08 maio, 2013

O Ponto Final

Querido diário:
Pelo que pude calcular, neste blog, usei já oito vezes a expressão "ponto final", no sentido de que eu ou outros o andamos pingando. O que não conferi é se contei a história que minha memória fraca metida a forte achava que no final dos Subterrâneos da Liberdade, Jorge Amado acabava a história com um militar executando algum comunista, dando-lhe um tiro na cabeça, "como quem pinga um ponto final." Ao reler  (talvez a quarta leitura) há pouco tempo O Senhor Embaixador, de Érico Veríssimo, constatei de onde viera este ponto final em seu curto e último ultimorum parágrafo:

O tenente tirou o revólver do coldre e, a cara tensa, aproximou-se do corpo ainda estrebuchante de Gabriel Heliodoro Alvarado e meteu-lhe uma bala no crânio, como quem pinga o ponto final numa história.

E agora há poucos dias, ao reler (pelo menos pela segunda vez) Caminhos Cruzados, achei dois pontos finais, além do ponto final propriamente dito. Não falarei deste, mas dos situados às p.232 e 300 (e não garanto que inexistam outros em outras páginas):

p. 232
Estão conversando ao telefone Teotônio Leitão Leiria e sua esposa, d. Dodó:

Dois beijos estralados que partem simultaneamente de cada extremidade do fio pingam o ponto final ao rápido diálogo telefônico.

p. 300
Antepenúltimo parágrafo-de-uma-única-linha, o prof. Clarimundo está encerrando a introdução imaginária a seu livro sobre o homem de Sírius, ele que acaba de comprar uma cafeteira. Olha por onde andamos:

Clarimundo pinga o ponto final com entusiasmo.

Seguem-se mais dois paragrafinhos:

Olha para a chaleira e tem um sobressalto. A água ferve, a tampa dá pulinhos, ameaçando saltar, enquanto pelo bico jorram pingos de água fervente. Clarimundo ergue-se num pincho e vai tirar a chaleira do fogo.

Quase me acontece um desastre! - pensa. E fica-se, muito alvoroçado a preparar o café.

E eu eximo-me de pingar um ponto final!

DdAB
Imagem daqui. Tem tanto restaurante "ponto final" que lembrei que no sudoeste da Inglaterra também tem seu "land's end" e dezenas de pubs dizendo-se a última chance de empinar uma cerveja antes de se cair no mar.

P.S. E, aos 29/mar/2017, 17h46min, achei na página 190 do volume 2 d'O Retrato, segunda parte d'O Tempo e o Vento, edição Companhia das Letras de 2005, mais ponto final:

   Terminada a leitura, Rodrigo tornou a dobrar o papel, metendo-o no bolso com um gesto brusco que valeu como um ponto final.

abcz

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