12 novembro, 2022

Nossa Bandeira


 Um dos motes do candidato a presidente da república derrotado na eleição de 30 de outubro de 2022 era: "nossa bandeira jamais será vermelha". Com a significativa derrota, liderada pelo ex-presidente e futuro-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criador de uma frente ampla na busca de democracia e igualitarismo, achei suporte bibliográfico para metermos algum vermelho na bandeira do Brasil. Negando que a bandeira jamais será vermelha, pensei que poderíamos dividir em 50% para cada cor: verde e vermelha.

Conheço bandeiras vermelhas em meia dúzia de clubes Brasil-afora. Um é o Internacional de Porto Alegre. Outro é o América do Rio de Janeiro. Outros tantos haverá nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

E qual o embasamento bibliográfico de minhas inspiração para fazer o rascunho da futura bandeira, que não será exclusivamente vermelha? Tá aqui:

FAGUNDES TELLES, Lygia (c.1980) As meninas. São Paulo: Círculo do Livro. Página 246.

Numa nota auto-biográfica, intitulada O AUTOR E SUA OBRA (versais no original), dame Lygia diz:

[...] A cor do meu signo é o vermelho, mas aposto igualmente no verde. Minha bandeira (se tivesse uma) seria metade verde, metade vermelha. Esperança e paixão. Fervor e cólera. Alguns dos meus textos nasceram de uma simples visão, imagem que retive na memória. Ou de uma frase que ouvi. [...] 

Parênteses no original.

Sabemos que o dístico "Ordem e Progresso" não nos deu nem ordem e, muito menos, progresso. Segue-se logicamente que, com o verdacho e o vermelhusco combinam com a corda (vermelha) e a caçamba (verde). Portanto, podemos substituir por "Esperança, paixão, fervor e cólera", não é mesmo?

DdAB

09 novembro, 2022

Prazeres Acima de Tudo

 



Apoiadores de Bolsonaro emocionados após a vitória de Lula
na Esplanada dos Ministérios. Hugo Barreto/Metropoles

Ainda estou estupefato. E quando deixarei de estar? Dizíamos nos anos 1960, no dia em que Garcia prender Zorro. Em compensação, escrevi no Facebook hoje:

Os prazeres mundanos se dividem em certos (os nossos) e errados (os deles). Em ambos os casos, vale a profunda filosofia alemã: "jedes Tierchen mit seinem kleinen Vergnügen". A ela (Marx, Engels, um colono que me é aparentado e outros), o Google Tradutor avisa ser "Cada animalzinho com seu prazerzinho". Quando falo em prazeres errados, estou pensando na extrema direita mundial.

Segue-se logicamente que minha querida professora e amiga Ana Maria Bianchi pediu-me para "desenvolver mais" a ideia explorando o lado irônico. Vou tentar imitar aquela personagem de William Somerset Maughan ou Aldous Huxley, muito querida por todos por causa de seu sutil senso de humor. Esclareceu-se que aquilo que a fazia notável era o fato de sempre dizer a verdade. E vou falar o que realmente penso da polarização esquerda-direita.

Na transição para o governo Lula a partir da "atual conjuntura", como diria Stanislaw Ponte Preta, depois de estarmos fugindo daquele "Samba do Crioulo Doido", que hoje se diria "Sertanejo do Afro-descendente padecendo de uma desordem cognitiva-psicológica", ouvi falar sobre a equipe econômica, de Pérsio Arida e André Lara-Rezende, de uma parte e, da outra parte, de Aloísio Mercadante e Nelson Barbosa tem divergências acentuadas no que diz respeito ao papel do estado na economia: estado mínimo para um lado (lado oeste) e estado indutor do crescimento econômico, para o outro lado (lado leste).

Na verdade esta parece-me ser a aparência da questão que tem raízes mais profundas, que atinge o zênite dos processos de escolha social: o que é mesmo que a sociedade (aquele vetor multi-dimensional de preferências por prazerzinhos, prazeres e prazerzões, positivos ou negativos) deseja para si, para as gerações futuras, inclusive seus descendentes. E chego ao âmago da questão: qual o grau de desigualdade desejado, qual o grau de aversão à desigualdade).

Tanto estudei a questão da desigualdade (e sempre vou louvar o livro de Jessé Souza cujo título "A Tolice da Inteligência Brasileira" tem por resposta: a inteligência não entende que o verdadeiro problema do Brasil não é nem a cordialidade nem a segmentação casa grande-senzala, mas a desigualdade) que talvez já tenha meus juízos obnubilados. Ainda assim, são os melhores juízos que posso formular: 

.a a sociedade igualitária é cheia de virtudes, todos seremos felizes, o crescimento econômico será vibrante e o meio ambiente será tratado como um jardim caseiro;

.b a chave da realização desse idílico ideal de igualdade é o emprego. Emprego privado, público, tudo formalizado, nada de emprego precário;

.c o governo será o empregador de última instância;

.d o emprego de cada setor gera efeitos direitos e indiretos nos empregos dos demais setores da economia: um cozinheiro do presídio terá o filho visitando a Disleylândia de Paris...

E que dizer dos países nórdicos? Eram meu ideal até aquele carinha militando o lado da doença, da truculência e falta de diagnóstico de seu narcisismo era mesmo o mundo tipo Noruega. Aí o infeliz matou 200. E que pude eu dizer? Que falhou o sistema em confundir liberdade de cultivarmos doenças com liberdade de nos realizarmos em benefício de todos.

DdAB