Querido Blog:
Fosse esta uma postagem sobre "Vida Pessoal", eu diria que "Avenger" era a marca de meu automóvel oxfordiano. Dado o preço de compra e o de revenda, decidi cognominá-lo "Etelvino", pois sua latada pareceu-me assemelhada à de um Secretário de Estado que conheci, de passagem por Jaguari, quando um trem da VFRGS (não confundir com UFRGS, meu antigo patrão) descarrilhou e dele caiu um piano de cauda, que foi, em seguida, roubado por um político de outro estado.
Mas, uma vez que a postagem deixa-se ler como "Economia Política", preciso dizer que encontrei a efígie acima, e o Mr. Dave Rogers, buscando "smash crime", expressão que ontem ou ante-ontem, não lembro, veio-me à cabeça. Obviamente, não odeio lixo seco, nem o meio-ambiente, nem adoro drogas. Odeio, devo admitir, os políticos e ladrões, o que dá na mesma. Ambos roubam pianos e tudo o mais que tem caráter contingente. Em especial, gostam de liquidez, ou seja, tentam empalmar principalmente componentes do M1, mas vão além, claro. Primeiro: o Banco Central não deveria permitir mais saques em dinheiro, como já andei sugerindo. Uma vez que o salário mínimo é de R$ 500 e dura um mês, não haveria razão para ninguém sacar do banco mais do que R$ 125,00 por semana. Todo mundo deveria ter conta no banco, todo mundo deveria ter casa para morar, todo mundo deveria receber do Sr. Banco Central, na conta bancária, pelo menos R$125 por semana para garantir-se uma existência digna. Renda básica.
O Proféssor Milton Friedman fez o maravilhoso raciocínio sobre a tabela proporcional ou progressiva do imposto de renda: se quem ganha mais paga mais, quem ganha menos deve ganhar algo. Sem um -quase literalmente- basic stuff, ninguém pode ser declarado livre, a exemplo dos escravos do Dr. Inocêncio de Oliveira, conforme postagem que fiz por aqui há algum tempo.
Agora convenhamos: se é preciso de dinheiro para um indivíduo exercer amplamente sua liberdade, imagina onde vai parar este substantivo comum quando a gente é submetido a assaltos estilo cheek-to-cheek. Quer dizer, uma coisa é um doutor desses detentores de imunidade parlamentar roubar a merenda das criancinhas que -só por vingança- passaram a consumir crack e matar pais e mães e vice-versa. Outra coisa bem diferente é um analfabeto, sem gravata, sem dentição completa, cabelo mal-ajambrado, barba mal feita, inclusive com navalhaços aqui e ali, sem banho e sem conhecimento de Excel, um destes, repito, assaltar a gente e levar nosso relógio, cheirar nosso perfume, levar nossa carteira profissional, levar as moedinhas, levar os inteirinhos, levar os cartões de crédito e débito, os talões de cheque, as obras completas de Machado de Assis (da edição de 2008 da Nova Aguilar), essas coisas.
Propugno pela renda básica da cidadania. E pelo serviço municipal. A renda básica permite ao indivíduo que tem um televisor e um saquinho de batatinhas em chips passar o dia na frente da TV comendo fritas. Ou usar seu tempo para qualquer outro exemplo. O serviço municipal permite que a sociedade se organize para combater o crime, para combater o lixo seco carregado por papeleiros desconhecedores dos comandos básicos do Excel e outros programas elementares, o qual -lixo seco- foi terceirizado pelo governo, que não pode pensar no bem-estar da comunidade, uma vez que veste-se de funções de utilidade que privilegiam o interesse próprio em altíssimo grau. Sociedade igualitária tem lixeiros detentores de empregos formais, não esta coisa de carroças com tração humana. A produtividade da economia fica alterada quando animais racionais puxam carroças, não apenas porque sua velocidade de deslocamento é inferior à das bestas (claro que bois andam ainda mais lentamente). Principalmente porque as carroças e os acidentes que provocam reduzem a velocidade de todo o sistema, ou -ao contrário- fazem os motoqueiros atirarem-se por debaixo de automóveis, tratores e correlatos. Ou os automóveis e correlatos atirarem-se sobre os pedestres.
Sociedade igualitária não tem juiz ganhando o mesmo que 100 brasileiros e votando apenas por um. Sociedade igualitária não tem papeleiro, tem funcionários públicos (ou terceirizados, não no sentido convencional de roubo e propinas, mas no sentido de Ronald Coase). Sociedade igualitária tem pouco crime, pois emprega muita gente esmagando-o.
DdAB
peésses:
.a. na capa da Zero Hora de hoje e na p.3, temos a mesma coisa: todo político é ladrão. Na capa, um homem de 58 anos, viciado em alguma droga ilegal, lançou-se ao uso das livres forças do mercado -mais fortes do que a lei da gravidade- e recebeu um tratamento ilegal: foi assassinado. Na p.3, o Dr. Tarso Genro -que credenciou-se ao título de ministro da justiça, disse:
Não podemos criar a ilusão de qu o simples aumento da força policial e da ação repressiva vai reduzir a criminalidade. Isso não ocorre.
Eu, que hoje em dia tenho ojeriza e alergia a políticos, isto é, governantes, especialmente os da situação e os da oposição (pois não é que um deputado não se considera governante, especialmente se for da oposição?) garrei de pensar: Quem? Ele? Eu? A deputada Luciana Genro? O Dr. Inocêncio de Oliveira? Quem, quem, quem?
