por razões imaginárias, apenas hoje é que vim a ler o artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo, na p.29 da Carta Capital da semana passada. o título é "Obama não leu Roosevelt". disse que disse: "só 'ter medo do próprio medo'." esfingéticos. os três, e não me ponho atrás...
o que me deixou de orelha em pé foi o seguinte trecho:
É ingênuo imaginar que as omissões e recuos de Obama são apenas produto de uma personalidade frágil. A explicação é fácil demais para ser verdadeira. As vacilações do presidente exprimem, na verdade, o enfraquecimento das bases sociais do Partido Democrata. A desindustrialização promovida pela 'deslocalização' da grande empresa suscitou não só a destruição em massa dos empegos nas fábricas, como também reduziu as oportunidades de ocupação nos serviços ligados ao dinamismo industrial. Aumentou o número de empregados precários em serviços de baixa remuneração. A queda dos rendimentos dos 90% inferiores da escala de distribuição de renda nos últimos 30 anos - o que inclui o declínio da classe média americana - não é novidade para ninguém. A desorientação do Partido Democrata não é um fenômeno recente. Há que lembrar o papel de Bill Clinton e de seus colaboradores, Lawrence Summers e Thimoty Geithner, na 'batalha' pela desregulamentação financeira que culminou, em 1999, com a promulgação da Lei Gramm-Leach-Bliley. A lei abriu as porteiras para as façanhas dos espertalhões e sabidos do mercado financeiro, legitimado pelo esoterismo de modelos pseudocientíficos de precifivação de riscos, sob o manto protetor das agências de avaliação da qualidade dos ativos.
fiquei pensando em retórica e lógica. parece até que me acomete aquele divertido mal-estar de Hargreaves-Heap & Varouvakis em seu livro de introdução à teoria dos jogos ("nosso descontentamento ainda é maior porque nem sabemos bem o que nos incomoda no argumento do outro", em citação e tradução livres). eu acho que Obama é um fracasso. uma personalidadae frágil ajudou o fracasso.
as bases sociais do partido dos democratas não foram corroídas a ponto de ele ter feito uma votação absolutamente extraordinária para os padrões americanos. todo o descontentamento dos fracassos distributivos (leia-se emprego. e também gastos públicos progressivos. e também tributação regressiva) não se devem aos democratas, pelo menos não nos últimos 10 anos, Bush. este é o nome. a reconcentração da renda, a desregulamentação financeira é um fracasso de Bush e antecedentes. os modelos pseudocientíticos podem ter sido responsáveis precisamente pela vitória de Obama.
algo está mal-explicado para mim. como é que pode o povo ("o povo"?) ter cambiado de lado tão rapidamente? como é que pode o presidente americano ter-se contido em fazer o programa que a que se propôs nas eleições. seu manifesto eleitoral foi ao lixo. como é que pode? acho que nem Belluzzo nem eu sabemos, para citar apenas dois.
DdAB
foto maravilhosa do maravilhoso blog lennoniano. por aparoximação a Belluzzo, detive-me em Beluno.
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