer viajação racista, essas coisas.
Original de Marx traduzido pela Wikipedia e revisado por mim:
This is the place to return to one of the grand exploits of economic apologetics. It will be remembered that if through the introduction of new, or the extension of old, machinery, a portion of variable capital is transformed into constant, the economic apologist interprets this operation which “fixes” capital and by that very act sets labourers “free,” in exactly the opposite way, pretending that it sets free capital for the labourers. Only now can one fully understand the effrontery of these apologists. What are set free are not only the labourers immediately turned out by the machines, but also their future substitutes in the rising generation, and the additional contingent, that with the usual extension of trade on the old basis would be regularly absorbed.
They are now all “set free,” and every new bit of capital looking out for employment can dispose of them. Whether it attracts them or others, the effect on the general labour demand will be nil, if this capital is just sufficient to take out of the market as many labourers as the machines threw upon it. If it employs a smaller number, that of the supernumeraries increases; if it employs a greater, the general demand for labour only increases to the extent of the excess of  the employed over those “set free.” The impulse that additional capital, seeking an outlet, would otherwise have given to the general demand for labour, is therefore in every case neutralised to the extent of the labourers thrown out of employment by the machine. That is to say, the mechanism of capitalistic production so manages matters that the absolute increase of capital is accompanied by no
corresponding rise in the general demand for labour. And this the apologist calls a compensation for the misery, the sufferings, the possible death of the displaced labourers during the transition period that banishes them into the industrial  reserve army! The demand for labour is not identical with increase of capital, nor supply of labour with increase of the working class. It is not a case of two independent forces working on one another. Les dés sont pipés.
Capital works on both sides at the same time. If its accumulation, on the one hand, increases the demand for labour, it increases on the other the supply of labourers by the “setting free” of them, whilst at the same time the pressure of the unemployed compels those that are employed to furnish more labour, and therefore makes the supply of labour, to a certain extent, independent of
the supply of labourers. The action of the law of supply and demand of labour on this basis completes the despotism of capital. As soon, therefore, as the labourers learn the secret, how it comes to pass that in the same measure as they work more, as they produce more wealth for others, and as the productive power of their labour increases, so in the same measure even their function as a means of the self-expansion of capital becomes more and more precarious for them;
as soon as they discover that the degree of intensity of the competition among themselves depends wholly on the pressure of the relative surplus population; as soon as, by Trades’ Unions, and they try to organise a regular co-operation between employed and unemployed in order to destroy or to weaken the ruinous effects of this natural law of capitalistic production on their class, so soon capital and its sycophant, Political Economy, cry out at the infringement of the “eternal” and so to say “sacred” law of supply and demand. Every combination of employed and unemployed disturbs the “harmonious” action of this law. But, on the other hand, as soon as (in the colonies, e.g.) adverse circumstances prevent the creation of an industrial reserve army and, with it, the absolute dependence of the working class upon the capitalist class, capital, along with its commonplace Sancho Panza, rebels against the “sacred” law of supply and demand, and tries
to check its inconvenient action by forcible means and State interference.