22 março, 2011

Tarso, Cadafe e o Tráfego Aéreo

querido diário:
vemos já na capa de Zero Hora de hoje uma notícia alvissareira. o bacharel em direito, sr. Flávio Vaz Neto, que fora nomeado dirigente do departamento de trânsito durante um período em que houve acentuadas falcatruas, inclusive algumas envolvendo o digníssimo deputado (reeleito) Otávio Germano, foi preso (o Flávio) e, durante o período de xilindró ou de inquérito policial destinado a investigar ladroagem, requereu sua aposentadoria e a teve concedida. se bem lembro, a chefe da repartição da qual Flávio estava licenciado teria sido sua subordinada ou mesmo funcionária em outra circunstância. ou seja, in dubio, pro reo, pensei eu que pensaria, caso estivesse no cargo dela. mas, dado que, no xilindró, não se pode dar expediente como funcionário estadual, ele não estaria -seguiria meu raciocínio- trabalhando. por mais vigoroso que fosse seu estipêndio, nada melhor do que oficializar o ócio por meio de uma merecida aposentadoria. mas não era merecida, pois funcionário na cadeia é preso e não funcionário, não é mesmo? seja como for, a companheira chefe da procuradoria geral do estado não pensou assim. nem todos os pensadores, retifico, são companheiros...

se bem lembro, quando fiz o concurso público para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, tive que ler a lei que rege as relações de trabalho com o funcionário público. e lembro de ter lido que, se o trabalhador cair em cana, ele perde seus estipêndios, até sair do xilindró. e teria que ser, claro, até ser inocentado. não se pode, claro, deixar dentro do quadro ativo dos funcionários neguinho que tem processo pendente na justiça. isto é o que acaba de acontecer com outros rapazes da tramoia dos fiscais eletrônicos de velocidade automotiva. para nada referir ao tráfego aéreo...

disse Juca Chaves há 50 anos: "qualquer ladrão é patente nacional". depois do período de altas patentes, seguimos desalentados. o povo, que já morreu, nasceu e morreu novamente e agora pena pelas ruas, desvalido, sem apoio oficial para nada, nem as merendas de Sapiranga foram devolvidas a quem as deveria tragar.

pensei tudo isto e achei que poderia ser mal interpretado, decidindo dizer que os nomes reais são apenas ficção. ou seja, o Brasil é um país ficcional. tanto o é que o governo da república declara-se pela paz e achou estranho que a macacada européia-americana fique bombardeando as tropas de Cadafe que, por seu turno, estava bombardeando as tropas (no sentido bovino, pilhas de cabeças) de seu povo. meu mal-estar com estas questões mundanas é indisfarçável. odeio ser assaltado. odeio ver outros assaltados. sempre que houver alguém cuja liberdade foi restringida por qualquer que seja a razão (claro que o ficcional Flávio não conta, nem a chefa que lhe abriu a sinecura), o conceito rawlsiano de sociedade justa faz-me também viver no ambiente alheio à justiça. cada menino de rua é um grau de liberdade a menos em minha própria liberdade. cada menina de rua grávida já conta como dois graus a menos. e assim por diante.

parece óbvio que um exército que usa aviões para bombardear seu povo armado é estranho. parece óbvio que um povo armado contra um governo também é estranho. parece óbvio que "dois bicudos não se beijam". parece óbvio que a Corte Internacional de Haia é que deve tomar conta de tudo. parece óbvio que o Brasil deveria olhar para seus próprios meninos de rua, antes de querer participar do grand monde dessa macacada. parece óbvio que também a China tem lá seus probleminhas que precisariam ser resolvidos por alguém de virtudes morais e intelectuais mais avantajadas do que aquelas lideranças que não vacilam em reprimir com severidada cadafiana qualquer "assomo de la cabeça". parece óbvio que, "no entanto é preciso cantar"! na outra canção, neguinho disse "you might as well jump!".

não bastasse, no outro dia mostrei meu escabelamento frente à notícia de que a reforma política começou preocupando-se com a duração dos mandatos e a reeleição de cargos do poder executivo. parece óbvio que apenas ontem é que vim a saber que a iniciativa desta nova mudança institucional, tão aplaudida pelo povo, dado o espantoso número de reeleições, foi orquestrada pelo macróbio Itamar Assumpção, digo, Itamar Franco, o homem do topete, o homem que galgou a presidência da república por ter sido apaniguado com a carona de vice-presidente do caçador de marajás, monsieur Fernanddo Collor de Mello. parece óbvio que, se queremos repetição de letras em uma palavra, podemos falarem occipital, essas coisas.
DdAB
p.s.: a imagem veio d(aqui). desnecessário dizer que vejo com muita ironia a designação contemporânea de "companheiro" à macacada que fica mais de oito anos no poder. inclusive deputados e vereadores!

2 comentários:

Sílvio e Ana disse...

Me lembrei de uma frase maravilhosamente esclarecedora: "O prego que está com a cabeça mais para cima é o primeiro a levar uma martelada.".
Obrigado por olhar, de vez em quando, as minhas fotos. Contigo, alcanço o assombroso número de quatro pessoas que visitam o meu blog!
Um grande abraço.
(Sílvio)

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

entendo as razões do martelo, ainda que minhas simpatias permaneçam com o prego. se prego o olho no blog é porque me pego atraído pela beleza das fotos. se poucos somos é porque "el siglo XX es un despliegue de maldad insolente". "es"? já era, e o XXI substituiu-o com moderada galhardia.
DdAB