caro blog:
mantendo-me fora do clima eleitoral que agora mostra loteamentos de cargos, nepotismo, discriminação, subsídios cruzados, o cão chupando manga e por aí vai, decidi pular para os grandes autores de filosofia política. nem tudo li, nem, menos ainda, lerei. ou melhor, não é bem isto... seja como for, diz-se em português o seguinte:
Com isto [ou seja, as três principais causas de discórdia: competição, desconfiança e glória] se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens. Pois a guerra não consiste apenas na batalha, ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de travar batalha é suficientemente conhecida. Portanto a noção de tempo [sic] deve ser levada em conta quanto à natureza da guerra, do mesmo modo que quanto à natureza do clima. Porque tal como a natureza do mau tempo não consiste em dois ou três chuviscos, mas numa tendência para chover que dura vários dias seguidos, assim também a natureza da guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para tal, durante todo o tempo em que não há garantia do contrário. Todo tempo restante é de paz.
Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção. Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta.
o que é é que é casca grossíssima. e, em inglês:
Hereby it is manifest, that during the time men live without a common power to keep them all in awe, they are in that condition which is called war; and such a war, as is of every man, against every man. For WAR [sic], consisteth not in battle only, or the act of fighting; but in a tract of time, wherein the will to contend by battle is sufficiently known: and therefore the notion of time [sic], is to be considered in the nature of war; as it is in the nature of wheather. For as the nature of foul wheather lieth not in a shower or two of rain; but in an inclination thereto of many days together: so the nature of war, consisteth not in actual fighting; but in the known disposition thereto, during all the time there is no assurance to the contrary. All other time is PEACE [sic].
Whatsoever therefore is consequent to a time of war, where every man is enemy to every man; the same is consequent to the time, wherein men live without other security, than what their own strenght, and their own invention shall furnish them withal. In such condition, there is no place for industry; because the fruit thereof is uncertain: and consequently no culture of the earth; no navigation, nor use of the commodities that may be imported by sea; no commodious building; no instruments of moving, and removing, such things as require much force; no knowledge of the face of the earch; no account of time; no arts; no letters; no society; and the life of man, solitary, poor, nasty, brutish and short.
e se era casca grossa em português, thou can imagine este troço com os arcaísmos ingleses. lembra o que já postei há tempos sobre Platão, a desigualdade e a guerra civil! seja como for, o texto em português encontra-se nas p.75-6 do capítulo XIII (Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria), de Thomas Hobbes, da coleção Os Pensadores, da editora Abril Cultural. de sua parte, o texto em inglês retirei-o do box da p.325, intitulado War and Peace, de Hargreaves-Heap, S. et al (1992) The theory of choice; a critical guide. Oxford, UK & Cambridge, USA: Blackwell. In fine, eles dizem: Hobbes, 1651, ch.13).
DdAB
p.s.: esta foto, um tanto inspiradora do clube da baixaria, veio daqui.Mas ainda temos esta aqui:
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