05 setembro, 2009

Borges, como direi

Querido Blog:
Hoje é sábado, amanhã é domingo. A vida vem em ondas, como o mar... Era Vinicius de Moraes, e esta era a postagem de sexta-feira. Tardei-me, não precisava recuperar, pois não sou constrangido a postar diariamente, como o sou -por exemplo- a tomar meus remédios e fazer ginástica. Afinal, Planeta 23 é para isto.

Poético puxa poética que puxa poetas. Procurei no Google-Images "Jorge Luiz Borges", com "z" como escrevemos nós, les brésiliens. Achei a maravilhosa ilustração acima. A carinha dele é que não era lá essas coisas, um tanto infeliz, não é? Na página 31 d'O Pensamento Vivo de Jorge Luis Borges, da Editora Martin Claret (1987), lemos:

Não quero mais enganar ninguém: escrevi muito, talvez demais, mas sei que algumas páginas ficarão e que um Nobel me deixaria morrer satisfeito. Não sei quando e onde, mas sei que minha morte será melhor com um Nobel. Esse Nobel, que parece um fantasma, está sempre ao meu lado, e sempre impalpável, nunca consigo pegá-lo, ele fugindo e eu correndo atrás dele. Eu disse mesmo que não me interessava? Talvez não tenha sido bem entendido. Eu falo baixinho e os jornalistas não me entendem. Aliás, é difícil entender um poeta quando fala. É preciso ler sua palavra, seu verso, e captar seu desejo. Eu quero o Nobel, claro que eu quero o Nobel. Mas será que eu o mereço? Quando penso que Gide ganhou o prêmio, me parece que em 1947, então eu penso que não estou à altura do Nobel. Mas, ao mesmo tempo, quando eu penso que muitos outros também o ganharam, com toda a sua insignificância, então eu passo a desejar o prêmio, apesar de não ter escrito o livro definitivo. De resto, somente o Espírito Santo escreveu o livro definitivo, o Antigo Testamento, a Bíblia. Os outros tentaram, mas quem conseguiu?

De onde venho? Hoje adquiri o Ensaio Autobiográfico, da Companhia das Letras (2009, "grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Malditos sejam!). Na contracapa, lemos:

Suponho que já escrevi meus melhores livros. Isso me dá uma espécie de tranquila satisfação e serenidade. No entanto, não acho que tenha escrito tudo. De algum modo, sinto a juventude mais próxima de mim hoje do que quando era um homem jovem. Não considero mais a felicidade inatingível, como eu acreditava tempos atrás. Agora sei que pode acontecer a qualquer momento, mas nunca se deve procurá-la. Quanto ao fracssso e à fama, parecem-me totalmente irrelevantes e não me preocupam. Agora o que procuro é a paz, o prazer do pensamento e da amizade. E, ainda que pareça demasiado ambicioso, a sensação de amar e ser amado.

De minha parte, estou certo de que ainda não escrevi meus melhores livros. E talvez nunca o faça, e daí? Mas é certo que escreverei outros, além da parte substantiva em que envolvi no livro de Contabilidade Social e que está "no prelo". Neste, não defini felicidade, apenas assinalo que ela é multifatorial. E digo que, se conhecermos a renda do indivíduo, a autoavaliação de seu estado de felicidade e a avaliação que dele fazem terceiros, podemos construir um índice totalmente cardinal. Ou seja, ao construirmos dois índices e dividirmos um pelo outro, poderemos dizer que a "felicidade nacional bruta" do indivíduo subiu ou caiu 'such' por cento. Quem é mais contraditório? A Academia Brasileira de Letras, o Museu Iberê Camargo, ou o próprio Jorge Luis Borges?
DdAB

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