25 fevereiro, 2009

Caxangá, Severino, e por aí vai...

Querido Blog:
É uma imagem franzina, severina, setemesinha esta que hoje posto. Lá embaixo do livro de João Cabral, que ganhei de presente no dia 9 de janeiro de 1967, diz: "Editôra do Autor". Era a edição da cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1966, como falei dias atrás. Era minha despedida da Clínica Pinel, ambiente em que iniciei minha vida profissional, como sabemos, sabe lá quem, pois não consta de meu "Lattes". Nada de antes da graduação em economia foi lá postado. Depois veio a União de Bancos Brasileiros, o Banco da Lavoura e a Câmara dos Vereadores. A partir daí, o "Lattes" tudo registra.

Como fui parar na Clínica Pinel é um imperscrutável mistério de minha vida, mas passa pelo nome de meu amigo de então Adão José Acosta (nada achei na googlada que fiz há pouco). Lá onde hoje passa um viaduto ou o ginásio de esportes do Colégio Rosário, na Rua Barros Cassal o.s.l.t., iniciei meu trabalho na memorável tarde de 19 de outubro de 1966. Na data de 9/jan/1967, despedia-me, pois importantes atividades chamavam-me na cidade de Curitiba, ou Rio de Janeiro propriamente. Não durei um mês no calendário carioca, voltei a Porto e voltei a trabalhar na "Pinel". De lá, um ano após, fui ao primeiro banco. De lá fugi para o segundo, até homiziar-me na Câmara dos Vereadores.

No livro cabralino, lemos, se bem leio alguma dedicatórias, termos tomado pilhas de chopp. Eu lembrava do poema de Drummond ("São 11h da noite, são 11 rodas de chopp") e tenho a impressão que, pela primeira vez na vida, tomei umas nove rodadas, saindo zunindo, mas caminhando em companhia de Bea, a quem levei em casa na Rua Caçapava o.s.l.t.. O de que quero falar, porém, nada tem a ver com beijos, ou -ao contrário- tem...

Ao voltar de Oxford em janeiro de 1993, tendo que terminar a tese (eu até diria 'tendo que fazer', pois voltei a trabalhar como um condenado para que Andrew a declarasse pronta a ser submetida), decidi começar pela epígrafe. Selecionei "Homenagem ao Malandro", d"'A Ópera do Malandro", pois é uma descrição de um modelo de equilíbrio geral. Mas queria algo mais tchan. Aí -por circunstâncias que a História não registra- fui para o livro "Morte e Vida". Por lá achei, na p.113:

Sua formosura
eis aqui descrita:
é uma criança pequena,
enclenque e setemesinha,
mas as mãos que criam coisas
nas suas já se adivinha.


Como sabemos, Severino retirante conversava com 'Seu' José, mestre carpina, quando vêm anunciar-lhe -ao carpinteiro- que nasceu-lhe lá um menino em pleno dia de Natal. Antes, as ciganas haviam vaticinado que ele -ou seus filhos- seria escravo do Dr. Inocêncio de Oliveira, ex-presidente da Câmara dos Deputados de Brasília.

Finalmã, como diria Roland Barthes, em seu indispensável (imperdível?) livro,
que está fazendo esta estrofe aqui? É que "as mãos que criam coisas", objeto de meu estudo, podem ser -as do severininho, em particular- representadas como a variável si. Elas geram o valor Ei (ou era tudo a indústria i?), descrito pela equação matricial:
E = s x B x F,
onde s é a diagonal cujo elemento característico é a razão entre o trabalho do indivíduo i e sua produção (dada em quantidades monetárias), B é a inversa de Leontief e f é o vetor da demanda final (os 'x' são multiplicações). Caso viesse a sabê-lo, João Cabral exclamaria: "este pinta -cujo estilo, como sabemos, lembra o de Baleia- pensa que burro de Sevilha é burca sem ervilha."

A verdade é que, a fim de dar caráter científico à dissertação, ou dele fugir como os burros de estirpe, escrevi como frase final finalésima da Conclusão de 11 páginas:

The fundamental structural change in Brazil in the post-World War II period was mainly due to the behaviour of sub-economies encompassing 30% of the population. This thesis has aimed to contribute to the understanding of the central question facing Brazil: what would be the consequences for the economic and political dynamism of the country of measures of public policy designed to incorporate the remaining 70% into full participation in economic and social life. Like Plato's prisoners, the inhabitants of the poorest households sub-economy see their own world as if it were the world of shadows. Absorbing commodities produced by only 15% of total employment, this "reserve consumption army" holds the key for future growth and economic development, to the extent their productive contribution and political enlargement can be raised along with their living standards. The little hands of their children, the XXIth Century Severinos, shall be the magic tool designed to carve out a brighter future for the whole nation.

Saudações Universitárias
DdAB

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