03 fevereiro, 2009

Desemprego e o Lucro do Bradesco

Querido Blog:
Como vemos na foto acima, burro rima com burras. Não poderá ser outra coisa para soerguer um burro do porte do que vemos na foto do que pilhas de caixas de papel recheadas de dinheiro. A carinha do carinha ao lado parece-me cheirar a Meio Oriente, uma região aprazível para se viver em paz.
Por outro lado, por falar em burras, não há como deixar de registrar o que disse a página 21 da seção de Economia do combativo jornal Zero Herra. Mais à esquerda na página, temos "Trabalho. Seguro para desempregado tem reajuste" e, a sua direita, num daqueles sem mais aquela, lemos:
"O Bradesco obteve lucro líquido de R$ 7,62 bilhões em 2008, valor 4,9% menor do que o alcançado no ano anterior. No quarto trimestre, fase mais aguda da crise financeira internacional, o lucro do banco foi de R$ 1,6 bilhão, queda de 26,8% ante o resultado do mesmo trimestre de 2007."
Eu pensei: a esquerda vangloria-se de ver aumento para o seguro desemprego. E a notícia oferece possibilidade de entendermos um pouco os mecanismos que afastam o trabalhador desempregado de algum poder aquisitivo. O máximo que um trabalhador pode arrecadar como seguro desemprego são R$ 870,01, se ganhava, em média, R$ 1.279,46 mensais ou mais, e se seu desemprego não foi maior de 12 meses, nos últimos três anos. Meio estranhas estas regras. Políticos não precisam, pois -caso não sejam reeleitos- ganham aposentadoria, sabe-se lá que mecanismo perverso é usado por estes usurpadores da merenda escolar.

Eu preciso do Excel (um produto das mentes capitalistas) para poder dividir R$ 7,62 bilhões por R 870,01 e ver que a dimensionalidade da equação me dará um número informando quantos trabalhadores poderiam beneficar-se, durante um mês, se os lucros do Bradesco fossem distribuídos desta forma.

Lá vai: 7,62 x 10^9/870,01= 8.758.520. Eu disse 8,8 milhões de velhinhas? Exagero, pois arredondei para mais... Divide por 12 e já temos mais de 700.000 velhinhas por ano, e por aí vai. O que deveria ser feito com o lucro do Bradesco? Distribuído aos acionistas? Retido na forma de imposto de renda da pessoa jurídica? Não: deveria ser distribuído e a parte que chegou à mão da pessoa física deveria pagar imposto de renda que os deputados (isto é, os rapazes que roubam merendas escolares) deveriam elevar substantivamente. Claro que isto é uma opinião. Mas ela tem milhares de justificativas, sendo que vou acenar apenas um um dos lados da questão.
Que é lucro extraordinário? Suponhamos que contadores e economistas concordem que esses R$ 7,6 bilhões sejam mesmo lucro extraordinário: a remuneração do capital acima do que este receberia se aplicado na melhor aplicação possível vigente no mercado. Mas podemos contentar-nos com a aplicação média, ou seja, a taxa de lucro médio da economia.
Por que o Bradesco decidiu expropiar de seus clientes dinheiros que lhe permitiram pagar com folga seus custos, inclusive o da remuneração do capital? Porque ele cobra preço mais alto do que o custo marginal. Isto quer dizer: problema de ineficiência alocativa. Isto quer dizer: a oferta é escassa, o que faz o preço situar-se num patamar mais alto do que estaria, caso houvesse mais ofertantes. O que quer dizer que apenas o poder de monopólio dado ao Bradesco pelo Banco Central e usado de maneira a gerar lucros extraordinários para seus acionistas é que garante esses R$ 7,6 bilhões.
DdAB

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