Querido diário:
Como sabemos, os Estados Unidos estão vivendo um certo inferno astral. As eleições que podem levar um republicano ou um democrata ao poder têm o pior dos dois mundos: os democratas (Obama) ou os republicanos (Romney). Mas ainda pior e, talvez, desempenhando o mesmo papel que o atentado de 11 de setembro 2001 desempenhou na reeleição de Bush. A solidariedade nacional favorece a situação. Disse uma dessas personagens de ficção científica que ainda circulará por um de meus romances: "viver em planeta é perigoso". Claro, furacão para cá, terremoto para lá, vulcão ativo do lado de cima, ditadura sangrenta do lado de baixo, e por aí vai. A barreira da escassez ainda não está perto de ser vencida por aqui. Quero dizer: não é por isto que existe fome na África, mas que ajudaria a aplacá-la o fato de naves espaciais cararegarem toda aquela população, viajando entre as estrelas, em espaços seguros para não serem tragados por buracos negros ou outras personagens que troteiam pelo universo.
E se fossem carregados? O fato é que faltam uns 14 bilhões de anos para este universo acabar ou, pelo menos, perder ímpeto, num volume de entropia próximo, assintoticamente próximo, do infinito absoluto, o fim da matéria, o fim dos tempos, o fim das naves e o fim de nossos descendentes, not to speak of ourselves. Neste sentido é que chegou-me às mãos o seguinte papelzinho, que transcrevo inserindo apenas correções ortográficas menores. Desnecessário dizer que a tradução é de minha autoria.
Jà fazia praticamente três bilhões de anos que se evadiram do colapso do sol do Terceiro Planeta. Deixaram de ser homens, deixaram de ser humáquinas, deixaram de ser bolas e mais bolas concêntricas, deixaram outra dezena de formas para trás. Estavam prestes a dar o grande salto, entrar no buraco negro, dar um salto equivalente àquele dado por seus antepassados mergulhados num pretérito ignoto, mas já sabidamente passível de ser recuperado antes do grande salto, que foi evadir-se da atração gravitacional do planeta em que evoluíram por dois bilhões de anos.
Despenderam menos de um milhão de anos para imprimir (impressão em 3D aqui, inclusive a fonte da imagem acima) a primeira nave do salto, outras segui-la-iam nos próximos três bilhões de anos. Tudo o que era relevante sreia reconstruído e preparado para a viagem, tudo, desde a primeira molécula que o acaso fez autorreprodutível.
A nave tinha uma camada protetora de terconite abcz de 16km de espessur. Os 5km iniciais seriam pulverizados com a redução da temperatura e da massa com que a nave seria sugada para o cerne do buraco negro, ao entrar em contato ele, ao aproximar-se, cheirá-lo, aquerenciar-se e... deixar-se mergulhar. Mas o núcleo estaria protegido, de sorte que o módulo interno, de um trilhão de seres independentes seria preservado. Montantes literalmente estratosféricos de energia seriam necessários, mas a travessia era dada como certa, não podia falhar, o computador central o assegurava há milhões de anos, calculando e recalculando.
Ele também iria migrar, na verdade, instantes antes da nave tripulada e instantes depois ajudar a orientá-la no mergulho ao cerne do buraco negro. Ele a despacharia e a recepcionaria praticamente no mesmo tempo, eles viajariam a uma velocidade média de um número estratosférico de vezes a velocidade da luz do universo conhecido. Daria certo, tinha de dar, não podia falhar, a preparação foi secular, per omnia secula seculorum. Se não desse certo, não teria havido história. Daria certo.
DdAB
P.S.: esta postagem está dando uma repercussão danada. então vai um apêndice:
Não poderiam viver sem matéria, mas não tinham medo de não poderem produzi-la à vontade depois da transição do buraco negro para um ambiente mais estável. sabiam que iriam produzi-la assim que se estabilizassem. A escassez que os acompanhava desde sempre, desde suas origens terráqueas, iria ser vencida, como sempre.
3 comentários:
Querido Profe:
"Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida." Se o Riobaldo estiver certo, cá ou lá, sempre será perigoso - hehehe.
Brena.
Oi, B.P.
Eu não tinha pensado nisto: do lado de lá, também enfrentaremos perigos. Eu prefiro o lado de lá, a julgar pelos perigos que hoje corro -que considero menos letais-, comparativamente aos que meus bisavós corriam.
DdAB
Também achei que pode ter chegado a hora de vc inaugurar uma segunda carreira. Com o Saramago foi assim...
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