23 setembro, 2009

Véu de Ignorância e o MAL*

Querido Blog:
se congestinamento de trânsito em foto colorida é brabo, então só imagina o preto-e-branco. dito isto, posso indagar-te: se tiveres certeza absoluta de que, ao escolheres meter o teu carro no trajeto A, ficarás retido num congestionamento por 25min, então considerarias a hipótese de seguir pela trajetória B? nota bene: não perguntei se irias, pois para responderes, precisas de algumas outras informações que não estou passando. o de que perguntei (diria a Dep. Stela Farias) é se considerarias. língua portuguesa, alguns não a dominam plenamente, eu dando-me nota 95,25 sobre o coeficiente de domínio, que varia entre zero e 100. ou seja, há um coeficiente de ignorância de 5,25% (se minha matemática não falha, como terá falhado a do Sr. Lair). se falássemos em véu de ignorância, estaríamos voltando a pular no colo, ou melhor, no livro de John Rawls, editado pela Universidade de Brasília há longa data.

ou seja, se houver um véu de ignorância encobrindo meu processo decisório, adotarei medidas de que posso arrepender-me. ou não. o fato é que -já que não posso evitar- envolvo-me por esse desagradável véu mesmo sem saber o desfecho a que serei levado.

[acabo de receber um telefonema da Desentupidora Dinâmica, que parece não ter um coeficiente de língua portuguesa muito mais elevado do que o meu. por estas e por outras é que vejo com desconfiança os modelos econômicos cujo adjetivo mais interessante é serem "dinamicos". e Cornelius Castoriadis lembrou que a dinâmica é um capítulo da mecânica, ao passo que nós, os sabidinhos, trabalhamos com modelos dialético-interativos. epa!, alonguei-me.]

dizia eu que o véu de ignorância rawlsiano sugere que estudemos a sociedade futura em que iremos situar-nos, pensemos que nela poderemos usar qualquer posição, de rico ou de pobre, e -mesmo não sabendo se nos caberá ser rico ou pobre- decidimos votar por ela. Serra ou Dilma? Tercius? Marina? Mariana? Ana Tércia?

dito isto, preciso começar a concluir (se fosse apenas "concluir", estaríamos na estática ou na dinâmica; como falei em começar a concluir, o que equivale a concluir o começo, ou vice-versa, estaria na dialética-escalafobética, não era isto?) associando a este assunto racionalizações adicionais sobre a ata de fundação do MAL*, como sabemos o Movimento pela Anistia aos Ladroes Qualificados. não é qualquer ladrão que, desejamos, seja anistiado. só rico, pois pobre roubando é cadeia e rico roubando é Disneyworld. antes eu dissera, inspirado no dilema dos prisioneiros e sua solução interativa empalmada pela estratégia Tit-for-Tat, que podemos dilatar o horizonte de planejamento do decisor, o que fará com que a sombra do futuro não o apoquente tanto. ou seja, se daqui a 50 anos requerermos honestidade do político, é possível que amanhã ele vote em nossa proposta.

além deiste tipo de argumento, a idéia do véu de ignorânica rawlsiano aponta no mesmo sentido: se fizermos um projeto interessante o suficiente e mostrarmos que todos vão melhorar, ainda que alguns melhorem mais do que outros (ótimo de Pareto), num modelo sem inveja, com racionalidade instrumental, não há dúvida de que o MAL* marcará seu tento. ou seja, at last, teremos honestidade dentro de meio século. não está mal (sem trocadilho), pois eu -em 62 anos de jubilosa existência- poderia ter recebido daquela macacada que reuniu-se em assembléia e redigiu a constituição da república dos Estados Unidos do Brasil -era 1946?-, já mudou tantas vezes- poderia ter-me criado um futuro luzidio, isto é, sem sombras, seu véus, sem requebros, sem getúlios nem castelos, sem mortes por causas matadas ou morridas, sem Petrobrás e sem tribunal de contas. ou seja, mesmo egoístas racionais que jogam Tit-for-Tat topariam a sagração do MAL*. como lembramos, o carinha que rege-se por Tit-for-Tat sabe perdoar, não é invejoso, é cooperativo, e por aí vai.

o pobrema é que Tit-for-Tat não é evolucionariamente estável, ou seja, se tivéssemos feito um partido como o PT e este fosse invadido por caroneiros desonestos, ele -PT- estaria liquidado ele -Vavá, Pelé, Didi, Zagalo ou Garrincha estariam milionários. a sarvação é que a estratégia (Bowles) denominada de "Reciprocidade Forte" diria que, aliados aos egoístas racionais que jogam Tit-for-Tat, haverá outros votantes no MAL* investidos de puro altruismo, uns 40%, como argumentei nos tempos em que este blog era pago ao UOL.
DdAB

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