Sou preciso aqui e impreciso pelo lado de lá, ou preciso lá e impreciso cá. Preciso ser criterioso. Serei preciso ao dizer que a motivação desta postagem reside no artigo de Abrão Slavutsky publicado na Zero Hora de 7/maio/2013 (aqui)? Ele falou de muitas coisas, cabendo-me precisar que citou os versos que sempre vi serem atribuídos por Caetano Velloso a Fernando Pessoa que os atribuiu aos velhos navegadores portugueses:
Navegar é preciso. Viver não é preciso.
Olha que lindo o que entendo como ele (Abrão Slavutsky) interpreta:
quem navega orientando-se pelas estrelas e bússolas
alcança mais precisão na chegada ao destino
do que quem vive apoiando-se apenas em seus cinco sentidos.
Aqui temos uma versão em que o assunto começa com Fernando Pessoa e recua a um general romano (não, não foi o general Duilio). Então era no sentido: mais importante do que viver é navegar, levar os cereais da Sicília a Roma. Aqui tem mais. E aqui diz (citação não 100% ABNT):
Navigare necesse; vivere non est necesse - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.
E eu? Logo eu, que tinha este LP daqueles tempos, e que nunca chegara a saber tanto sobre o tema? E será que tudo sei hoje? Viver não é tão preciso assim que dê respostas factuais insofismáveis. Afinal, a canção de Caetano Velloso termina abruptamente dizendo: "é preciso viver". Não foi isto?
DdAB
P.S.: amanhã confiro se o que segue é mesmo verbatim um poema de Fernando Pessoa:
Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
P.S.S.: a fim de dar uma resposta condizente com a bondade do comentário do Bípede Pensante, li (diagonalizando) toda a postagem original. Um ponto da diagonal que me feriu como uma flecha (Barthes, hehehe) é que falei em quatro sentidos e não nos convencionais cinco. Corrigi lá em cima, para não dar vexame ou ser chamado de Planeta Herra!
2 comentários:
Isso foi muito lindo, Professor.
P.S. E o código de hoje, que a máquina me pede para provar que não sou outra máquina, é "letssail". Pode isso?
Linda professora!
Parece magia: às vezes, a prova de que não somos máquinas é achar que o teste é encantador!
DdAB
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