De minha parte posso assegurar que sempre propugnei por um aumento duplo na força policial e na ação repressiva, inclusive porque entendo que "repressão é prevenção". Quanto maior o preço do crime, menor será a quantidade, digamos, de equilíbrio. Repressão dá empregos aos repressores, empregos geram sociedades igualitárias, em que -empiricamente observável- há menos crime do que nas assimétricas. Se o ministro da justiça também tá pensando em duplo (ou triplo ou mais) aumento da força policial, tou com ele (mas não voto nele para governador, ou o que seja, nem amarrado, aliás não voto em ninguem: política no Brasil? não vote. ou, se tiver que votar, anule o voto)
.b. id est, o segundo post scriptum: na p.30 temos a greve dos carteiros iniciando a ajudar a burguesia a maltratar o proletariado. Os carteiros, exemplarmente presididos pelo Sr. Golberi Valoria ainda não se fragraram (diria o Dr. Flávio) que esse negócio de reter conta da luz, conta da Unimed (que os mais apaniguados pagam, desde que a recebam via correio), e por aí vai, já foi neutralizado há muito tempo pela classe dominante. Na última greve que ele e seus camaradas fizeram, por exemplo, andei pagando juros pelo atraso no pagamento de meu cartão de crédito (integralmente voltado à aquisição de bens culturais, como livros e cachaça, essa verdadeira identidade nacional líquida). O que costumo indagar-me é com que tipo de economista o Sr. Golberi dialoga. Se é com gente do nível que conheço que assessora os governantes, eu diria: estão bem arranjados. Nem -parece- os economistas que vivem do dinheiro lançado a débito da conta "consumo do governo" nem os economistas que iluminam a discussão sobre os rumos da ação sindical têm a menor idéia do que é contra-ataque (teoria dos jogos) nem o que é problema de coordenação (teoria da escolha pública). Não nego aos carteiros, devo admitir, o direito de invejarem os juízes federais, estaduais e municipais, que passarão a nutrir-se das burras em escala interplanetária. Ainda assim, o que me pareceria mais sensato seria que estes desastrados funcionários públicos começassem a requerer que os políticos, id est, ladrões, começassem a cumprir a lei do orçamento e, no ano que vem, lhes atribuíssem (lhes não aos ladrões, claro, mas aos carteiros) maiores estipêndios a título de incentivo. O MAL* acha que tudo está perdido no ano em curso e que tudo é possível no ano que vem, caso a burrice, incompetência, preguiça e má vontade abandonem os economistas que assessoram os carteiros.
.c. Zero Herra hoje fez das suas (claro que ela as faz com mais frequencia que eu faço das minhas...). Na p.42-Polícia, comemora-se -creio- o aniversário de um bandido. Que me levou a pensar em tais festividades?
:: legenda da foto em que o Sr.Filipe Coelho de Souza, sem camisa, cabelo -creio- tingido com água oxigenada, é arrastado por dois profissionais da punição-repressão -tão necessárias, em doses dupla, tripla e até mais. Outro contampla-os sobranceiro, para entrar em ação em qualquer emergência que poderia ser provocada pelo Sr. Filipe: lá vai a legenda: "Depois de ser perseguido no bairro Partenon, homem de 28 anos foi preso por policiais militares."
:: texto: "Ao ser abordado pelos policiais, o homem, identificado pela BM como Filipe Coelho de Souza, 28 anos, reagiu [...]."
:: ilustração do bottom da página: "Para escapar de uma abordagem da Brigada Militar, na Avenida Ipiranga, o homem de 29 anos atravessou o Arroio Dilúvio e entrou em uma tubulação."
:: eu pensei: talvez a "matéria" tenha demorado para ser feita, passando, digamos, da meia-noite do dia 14 para a madrugada do dia 15 e, neste ínterim, o Sr. Filipe teria completado mais um aniversário de nascimento.
5 comentários:
Muito bom, Duilio.
Da Paz
oi: estou entrando para teu clube! vi de tudo, inclusive -penso- a poeta militante.
DdAB
Ôba!!
Prof.: odeio lixo, qualquer espécie de lixo, inclusive literário e epistolar. Aproveitando a oportunidade, mas já mudando de assunto, peço-lhe - por favor - que me ajude a entender o significado dos vocativos a seguir, alguns dos quais o Sr. emprega em suas postagens neste blog e, eventualmente, em outros escritos: "garota","amiga","amada".Que relação (sequencial ou hierárquica) guardam com a expressão robertocarlosiana "amada-amante"?
caro Prof. Ellahe:
vendo-o lírico, sempre dos sêmpreres também torno-me um tanto arcadiano. para mim nada define melhor a hierarquia das paixões humanas do que o Dicionário de Nomes de Bebês, uma publicação da Editora Tupy, de Jaguari, precisamente no ano de meu nascimento. No citado "dic", como falam os americanos, vê-se que a palavra "maia", ou "maja", foi usada para mais de 314.155 crianças em todo o planeta desde que G. Galilei criou o telescópio. em boa medida, isto explica que muitos desnudem-se ante vocativos, como é meu caso. tenho refletido muito sobre esta hierarquia e estou-me inclinando a sugerir que uma escala universal é:
.a. amada
.b. adorada
.c. idolatrada
DdAB
p.s.: quanto ao lixo literário e epistolar (real ou eletrônico), temo não apenas evitar odiá-lo mas vejo-me -com mais frequência do que gostaria- produzindo-o. é isto o que acontece para quem lê Zero Herra todo santo dia...
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