14 fevereiro, 2009

Vi o leão, ou melhor, vi o violão, ou vi o vilão?

Querido Sr. Blog:

Agora, que as férias estão mais para lá (Menino Deus - Porto Alegre) do que para cá (Ponta Verde - Maceió), posso afirmar: passei mesmo doente o dia de ontem. Hoje, para provar minha saúde recuperada, investi num café da manhã substancioso, com macaxeiras, inhames, carne de sol (desfiada) com cebola, presunto, queijo coalho, queijo amarelo (mais saboroso), salame italiano (milanês), mortadela bolonhesa, cuscuz, ovos mexidos com bacon, bolo Souza Leão, pão (de farinha destilada) duas colheradas de açúcar refinado acompanhando uma colherinha de mamão, e tudo o mais.

Recuperado, acordei às 5h00, com pleno sol iluminado, ao som de um pistão com canção carnavalesca, tangida por um folião (o.s.l.t.) no calçadão que nos separa do Oceano Atlântico. Ato contínuo, decidi -eu mesmo- ingressar no fascinante mundo do carnaval, tocando canções que fazem parte de meu repertório atual. Como o demonstra a foto que hoje ilustra o que podemos definir como postagem.
Depois, naturalmente, e também antes na tarde de ontem, dediquei-me à leitura das partes iniciais de "O Colapso da Bolsa 1929", o divertido livro de John Kenneth Galbraith. Lá li: "abcdefghijklmnopqrstuvwxyz", ou melhor: "Se comprar e vendr ações é errado, o Governo deve fechar a Bolsa de Valores. Se não é, a Reserva Federal [id est, o que chamamos de banco central] deve cuidar do que lhe compete, e não se meter onde não é chamada." Frase de Arthur Brisbane (não tinha um Quay Brisbane, na Flórida?), segundo diz-se no rodapé, jornalista famoso no período e que -himself- sobreviveu à depressão, pois foi (estou presumindo) sepultado em 1936.
Esta frase me comove, libertário-igualitarista que sou. Reconheço, porém, que os juros altos afetam os setores produtivos. O que a regulamentação poderia cuidar, instead, é de permitir cada vez maior descolamento dos preços dos ativos de capital das empresas (isto é, títulos como ainda hoje são conhecidos e -sugiro- deixem de ser em certo futuro luzidio). Ou seja, antevejo, para a sociedade do futuro, a completa autonomia do cassino financeiro para aqueles que querem arriscar formas estupendas de ganhar dinheiro fácil com, digamos, mais sensação de controle do que simples apostas na Loto ou Megassena. Tenho argumentado que o valor adicionado tem mesmo é a ver com produção (e não com produto, renda, despesa). Ou melhor, você entendeu, não é?, cria-se valor adicionado como uso de recursos produtivos, entre eles, o trabalho. Mas quando se cria valor adicionado geram-se simultaneamente suas três óticas de cálculo: produto, renda e despesa.
Não está dito que o trabalhador ou mesmo o setor em cujo caput conste "Agropecuária", ou "Indústria Extrativa Mineral" ou "etc." tem que pagar um só pila em remuneração dos empregados (e rendimentos de autônomos) ou impostos indiretos ou importação ou excedente operacional. Ergo, podemos pensar que, digamos, todo o valor adicionado foi criado no setor de Intermediação Financeira, ou na Administração Pública (incluindo o Serviço Municipal, ou Brigada Ambiental Mundial, o que exclui a simples Renda Básica). E que -distribuído às instituições famílias etc.- na forma de transferências, garante a apropriação, isto é, a demanda efetiva.
Beijos muito, muito telúricos, o que quer que queira dizer isto.
DdAB

2 comentários:

Unknown disse...

Tá tudo no Aurélio: Telúrico, além de ser 1."relativo à Terra" e 2."relativo ao solo", também quer dizer 3."relativo ao telúrio" o qual, por sua vez, é o elemento 52, não metálico, pulverulento, preto-acinzentado. Penso que este era o significado pretendido pela filósofa pós-moderna (hoje, mística) Baby Consuelo, quando cantava "Eu sou telúrica ..." Como poderíamos adjetivar, então, os beijos aí ilustrados: ternúricos? tesúdicos? impúdicos??

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Caro Ellahe:
Gostei muito da interpretação dos beijos, qualificados como ternúricos. Também não lhes vai mal o caráter tesúdico, ainda que -naqueles tempos- o erotismo fotográfico fosse visto palimpsepsisticamente, se me faço entender. Escamoteados, observáveis apenas por debaixo dos panos, como dizia outro filósofo de garganta aguda.
Escreve sempre!
DdAB