Temos acima uma argumentação ad hominem, segundo o site a que se chega ao clicar aqui. Não contesto, embora acredite que -dado que todos, todinhos, nos originamos no mesmo ponto ligeiramente mais velho do que o pré-big-bang- que somos as faces do mesmo multifacetado poliedro universal. Ou seja, não veria lugar para inimizades entre humanos, entre humanos e bactérias, essas coisas. Nem sei se veria sentido no conceito de cadeia alimentar, sob o ponto de vista normativo. Positivamente, claro que precisamos -errare humanum est- destruir outros seres vivos para sobrevivermos.
E que dizer, neste caso, do artigo do governador do Rio Grande do Sul na p.11 da Zero Hora de hoje? Digo o seguinte: parece matéria paga. O título é "Diálogo e federação". E o que ele está tentando fazer é argumentar que sua iniciativa:
O que pleiteamos no Supremo [tribunal de justiça federal] é que a correção monetária do piso [estabelecido por autoridades federais para a remuneração de ingresso na carreira do magistério em todo o Brasil] deva ser feita com base na inflação e que os aumentos salariais reais devem ser constituídos, para além da inflação anual, pela negociação dos [e]stados com os sindicatos locais, como aliás está ocorrendo aqui no Rio Grande do Sul.
Abri direto minha garrafa de cachaça. Pensei: "vem coisa". E não demorou:
[...] os professores do Rio Grande do Sul conquistaram aumentos reais extraordinários, comparativamente a todos os governos que nos precederam.
Imaginando, só para argumentar, que os governos anteriores tenham concedido aumentos reais de zero por cento, então o aumento extraordinário poderia ser de, digamos, setecentos bilhões por cento, mas, implicando elevação salarial de, digamos, 0,001%, ou seja, um milésimo de ponto percentual. Sobre valor inicial nulo, todo crescimento é explosivo. Aritmética. Que não vai rolar, se os professores não ganharem bons dinheirinhos no fim do mês. Fora os governos que deram perdas reais e os montões de professores que ficaram com seus salários atrasados por falta da capacidade de pagamento dos estados.
Concluo este ponto: no outro dia, falei que estados incapazes de pagar despesas federativas devem ser rebaixados à condição de territórios. Não pode pagar? Bufou? Fecha!
Mas tem outro ponto: o título fala em "federação", mas parece que temos mais uma vez a intenção de apartar o Rio Grande do Sul do resto dos estados, nem se fala em orçamento público nem em gasto universal.
Um conselho do governador Tarso ao ministro da educação, deputado Aloísio Mercadante:
[...] o ministro Aloizio Mercadante deveria exercitar a sua capacidade de diálogo com o servidores das universidades federais, em vez de procurar dar receita para os [e]stados, como o nosso, que negociam, não só com os servidores, mas com o a sociedade civil, todas as suas políticas públicas.
Descontado o ligeiro tropeção alemão ("o salsicha", "o sociedade civil", "o faca", "a garfo"), isto é o que se chama de crítica ad homimem. Ou seja, não estamos falando dos méritos da iniciativa de melhor remunerar as professorinhas, mas da incapacidade ministerial de dialogar.
E esta frase não está fora de contexto: é uma proposição central para o clima do artigo:
[... normas federais que violam a autonomia federativa [...]
No caso, estamos falando da norma que cria o salário mínimo das professorinhas. Agora, claro que os estados podem ter salários mínimos para o que bem entenderem. E o governo federal também. E estado que não conseguir unir-se à federação deve ser enjaulado para fazê-lo, pois a separação é impossível, sob o ponto de vista constitucional.
Final apoteótico:
E seguimos trabalando por uma educação de qualidade, com todos os professores e servidores da [e]ducação.
A educação em containers, a educação de meio turno, a educação de escolas desocupadas. Parece que os governos tem como primeira medida a adoção de um não-é-comiguismo, ou seja, o sistema representativo que ungiu ao poder outro partido não é reconhecido como governo pelo governo atual. A descontinuidade das políticas daí emergente só pode ser saudada com outra garrafa de cachaça.
DdAB
4 comentários:
Cadê o título dessa postagem, Professor? E eu consegui comentar. Isso com certeza deve bastar para provar que não sou um robô - hehehe.
Que texto incrivel, como todos os demais deste blog. Quando um Professor me falou do Blog Planeta 23, que eu poderia ler matérias inteligentes e apreender economia decente, o mesmo não estava enganado. Parabenizo o Prof. Duilio pelo excelente blog, que em muito tem me acrescentado conhecimento.
Descobri que não sou o único que bebe para ler o jornal da região.
Deixarei uma pergunta ao professor! Que tal propormos que uma empresa Jr do curso de Ciências Econômicas, para governar o estado?
Gente! Esqueci o título! Agora que a B.P. falou, acho melhor deixar assim mesmo, para a posteridade, se é que 15 ou 20 bilhões de anos não bastam.
E o comentário do Elvis me desvanece e valoriza minha proposta de passarmos a administração da justiça a uma empresa júnior originária do exterior. No caso, parece-me muito mais sensato termos a empresa júnior consorciada dos cursos de economia do sul do Brasil (já meteríamos também os alunos da profa. Brena) a administrar a federação de municípios que, assim, substituiria, os governos estaduais.
DdAB
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