Querido blog:
No primeiro dia de aula da faculdade de economia, deve-se ensinar ao aluno a diferença entre proposições ex ante e proposições ex post. As primeiras, também chamadas de planejadas, confrontam-se com as demais, chamadas de realizadas.
Assim, sabemos que ontem houve equilíbrio entre compras e vendas em todos os mercados imagináveis (e que realmente existiam). Este equilíbrio, como revelou o pretérito do verbo haver, é realizado, ocorreu ontem, está escrito para sempre nas páginas imutáveis da história. Agora, amanhã, posso prever que, se a demanda pelo produto que minha firma vende é de, digamos R$ 1.000, então se eu colocar precisamente estes R$ 1.000 no mercado, estarei em equilíbrio. Como o verbo estar encontra-se no futuro, não estamos falando de coisas realizadas, mas de eventos planejados, ex ante. E se eu produzir R$ 1.000, levar ao mercado e, lá chegando, vender apenas R$ 900? Aí estará significando que o equilíbrio planejado deu errado. E que o equilíbrio realizado deu R$ 900 = R$ 900, pois ninguém pode comprar de mim algo que eu não venda.
Dito isto, lembro-me de Lia Haguenauer discutindo o conceito de competitivade, quando recuperou estes conceitos (ex ante e ex post) para enquadrar os estudos da competitividade e mesmo a relevância do conceito. Quando criamos um índice para medi-la, provavelmente estaremos usando conceitos ex post. Mesmo concebendo que haverá modelos que nos permitam prever a competitividad, digamos, da China, para daqui a dois anos, o jeito mais potente de calcular é mesmo avaliar quanto este alcançou durante o ano passado.
Por fim, hoje vi no jornal que um policial sugeriu que, cada vez que formos assaltados, devemos escrupulosamente denuncair o fato a uma delegacia de polícia, para que os diligentes defensores da segurança pública possam mapear os locais de maior concentração de assaltos e aí, apenas aí, é que vão meter guardas para conter os réprobos.
Pensei direto: então precisamos ser assaltados hoje, a fim de evitarmos o assalto de amanhã. Pensei em seguida: não era mesmo eu que propunha a criação da Brigada Ambiental Mundial, em que o número de psicopatas, narcisistas e outros entes deletérios ao convívio social seriam encaçapados no xilindró?
DdAB
Imagem: aqui.
2 comentários:
Essa crítica usa os argumentos inversos dos libertarios contra a lei seca. Segundo eles, a repressão deve vir depois do acidente de trânsito e não antes. Impedir que o motorista beba antes de cometer o crime é errado, primeiro ele deve matar e só então a punição. Abs.
O bom mesmo é a prevenção. Ao mesmo tempo, ao lado da repressão, a punição também contribui para reduzir a criminalidade. Ontem um vizinho meu foi assaltado por dois meliantes. Eu lhe devia dizer que, na sociedade igualitária, um dos criminosos seria policial (com renda decente) e o outro estaria no xilindró (com tratamento punitivo decente).
DdAB
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