querido blog:
um tipo muito encontradiço de incentivo é o tapinha nas costas, no linguajar brasileiro. diferentemente do "coça minhas costas que eu coço as tuas", o tapinha nas costas não diz respeito a incentivos materiais. ele é, naturalmente, uma prova de apreço e até de agradecimento, mas -desacompanhado de incentivos materiais- representa apenas a prova de apreço, uma prova sem preço.
estas profundas reflexões sobre filosofia política foram feitas por mim mesmo ao deparar-me com um papelzinho que talvez eu mesmo tenha grafado (a letra me não é estranha) e que dizia: conventions are even more important than material incentives. presumo que isto seja inglês. presumo que o leitor arguto terá -como convenção em sua mente- que itálico significa citação em língua estrangeira. agora, se é inglês de primeira classe, pode ser que esta frase tenha mesmo saído de minhas lembranças da leitura do livro de microeconomia de Samuel Bowles, o livro da mais estratosférica importância que jamais li. ou melhor, que li.
em outras palavras, eu andava dizendo com muita frequência que os incentivos materiais movem montanhas, que a lei da gravidade é mais secundária do que a lei da oferta e procura para a explicação de ações humanas, especialmente -se me não torno óbvio- os serviços de transportes aéreos e todo o ministério da aeronáutica. não precisamos ser argutos para entender que a lei da oferta e procura existe do jeito como a conhecemos precisamente porque ela tem pré-requisitos. um deles é -evidente- a lei da gravidade (não fosse ela, não precisaríamos de aviões, sei lá). e o outro é o elenco de convenções criadas e aperfeiçoadas pelos macacos e seus descententes, até chegar nos avós de Darwin e, momentos depois, em meus próprios avós. not to speak of yours. (e, por convenção, este "yours" tem "s"?; diga lá, meu senhor do bonfim).
tudo isto evoca-me as cinco funções da ciência, não é mesmo? e quais são elas?
:: descrição (descrever)
:: compreensão (compreender)
:: explicação (explicar)
:: previsão (prever)
:: recomendação (recomendar).
claro que isto faria apenas sentido num contexto muito mais amplo, iniciando-se mais estritamente com uma boa definição de ciência. hoje -filosofo- a maior parte das incompreensões sobre o "método científico" têm mais a ver com "científico" do que com "método". em particular, em que a descrição do aniversário da avó da primeira macaca teria de científico? ou, por outra, que aspectos da descrição dessa efeméride poderiam catalogar-se nos vetustos anais da ciência? e quem teria tido a ideia de chamá-los de vetustos?
DdAB
p.s. a imagem veio d(aqui). achei-a -divertida, ainda que ligeira inexatidão (eu mesmo -sem maiores reflexões topológicas- vacilaria entre escolher a porta "ortogonal" ou a "acutângulo") e viés para o "politicamente incorreto"- ao procurar no G-Images termos do título da postagem. eu mesmo estabeleci uma convenção de não usar palavrão neste blog e entendo que falar no ângulo de escape do xixi é um dos biversals, de que temos falado Umberto Eco e eu, é mais humano do que a sentença de Terêncio.
p.s.s.: preciso esclarecer -para não passarem desapercebidas- que há piadinhas contidas no primeiro peésse.
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