09 setembro, 2012

(Postagem sem título, mas com conteúdo febril)

Querido diário:
Temos acima uma argumentação ad hominem, segundo o site a que se chega ao clicar aqui. Não contesto, embora acredite que -dado que todos, todinhos, nos originamos no mesmo ponto ligeiramente mais velho do que o pré-big-bang- que somos as faces do mesmo multifacetado poliedro universal. Ou seja, não veria lugar para inimizades entre humanos, entre humanos e bactérias, essas coisas. Nem sei se veria sentido no conceito de cadeia alimentar, sob o ponto de vista normativo. Positivamente, claro que precisamos -errare humanum est- destruir outros seres vivos para sobrevivermos.

E que dizer, neste caso, do artigo do governador do Rio Grande do Sul na p.11 da Zero Hora de hoje? Digo o seguinte: parece matéria paga. O título é "Diálogo e federação". E o que ele está tentando fazer é argumentar que sua iniciativa:

O que pleiteamos no Supremo [tribunal de justiça federal] é que a correção monetária do piso [estabelecido por autoridades federais para a remuneração de ingresso na carreira do magistério em todo o Brasil] deva ser feita com base na inflação e que os aumentos salariais reais devem ser constituídos, para além da inflação anual, pela negociação dos [e]stados com os sindicatos locais, como aliás está ocorrendo aqui no Rio Grande do Sul.

Abri direto minha garrafa de cachaça. Pensei: "vem coisa". E não demorou:

[...] os professores do Rio Grande do Sul conquistaram aumentos reais extraordinários, comparativamente a todos os governos que nos precederam.

Imaginando, só para argumentar, que os governos anteriores tenham concedido aumentos reais de zero por cento, então o aumento extraordinário poderia ser de, digamos, setecentos bilhões por cento, mas, implicando elevação salarial de, digamos, 0,001%, ou seja, um milésimo de ponto percentual. Sobre valor inicial nulo, todo crescimento é explosivo. Aritmética. Que não vai rolar, se os professores não ganharem bons dinheirinhos no fim do mês. Fora os governos que deram perdas reais e os montões de professores que ficaram com seus salários atrasados por falta da capacidade de pagamento dos estados.

Concluo este ponto: no outro dia, falei que estados incapazes de pagar despesas federativas devem ser rebaixados à condição de territórios. Não pode pagar? Bufou? Fecha!

Mas tem outro ponto: o título fala em "federação", mas parece que temos mais uma vez a intenção de apartar o Rio Grande do Sul do resto dos estados, nem se fala em orçamento público nem em gasto universal.

Um conselho do governador Tarso ao ministro da educação, deputado Aloísio Mercadante:

[...] o ministro Aloizio Mercadante deveria exercitar a sua capacidade de diálogo com o servidores das universidades federais, em vez de procurar dar receita para os [e]stados, como o nosso, que negociam, não só com os servidores, mas com o a sociedade civil, todas as suas políticas públicas.

Descontado o ligeiro tropeção alemão ("o salsicha", "o sociedade civil", "o faca", "a garfo"), isto é o que se chama de crítica ad homimem. Ou seja, não estamos falando dos méritos da iniciativa de melhor remunerar as professorinhas, mas da incapacidade ministerial de dialogar.

E esta frase não está fora de contexto: é uma proposição central para o clima do artigo:

[... normas federais que violam a autonomia federativa [...]

No caso, estamos falando da norma que cria o salário mínimo das professorinhas. Agora, claro que os estados podem ter salários mínimos para o que bem entenderem. E o governo federal também. E estado que não conseguir unir-se à federação deve ser enjaulado para fazê-lo, pois a separação é impossível, sob o ponto de vista constitucional.

Final apoteótico:

E seguimos trabalando por uma educação de qualidade, com todos os professores e servidores da [e]ducação.

A educação em containers, a educação de meio turno, a educação de escolas desocupadas. Parece que os governos tem como primeira medida a adoção de um não-é-comiguismo, ou seja, o sistema representativo que ungiu ao poder outro partido não é reconhecido como governo pelo governo atual. A descontinuidade das políticas daí emergente só pode ser saudada com outra garrafa de cachaça.

DdAB

4 comentários:

Bípede_Pensante disse...

Cadê o título dessa postagem, Professor? E eu consegui comentar. Isso com certeza deve bastar para provar que não sou um robô - hehehe.

Elvis Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Elvis Santos disse...

Que texto incrivel, como todos os demais deste blog. Quando um Professor me falou do Blog Planeta 23, que eu poderia ler matérias inteligentes e apreender economia decente, o mesmo não estava enganado. Parabenizo o Prof. Duilio pelo excelente blog, que em muito tem me acrescentado conhecimento.

Descobri que não sou o único que bebe para ler o jornal da região.
Deixarei uma pergunta ao professor! Que tal propormos que uma empresa Jr do curso de Ciências Econômicas, para governar o estado?

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Gente! Esqueci o título! Agora que a B.P. falou, acho melhor deixar assim mesmo, para a posteridade, se é que 15 ou 20 bilhões de anos não bastam.

E o comentário do Elvis me desvanece e valoriza minha proposta de passarmos a administração da justiça a uma empresa júnior originária do exterior. No caso, parece-me muito mais sensato termos a empresa júnior consorciada dos cursos de economia do sul do Brasil (já meteríamos também os alunos da profa. Brena) a administrar a federação de municípios que, assim, substituiria, os governos estaduais.
DdAB