No outro dia, em pleno aeroporto de Porto Alegre, comprei o livro
STOKES, Philip (2012) Os 100 pensadores essenciais da filosofia. Rio de Janeiro: Difel.
Pois bem, comecei a lê-lo e o achei um tanto estilo piorado da Wikipedia: uma foto de cada 'filósofo', tudo gente morta, no máximo duas páginas de texto para cada um deles. Gente morta? Gente não é viva? Um morto é um homem? Parece que filosofo, na linha do que andei estudando na disciplina de Instituições de Direito, no ano de 1968, se é que andei por lá.
Como a compra foi mais ou menos induzida pela falta de exame mais profundo do material (inclusive eu iria comprar um segundo exemplar, que, felizmente, não estava disponível na livrariar, para presentear), decidi punir-me pelo atropelo lendo tudo de cabo a rabo.
Pois não é que achei pilhas de coisas interessantes? Isto implica logicamente que sou mesmo filósofo do nível da Wikipedia? Claro que muito menos. Esta enciclopédia século XXI é muito mais sabida do que eu em praticamente todos os assuntos, exceto, claro, minha biografia...
Seguiu-se logicamente à p.305 a p.306, que é o verbete sobre Albert Camus (1913-1960) onde pude ler um troço muito do baixo-astral:
todo o esforço de todas as épocas, toda a devoção, toda a inspiração, todo o brilho do meio-dia do gênio humano estão destinados à extinção na vasta morte do sistema solar, e todo o templo da realização humana deve inevitavelmente ser enterrado sob os escombros de um universo em ruínas.
Autor? Bertrand Russel, citado em pleno verbete de Camus. Quando li isto, pensei: bem que apliquei este dinheirinho neste livrinho, agora, toma na cabeça! E evoquei duas frases que já me fizeram refletir: o pessimismo de Friedrich Engels e o otimismo (?) de Ilya Prigogine:
Engels:
“Em
sua ‘Dialética da Natureza’, os vínculos da ciência natural com a dialética são
extremamente expandidos. Os manuscritos sobreviventes começam com uma visão do
desenvolvimento da ciência moderna e então fazem as mediações entre as origens
do sistema solar e antevê um tempo em que a redução do calor do sol não será
mais suficiente para degelar o gelo, lançando-o dos pólos às áreas tropicais,
quando a raça humana ficará aglomerando-se em torno do equador e nem lá, finalmente,
encontrará calor suficiente para manter a vida; quando, gradualmente, mesmo o
último traço da vida orgânica desaparecer, e a Terra se tornar um globo gelado,
como a Lua, o que sobrará será um círculo da mais completa escuridão e, numa
órbita ainda mais estreita, um igualmente extinto Sol. Alguns dos demais planetas
terão precedido o colapso da Terra, outros a seguirão. Ao invés do brilhante e
aquecido sistema solar, com seu harmonioso arranjo de membros, apenas uma
esfera fria e morta vai ainda perseguir seu solitário caminho para o espaço
sideral. [...] Esta visão pessimista é contrarrestada pela certeza de que a
matéria se mantém eternamente a mesma em todas as suas transformações, que
nenhum de seus atributos pode jamais ser perdido e, portanto, também que, com a
mesma necessidade férrea, ele vai exterminar na Terra a mais alta forma de
criação, a mente pensante, e deve-se em algum outro lugar e em outro tempo
produzi-la novamente’.”
Contra isto, Prigogine e Stengers
(1990, p. 302-303) apresentam o breve produzido por Charles S. Pierce, em que
sequer cabe inserir a palavra pessimismo. Ao contrário, o que há é um vibrante
otimismo e mesmo um insight poderoso para a compreensão do capitalismo
contemporâneo. Tal é possível, caso seja lembrada a chamada Lei de Gibrat, que
sustenta que os processos de mercado levam, por mecanismos puramente aleatórios,
da atomização de firmas à sua concentração:
“Todos
já ouvimos falar na questão da dissipação da energia. Sabe-se que, em todas as transformações
de energia, uma parte é convertida em calor e o calor tende sempre a equalizar
sua temperatura. A conseqüência é que a energia do Universo tende, em virtude
de suas leis necessárias no sentido de uma morte do Universo, em que não haverá
mais força, a não ser calor e as temperaturas idênticas em todos os pontos ...
Mas,
ainda que nenhuma força possa contrarrestar esta tendência, o acaso pode e vai
exercer uma influência oposta. A força não pode contrarrestar esta tendência,
pois a longo prazo ela é dissipativa. Por contraste, o acaso é, a longo prazo,
concentra dor. A disseminação da energia através das leis regulares da natureza
é, em virtude dessas próprias leis, acompanhada por circunstâncias mais
favoráveis à reconcentração através da ação do acaso. Deve ocorrer, assim um
ponto em que as duas tendências tendem a se balancear e esta é, sem dúvida, a
presente condição do universo na atualidade.”
Parece que chegou a hora de:
.a. fugirmos do colapso do Sol
.b. organizarmos as coisas para também evadirmos do colapso do Universo
.c. mas se não tiver colapso no sentido de Big Crunch ou uma explosão expansiva então haverá uma expansão eterna, o que faz com que a visão de Prigogine seja mais aprazível: daqui a uns tempos, invertemos a entropia e começamos tudo novamente.
Pode?
DdAB
Imagem: aqui.
2 comentários:
Ei, Profe:
não sei se entendo direito o que todos esses filósofos (e físicos) dizem. Só sei é que gosto bem da ideia que minha descendência longínqua estará salva, daqui a algumas centenas (milhares?) de anos, colonizando algum planetinha de Alpha Centauri. Só fico um pouco apreensiva ao lembrar que não há base racional que sustente a crença de que, se a ciência nos salvou uma, duas, três,..., mil vezes, então ela nos salvará também desta derradeira. Mesmo assim vou continuar torcendo para que assim seja. Hehehe.
Brena.
oi, B.P.:
se bem lembro coisas que li, já se vão anos e anos (décadas, no plural?) que a/s primeira/s nave/s humana/s deixou/aram o sistema solar. Nâo existe razão para desprezarmos a ideia de que, em mais dois ou três séculos (milênios?) teremos uma migração de, digamos, 10 bilhões de humanos. Se é que haverá tanta gente, o que acredito ser desejável, ainda que não seja provável.
DdAB
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