Querido diário:
Eu já vira notícias alguns dias atrás, um leilão anunciado. Agora é ex post. Já existe um vencedor declarado. Tudo na capa e p.32 de Zero Hora de hoje.
Mudando de assunto:
O Zago declarou que, desde que se estabeleceera com farmácia, jamais vendera tantos xaropes e pastilhas contra a tosse, tantos sinapismos, cataplasmas e linimentos. Os bolicheiros aumentaram sensivelmente a venda de cachaça A Casa Sol esgotou seu estoque de ponchos, capas e artigos de lã.
Aqui foi uma descrição feita por Érico Veríssimo na p.97 do segundo volume do "O Retrato", segunda metade do primeiro parágrafo da seção 1 do Capítulo XX (Companhia das Letras, 2012). Parece que lá o frio é que -se não virou mercadoria- acelerou o salto mortal das existentes.
Voltando a( permanecer n)o assunto.Catarina, a.k.a. Ingrid Migliorini estudava educação física, trancou, tentou a medicina, ouvia roquenrou, lia escritores com inicial Charles: Baudelaire e Bukowski. Nada se falou sobre Carlos Henrique Marques.Karl Marx, lá no volume 1 d'O Capital, tinha dito que, no capitalismo, tudo vira mercadoria, inclusive a honra.
Disse ela: "Opiniões são subjetivas: negócio ou prostituição, cada um diz o que quer." Ela decidira e ontem (um dia antes, na Austrália?) consumou-se um leilão de sua "virgindade". Tema delicado. Cada um leiloa o que quer ou pode. Diz também o jornal que um jovem russo leiloou a sua por meros US$ 6 mil. Ela, Catarina, ganhou US$ 1,6 milhões. Toda mercadoria tem preço, ainda que algumas não tenham valor (lá naquele sentido marxista de produzida com o auxílio de trabalho vivo). Naturalmente Catarina não é uma mercadoria, mas apêndices de seu corpo bem podem sê-lo. A sociedade não gosta da venda de órgãos humanos, acha antiético. Para mim, seria patético que os pobres abastecessem os ricos com peças de seus corpos (rins, corações).
Também não sou lá profundo conhecedor de ética para julgar a garota. Nem foi ela, aliás, que inventou a ideia do leilão. Em outras palavras, é possível que, desses 1,6 milhões, alguma fração quede-se na própria Austrália, sede da empresa promotora do leilão. E nem sei se ela, com isto, estaria vendendo a honra, o que certamente lhe seria tachado há 50 anos, quando voltei a residir em Porto Alegre. Minha previsão é que ela se tornará:
.a. apresentadora de programa de TV ou
.b. modelo da indústria da moda ou
.c. cantora de roquenrou ou
.d. personal trainer.
Da honra, bem sabemos, no Brasil contemporâneo. Diz-se que, além do processo do mensalão, há 190 nomes de políticos de escol sendo processados pelas mais variadas ilicitudes. A lei da ficha limpa parece que não foi bem entendida, pois a maioria dos government thieves segue ativa, eleita e reeleita.
Aliás, sou até mais qualificado para julgar Marx: aparentemente, nem tudo vira mercadoria no capitalismo. As falhas de mercado fazem o elogio da exceção. No caso, em Camboriú, temos um daqueles interessantes fenômenos de exploração desenfreada de bens públicos. Ou melhor, da destruição de um espaço de uso comum pela apropriação privada não regulamentada. Explico-me.
Consta que a demanda pela paradisíaca areia era tanta e tão grande a ânsia de transformar a paisagem em mercadoria que surgiu à beira da praia principal uma camada de edifícios que teve a indesejada consequência de lançar sombra à praia precisamente no horário nobre. Ouvi dizer que iriam fazer um aterro, voltando a ter uma boa exposição de areia para a moçada refestelar-se. Não sei se fizeram. Em o fazendo, se os edifício não pagaram sua parte, teremos clara a manutenção das consequências distributivas da postura de caroneiros dos construtores dos edifícios causadores da mazela, ou sombra dela.
DdAB
Lá em cima ou é uma praia ou a Meia Praia propriamente dita. Foto de conhecimento comum.
P.S.: Érico acrescentado às 15h26min.
P.S.S.: Errata de 28/out/2012: quem está por dentro do mercado de leilões saberá que errei na unidade de medida do lance vencedor: é reais e não dólares.
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