03 setembro, 2009

Marxismo e seus plurais

Querido Blog:
Parece que tornou-se moda eu buscar o comando "print screen", editá-lo e postá-lo como se fosse uma figura maravilhosa. Na verdade, fiz algumas postagens que me divertiram com a busca do padrão que se repete ao infinito com a folha de abertura de meu próprio blog. Disse que a primeira vez que vi algo assim foram duas: Gismonti e Jean-Luc Ponty. Depois vi mais e, anos mais tarde, ouvi falar na cidade de Bourton-on-the-Water, que tem uma casa cujo pátio tem uma réplica da cidade, com todas suas casas, inclusive a própria, onde se vê seu páteo no qual vêem-se todas as demais casas, além dela própria, ad infinitum. Era um livro de Ian Stewart sobre a matemática do caos o.s.l.t..

Mas hoje há outros temas pessoais de que desejo falar. Fui ao Google Images indagando-lhe "marxista-cristão", como dias atrás apontei ter saído do cérebro humano. Não é que achei o site de Jamil Assad, que se declara marxista-anarquista-cristão. Pensei que, como a Sra. Estela Faria, ele não deixou-se tomar pela leitura de Marx, de Cristo e dos anarquistas.

Mas isto não me parece o pior, pois também conheço gente que pode classificar-se como:

.a. marxista-nacionalista, inclusive o PCB que ainda crê que a burguesia nacional salvará o Brasil e
.b. marxista anti-equilibrista, inclusive gente que leu o volume 3 d'O Capital.

Mas a partir daí começam as adjetivações: marxista-pragmático, marxista-analítico etc.. Minha nova visão de mundo é que a saída está mesmo é na aplicação da análise evolucionária aos fenômenos da vida social, como fazem Samuel Bowles e seus associados. Colocando em primeiro lugar o cultivo da liberdade humana, somos forçados a lutar pela democracia, ainda que precisemos melhorar as definições vigentes. Precisamos proteger o indivíduo da violência praticada pelos outros, pelo mercado, pelo estado e pela comunidade. Ao mesmo tempo, precisamos conceber sistemas por meio dos quais esta proteção não requeira perda substantiva de liberdade.

Hoje inclino-me a pensar que o mecanismo capaz de organizar a sociedade humana contemporânea é a articulação do Serviço Municipal. O Prof. André Luis Cabral de Lourenço, de quem acabo de ver o artigo:
http://www.ccsa.ufrn.br/interface/1-2/artigos/7%20Servi%E7o%20Nacional.pdf
parece-me trilhar o caminho certo, ainda que ele não fale na BIEN - Basic Income European (World) Network. Terei dito que a renda básica e o serviço municipal (nacional...) são a única possibilidade de articulação "sustentável" do planeta. Terei ouvido dizer que a renda básica representa para o século XXI o que a libertação dos escravos representou para o século XIX e o sufrágio universal (o obrigatório não é propriamente universal, pois os ricos votam apenas quando querem...) para o século XX.

De minha parte, sou marxista porque não sou nacionalista, sou anarquista porque não sou marxista, não sou religioso, pois sei que ainda há muito a ser explicado antes de deixarmos cair a Navalha de Occam. Sou austríaco porque sei que a liberdade e a moeda são fundamentais e não sou hayekiano, pois sei que o mercado está longe de representar a mais sólida base do tripé organizacional societário (mercado, estado, comunidade). Não sou austríaco, por entender que bens de demérito devem ser reprimidos (mais imposto no cigarro, no automóvel, no consumo de gasolina e por aí vai), que bens públicos devem ter provisão garantida pelo estado ou pela comunidade, essas coisas.

Mas o que mais me abala é ver gente de esquerda lutando por um programa de desenvolvimento autóctone brasileiro. Há a esquerda estatista e a esquerda defensora do desenvolvimento da burguesia nacional. Agora, mais ainda abala-me a incapacidade de diálogo entre as diferentes correntes de esquerda, iniciando por mim que recuso-me a discutir com os marxistas-religiosos, os marxistas-anarquistas, os marxistas-nacionalistas e tantos outros. Terei que ler mais da dupla Rorty-Habermas.
DdAB

3 comentários:

Ricardo Agostini Martini disse...

Muito bom texto, Duílio.

Agradeço muito a contribuição na resenha sobre o Feyerabend.

Abraço

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

aí, Ricardo:
como resumo de minha posição atual sobre a ciência, acho que vale o que disse Galileu: eppur si muove, mesmo que não saibamos como ela ajuda a montar tecnologias, que é o que verdadeiramente interessa.
DdAB

maria da Paz Brasil disse...

Surfando nas postagens mais antigas encontrei esta que adorei.
MdPB