Querido Blog:
Na condição de indivíduo humano contingente e tudo o mais, sou fã de diversas contingências, criações de outros indivíduos humanos, inclusive outras criadas por mim mesmo. Uma delas é a leitura, hobby que acalento desde os seis ou sete anos de idade. Neste caso, li -há alguns anos- o charmoso livro "Budapest", de autoria de Chico Buarque, tendo copiosas anotações para escrever o que tenho chamado de "um ensaio esfigmonanométrico", genero literário que está praticamente inventado. Também li -há mais tempo- "Alice in Wonderland", de autoria de Lewis Carroll, acabando de adquirir uma versão Disney.
"Budapest" deu-me a expressão "e por aí vai", que achei irreverente num romance, pois não seria lá o local de encher a cabeça do leitor com explicações sobre para onde ia a história naquele ponto. No recente livro que acabo de pensar que escrevi, intitulado "Lições de Contabilidade Social", usei-a algumas vezes, tentando despertar legítima indignação no futuro leitor.
"Alice" deu-me a ilustração de hoje, quando pedi ao Mr. Images o que ele tinha de melhor sobre "infinito" e "e por aí vai". Não lembro se com ou sem reticências... Reticências, penso agora, quer dizer precisamente isto: e por aí vai.
Resumindo: ter-me-iam dito que, na hora de sua morte, Lewis Carroll teria dito: "Ninguém é eterno", entendendo que parte de sua obra seria ainda mais eterna do que ele. O Eng. César Antonio Leal ter-me-ia dito, por outro lado, achar que "essa história do Big Bang está mal contada." Dado que ele é PhD em engenharia nuclear -e o Big Bang é o núcleo do universo conhecido, ergo o universo desconhecido está fora dele, mas presumivelmente exite, pois otherwise de onde teria vindo a faísca?-, fiquei um tanto quanto como direi... Em outras palavras, o universo também deverá ser contingente, ou seja, não é apoiético, teve começo. Talvez não tenha sido originado em nada mesmo, caiu out of the blue, como teria dito o gato de Cheshire para uma gata em Henley-on-Thames (Berkshire o.s.l.t.).
Neste caso, pensei cá com minhas canjicas que a vida que evoluiu desde então até nos dar consciência de todo o processo. Não faz mais de 2 milhões de anos que isto ocorreu. Talvez apenas 50 mil, como sugeriu Anthony Burgess (n'A Laranja Mecânica). Por contraste, que será que existia 50 mil anos antes do Big Bang? Bem, talvez nem o Big Bang tenha existido. Neste caso, de onde viemos? Se existiu, que terá existido antes dele?
Que quererá então dizer isto de ser eterno? Há um ser eterno? Há outros incontáveis seres eternos? Um triângulo retângulo é eterno? O seno do ângulo de 90g é eterno? Nada é eterno, disse ele. Somos contingentes, diria Carlos Roberto Cirne-Lima, mas aparentemente pelo menos uma tunelagem foi necessária para criar sabe-se-lá-o-quê-que-acabou-virando-o-universo-conhecido. Uma tunelagem, universo conhecido: beiramos o misticismo, não é mesmo, meu senhor do bonfim?
Segue-se necessariamente que estivemos, os triângulos escalenos, eu, os papeizinhos em que o sorriso do gato de Cheshire desaparecia, a avó do Badanha, Badanha himself e tudo o mais, comprimidos no mesmo ponto há algum tempo. Depois, crescentemente vimos afastando-nos, de sorte que, entre Theil-T e Theil-L, há mais distância do que a que legitimamente hoje em dia podemos calcular.
Segue-se também por necessidade que o lobo e a formiga, a onça e o espelho dágua, e tudo o mais que de sublunar imagino (e quem sabe também a Lua?), somos uma e apenas uma entidade. Se o Big Bang existiu, Gaia necessariamente existe. E começa a espalhar-se com os fragmentos de naves que crescentemente deixam nosso habitat. Ok, férias são feitas para isto: dizeres o que te vem à mente, antes do café da manhã, que antecederá um joguinho de frescobol among friends. A bola é que andará between nós-vós-eles, manjou?
DdAB
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