Querido diário:
Ilustra-nos hoje a p.83 do livro de Patrícia Portela a que me referi ontem e que ocupa o primeiríssimo lugar na listagem de obras de leitura literária que encontram-se sob meus olhos (em diferentes espaços, como o banheiro e a sala de visitas, e diferentes tempos, como ontem, hoje e amanhã e linkadas aqui). Achei muito engraçado, ou seja, comecei achando trivial aquele "tive", já comecei a entender a brincadeira com "uma vertigem" e caí na risada com o "congelei". O próprio tremidinho do pânico ilustra a possibilidade bidimensional de sentirmos a desagradável sensação que assola os seres tridimensionais quando defrontados com o deus Pã.
Há tempos tenho falado na impressão em 3D, que achei uma das mais sensacionais inovações surgidas desde, pelo menos, a máquina de lavar roupa (ver memórias sobre a velhinha francesa de Chalmazel, aqui). Mas o "Para Cima e não para o Norte" deixa-me abismado, abismado, abismado. Primeiro vem direto isto mesmo: ler é bidimensional, o que nos é acessível (você e eu) porque somos ou seres bidimensionais ou tridimensionais. É fácil imaginar -informou-me Márcio Rosa- que um ser tridimensional pode mexer até no coração de um bidimensional sem que este note ou se insurja. E que os tetradimensionais terão/teriam tais poderes com relação a nós, bidimensionais ou tridimensionais.
Por outro lado, lembra-me Stephen Pinker a convenção social importante de que "escreve-se como se lê", o que deixa em maus lençóis aquela turma do "eles pesca os peche". Afinal, o que haveria de errado em "eles pescam os peixes". Digamos que o personagem bidimensional de Patrícia Portela tenha-nos lido até este ponto. Seguir-se-ia logicamente que ela diria (ipsis litteris):
.a. De onde vieram estas palavras por onde deslizei se não estão escritas?
.b. E de onde vieram estas letras e por que apareceram por esta ordem?
.c. Todas as palavras que se leem já foram escritas.
.d. As palavras são palavras porque foram escritas e porque se leem.
.e. As letras são códigos que produzem Espaço
Esta última (.e.) é a mais genial de todas as frases que já li desde que o Grêmio foi eliminado. A verdade é que, mesmo quando eu penso apenas na letra G, o que me vem à mente não é o ente bidimensional que idealmente a letra G forma. Vem-me, de modo enclítico, um sólido com comprimento-altura-largura variáveis, o mínimo deles medindo uns poucos infinitésimos de micron. Um troço destes.
DdAB
2 comentários:
A palavra palavra é uma palavra.
Aquelas óbvias conclusões que quando nos damos conta nos impressionamos.
Lembrei da questão da minha prova de lógica, onde perguntava se a sentença "essa frase é falsa" é uma proposição.
Se fosse falsa ela proporia algo verdadeira, mas se fosse verdadeira proporia algo falso.
O que me fez lembrar do método dialético explicado pelo monitor de Marx, "algo é e não é".
Marx não gostava de proposições.
rs
Abs
É, agora vejo que tem diferença entre "algo é e não é" e o Hamlet com seu "ser ou não ser".
DdAB
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