Indaguei ao prof. Conrado (blog aqui) que lhe parecia "certo":
1) Talvez foi em agosto que vi a estrela.
2) Talvez tenha sido em agosto que vi a estrela.
Indiquei que minha preferência recaía na segunda forma. Sua primeira e importante lição está aqui:
Essa coisa de "certo" e "errado" é sempre complicada. Digamos, de saída, que não há certo nem errado na fala de falante nativo. Tal posição é, claro está, bastante radical. Mas partamos dela e façamos, as we move along, os devidos ajustes.
E prosseguiu:
Como tu, eu também prefiro a frase (2). Isso terá a ver com nossa intuição de falantes nativos letrados, evidentemente, mas, para além disso, penso haver bons argumentos para defender (2) contra (1):
(a) O advérbio "talvez" , porque "indica possibilidade, mas não certeza" (cf. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa -- DEULP) se emprega com muita frequência no subjuntivo, bem mais que no indicativo. Assim, no indicativo, como na frase (1), não estaria "errado": tudo depende do que se terá querido dizer. Isso não sabemos (eu pelo menos não o sei), porque uma frase pouca coisa nos informa se não a temos inserida num contexto específico. Dizemos que as palavras e as frases isoladas têm "significado", mas, sem um contexto, não terão "significação" ou "valor".
(b) Observo no mesmo DEULP que há usos "formais" do talvez em que se usa o indicativo, mas nestes já não parece haver mais o sentido de "possibilidade" e "incerteza". Vejamos os exemplos:
3) Plantas não aguadas t. medram nesse terreno turfoso. (Sentido de "talvez": ocasionalmente, eventualmente; alguma vez .)
4) T. ele, num bom repasto, começa a beber demais. (Sentido: às vezes; por vezes.)
Não me parece que algum desses sentidos em (3) e (4) possa se ajustar ao contexto em (1). Que te parece?
Em resumo, dado o sentido inicial de "talvez", o de "incerteza", "possibilidade", o modo subjuntivo se mostraria mais adequado do que o indicativo, ainda que não devamosv categoricamente excluir o indicativo (ao menos sem considerar mais detidamente o contexto). Observe-se este exemplo com indicativo no DEULP:
(5) Estes são, t., os únicos exemplares da espécie que sobreviveram. (Em lugar de "...tenham sobrevivido", que certamente contribuiria com o grau de "incerteza".)
Uma última observação. Comparem-se as três frases abaixo:
(6) a. Estes são, t., os únicos exemplares da espécie que sobreviveram. (= 5)
b. Estes são, t., os únicos exemplares da espécie que tenham sobrevivido.
c. Estes são, t., os únicos exemplares da espécie que sobrevivam.
d. Estes são, t., os únicos exemplares da espécie que sobreviverão.
(6a) = pouca incerteza, quem sabe incerteza retórica (indicativo).
(6b) = incerteza quanto ao que se tenha passado (subjuntivo).
(6c) = incerteza quanto ao que ocorra no futuro (subjuntivo).
(6d) = incerteza quanto ao futuro, mas atenuada (indicativo).
Depois disto, achei por bem estudar tudo tintim por tintim.
DdAB
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