26 março, 2011

Grande Moreno e os Neologismos

querido diário:
diário é um chumaço de papel onde se escreve diariamente. logo, to be true, não és meu diário. mais que isto, não és um diário em português, pois -se o fosses- não portarias os dizeres "to be true", sabidamente letras que formam palavras em línguas alienígenas. qual a probabilidade de "to be true" tornar-se expressão contemporânea ao português, como

álcool, banana, canguru, chocolate, elefante, fax, fubetol, gay, hotel, jazz, jeans, microfone, ninja, planeta, rádio, sauna, táxi, teatro, telefone, tigre, vídeo, violino, xerox, ioga e zoom

que estão listadas no artigo de hoje de Zero Hora (p.7), em seu Caderno Cultura, intitulado "O tsunami", tendo por autor o prof. Cláudio Moreno, sob o título geral de "O Prazer das Palavras". sou fã (tinha fã acima? ou seria melhor dizer "sou fond", italizadinho). claro que sua listagem é incompleta e talvez ninguém possa completá-la, pois há vocábulos que são usados por grupos tão especializados, seitas tão secretas, que ninguém jamais rastreará o que quer que seja, inclusive palavras importadas partindo deles/as. por exemplo, se falamos em banana, devemos lembrar também batata. se já incorporamos "fã", devemos incorporar, incontinenti, fãzoca, e assim por diante.

a rason d'être de falarmos em tsunami é óbvia por um lado: acontecimento do mês. e de outro é o moto escolhido por Moreno para falar coisas que fascinam em sua coluna. ele refere um

[...] dr. Castro Lopes, homem de letras que chegou a gozar de certa notoriedade no final do século XIX. Defensor fanático de uma causa equivocada -ele se opunha à 'invasão' de vocábulos estrangeiros-, este filólogo diletante acabou se tornando um personagem cômico, que muito fez rir Machado de Assis [...]. [...] Estavam em sua lista negra: abajur (lucivelo), piquenique (convescote), turista (ludâmbulo), engrenagem (entrosagem), feérico (fádico), de 'fada'), drenar (haurinxugar),massagem (premagem), engomar (telisar, de 'tela'+'alisar'), golpe de Estado (legicídio social), greve (operinsurreição, insurreição de operários), chalé, (castelete).(negritos e itálicos removidos por mim)

Moreno também fala da invocação de Castro Lopes com "avalanche", querendo substituí-la por "ruminol" ou "alude". O "ruminal" merece mais, citado por Moreno: ru do latim ruere, correr precipitadamente, o que me lembrou de "run", simplesmente correr; ni, de nix, nivis, neve e mol, de moles, massa, ergo: "uma massa de neve que se precipita." depois ainda fala em fiorde, iceberb.

questiono-me se "aiceberg" e "tsunâmi" não seriam as melhores grafias para os icebergues e tsunamis. questiono-me rindo, na verdade, pois evoco o sr. Américo Pisca-Pisca, milenar reformador da natureza de Monteiro Lobato e do dep. Aldo Rebello, ambos invocados, os três, com Castro Lima, com os dizeres do povo. ainda não sei se o povo sabe que iceberg é aisberg ou aiceberg, essas tecnicalidades. a solução é que o país gaste mais em educação e não exigir que deixemos sem deletar a macacada que quer reformar a natureza ou apropriar-se de uma parte ilegítima desta. (n.b.: esta do "deletar" aprendi-a com uma professora em artiguinho publicado no boletim da Associação dos Professores da PUCRS, há priscos anos).

em outro ambiente, alertarei para a necessidade de diferenciarmos termos técnicos de neologismos. quem não diferencia se diferencia (na ignorância alheia ao academicismo). e devemos cuidar, pois tem o caso do walk-man, inventado, se bem lembro, por Akio Morita e estranho para o gramático da língua inglesa: walking-man? he-listener? walking-person?

mais ainda: este dr. Castro Lopes me rapou os trocos. não sei se Moreno diz, na verdade, que ele é que invetou este troço de "convescote", que eu sempre pensei ser um arcaísmo daqueles tempos, Joaquim Manoel de Macedo, o próprio Machado de Assis, sei lá. em compensação, parece que o "ludopédio" de que ouvi falar como termo esdrúxulo parece que tem mesmo o tipo de preocupação que levou a inventar o "ludâmbulo" para substituir "tourist".
DdAB
ps.: à propos este troço de "fã", o Aurelião discorda de mim: "do inglês americano, fan, forma reduzida de fanatic, 'fanático'." mas o Cambridge diz: "[ before noun ] having a great liking for someone or something". sou mais este "fond" do que "fanatic".
p.s.s.: a imagem internacional saiu d(aqui).

3 comentários:

Tania Giesta disse...

Duilio: estava curiosa para ler teu blog hoje achei q postarias sobre aniversário de Porto Alegre (q por concidencia tbem é o meu aniver)RISOS
Taninha e POA são D+!!!
Bom fim de semana!
abraços

maria da Paz Brasil disse...

Duilio, não me convide para um convescote que eu não vou. Pobre Moreno, se estivesse vivo, hoje, seria tão infeliz...
Beijão.
MdPB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

amigas!
e no entanto é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar a cidade.
DdAB