01 fevereiro, 2009

Oferta, Procura e Falsificacionismo


Querido Blog:
Começo hoje nova e grande viagem. Espero chegar a mostrar que não é nova, ainda que grande, ou talvez nem o seja, sei lá, entende. Primeiro: a lei da oferta e da procura. Busquei ilustração em:
http://academiaeconomica.blogspot.com/2009/01/o-que-demanda.html
e não consegui trabalhar adequadamente a imagem, que apareceu em dimensões menores do que do tamanho do ponto que sucedeu o Big Bang. Desisti, até que tenhamos telescópios mais potentes...
Vou falar: lei da oferta e procura, equilíbrio e falsificacionismo, ou o que entendo deste troço. A viagem seguirá quando eu voltar a explorar o jogo dos leitores (para não batizá-lo [ou 'los'] como jogo dos idiotas). Ou seja, in due time, farei algumas postagens sobre o que é equilíbrio, estratégia dominante e equilíbrio de Nash.
Pois bem. Começamos agora. Meu amado Samuel Bowles em seu livro de microeconomia, ajudou-me sobremaneira a pensar sobre seu livro de microeconomia, o que é o mesmo que pensar no Aleph, ou seja, pensar no ponto que reune todos os demais pontos, inclusive -lembremos Borges- tragicamente a si mesmo. Por pensar é que tomei a liberdade de discordar aqui e ali. Primeiro, parece que a dualidade indivíduo-cidadão, mais velha do que meu próprio nascimento, pode ser refraseada como indivíduos "civic minded" e indivíduos "self interested". Que quer dizer se dissermos que há um enorme problema na teoria econômica que nunca levou a sério que haverá nas motivações individuais alguma componente altruística? Que deveremos desdizer-nos, pois claro que há. Basta pensarmos na teoria do estado de alfa microeconômico:
A = aS + (1-a)C,
onde A é a ação humana, S é a motivação egoística e C é a motivação cívica e a é um parâmetro variando entre 0 e 1. Ou seja, se a=1, o neguinho -diria Dilma, remember?- é um deslavado egoísta.
Quero dizer: é complicado mandar para as favas o pensamento dos velhinhos que nos antecederam, pois poderíamos dar-lhes uns golpes (no pensamento, não neles velhinhos, claro) e reformatá-las a nosso bel prazer e belos propósitos. Neste caso, esposo o ponto de vista que "microeconomia" é uma expressão que não se reduz apenas aos economistas chamados de neoclássicos. Se acho que utilidade existe, posso ser chamado de neoclássico ou não, depende de outras choses. Les choses de la vie... Nem querer banco central mundial me faz, por necessidade, um monetarista...
Pois não é que Bowles himself queixou-se que Walras está errado ao dizer que
Ls = f(W), ou seja, que a oferta de trabalho do neguinho (Ls-labour supply) depende do salário do neguinho (W-wages). Com isto, ficam olvidados milhares de outros fatores que influem sobre a relação de emprego, a oferta de trabalho, essas coisas. Achei que é radicalismo desnecessário de Bowles, um jeito retórico de manifestar sua fé no proletariado, no igualitarismo, essas coisas em que também acredito, como religião, como posição política. Seguindo em parte o que aprendi com ele mesmo, creio que podemos resgatar os modelos walrasianos e prosseguir a pesquisa (unended quest é, lembremos, o nome da biografia de Karl Popper), escrevendo:
Ls = g(W, M), onde M é um vetor cujos elementos são os milhares de fatores que influem em Ls, além de W.
Next, o que é um modelo. É uma simplificação da realidade, destinada a auxiliar-nos a explicá-la ou fazer previsão sobre o rumo futuro de alguns fenômenos que nos interessam. Neste caso, a ilustração capturada acima do site citado -a abordagem gráfica da análise econômica- poderia permitir-nos escrever o seguinte modelo matemático:
Ls = g(W, M)
Ld =h(W, N)
Ld = Ls
onde N é um vetor que captura outros fatores que influem em Ld, além de W. Temos um modelo de três equações (oferta, procura e condição de equilíbrio) e cinco variáveis. Caso consigamos "adivinhar" os valores de M e N, passaremos a três variáveis, nomeadamente Ls, Ld e W. Fazemos assim o sistema perfeitamente determinado, criando outras condições de contorno também favoráveis. Em particular, diremos que as três variáveis assumirão, para toda a eternidade, valores não-negativos.
Agora, vamos ao último ponto. Tem neguinho que acha este modelo alixarado, pois ele "supõe" equilíbrio. Ele não supõe, na verdade equilíbrio nenhum, pois a equação Ld = Ls não está dizendo que há, houve ou haverá equilíbrio. Ela diz apenas que, se a quantidade demandada de trabalho igualar a quantidade ofertada, então poderemos saber qual a taxa de salário vigente no mercado de trabalho.
Por outro lado, é claro que o que acabamos de falar trata da situação ex ante (id est, planejada). Se todos os agentes realizarem aquilo que planejaram, o que teremos? Teremos a tendência à manutenção das condições que os levaram a realizar o planejado. Talvez até isto signifique que, no período seguinte, mais trabalhadores sejam contratados ou demitidos, que haverá ou não revisões das componentes dos vetores M ou N e por aí vai. Ou seja, ontem, houve equilíbrio. No passado, as variáveis ex post, ou seja, realizadas, sempre estarão em equilíbrio, pois tudo o que foi vendido deve igualar tudo o que foi comprado. Esta é a dualidade básica das economias de mercado. Não pode vender um troço que não tenha sido simultaneamente comprado.
E este troço de considerarmos a condição de equilíbrio como sendo a igualdade entre as quantidades de trabalho planejadas? Nada de errado há com isto. Claro que nossa condição de equilíbrio poderia, se achássemos interessante, dar lugar a uma condição de desequilíbrio. Poderíamos desejar, por exemplo, provocar um permanente excedente de demanda, a fim de forçar uma subida nos salários, pois alegaríamos que salário alto é bom para a eficiência do sistema, ou alegaríamos outra coisa, sabe-se lá. Neste caso, a terceira equação do sistema acima seria dada por, digamos:
Ls = 0,9 x Ld,
ou seja, se, por exemplo, houver 90 trabalhadores ofertando emprego, a demanda que nos deixa felizes é de 100 trabalhadores, tanto é que
90 = 0,9 x 100, né?
Matematicamente não há problema. No mundo real, tampouco. O único problema é que, com isto, estaríamos pagando tributo à economia walrasiana. Ou à economia marxista. Ipso facto, estaríamos desmoralizando a economia dos heterodoxos estrela, ou seja, os heterodoxos que pensam que usar viseiras é profissão...
DdAB

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