28 maio, 2013

O Papa, o Feliciano e o Crime: moralismo em dois tempos

Querido diário:
O Moralismo I é da p.6 de Zero Hora de hoje, com uma noticiazinha dizendo que o sr. pastor deputado Marco Valério, digo, este já saiu da moda, Marco Feliciano, do Partido Social Cristão de Sampa teve a acusação que sobre ele pesava de ter detonado um 1.7.1 (estelionato) retirada. Ou seja, no homem é inocente. O Moralismo II é da p.31. Este é o do sr. papa Francisco de Tal, que quer que a negadinha passe a ter pelo menos dois filhos, que um filho apenas é egoísmo.

Cara, cada uma. Quanto ao Moralismo I, disseram que, em 2009, o deputado ganhou R$ 13mil para animar um evento religioso e não compareceu. Por que foi inocentado? Ele provou que seu pagamento foi feito fora do prazo combinado e, ademais, tentou devolver o dinheiro, mas não houve acordo. Aí os juristas acharam que nada acharam sobre intenção de afanar. Sobre as questões antropofóbicas, nada foi dito.

Cada uma, cara. O Moralismo II tem cada uma, cada uma. Aí o senhor diretor da Faculdade de Teologia da PUCRS, prof. Leonardo Chiarello (não localizei Lattes), de quem não tem mais de um filho:

É uma ação egoísta de muitos casais. As pessoas não estão sendo generosas, pois poderiam ter mais filhos e não os têm. Isso gera consequências nefastas para a sociedade.

Realmente, nem sei o que dizer: generosidade relativamente ao quê? Parece-me óbvio que se ninguém mais tiver filho (aliás é o que pensam os defensores do aborto obrigatório, a única razão para sermos contra, não é mesmo?), a sociedade se extingue em, digamos, 120 anos. Mas como é mesmo que, fora esta questão horripilante, o fato de um casal decidir não ter filhos iria destruir a sociedade? Os dois tempos do moralismo se fundem em um: abaixo a escolha individual, viva a escolha orientada por abnegados.

Diz ainda o jornal:

Chiarello admite que, por trás da fala [papal], também está a preocupação com o futuro da Igreja. Segundo ele, a cultura muçulmana - com famílias mais numerosas - tende a se expandir para o Ocidente, fazendo o número de muçulmanos superar o de cristãos.

Eu nunca levara a sério, por chavonesca, aquela interpretação de que a Igreja é contra o planejamento demográfico, pois gosta de gente pobre, que se torna religiosa, fiel ao padre.

DdAB
Imagem: aqui.

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