diário é um chumaço de papel onde se escreve diariamente. logo, to be true, não és meu diário. mais que isto, não és um diário em português, pois -se o fosses- não portarias os dizeres "to be true", sabidamente letras que formam palavras em línguas alienígenas. qual a probabilidade de "to be true" tornar-se expressão contemporânea ao português, como
álcool, banana, canguru, chocolate, elefante, fax, fubetol, gay, hotel, jazz, jeans, microfone, ninja, planeta, rádio, sauna, táxi, teatro, telefone, tigre, vídeo, violino, xerox, ioga e zoom
que estão listadas no artigo de hoje de Zero Hora (p.7), em seu Caderno Cultura, intitulado "O tsunami", tendo por autor o prof. Cláudio Moreno, sob o título geral de "O Prazer das Palavras". sou fã (tinha fã acima? ou seria melhor dizer "sou fond", italizadinho). claro que sua listagem é incompleta e talvez ninguém possa completá-la, pois há vocábulos que são usados por grupos tão especializados, seitas tão secretas, que ninguém jamais rastreará o que quer que seja, inclusive palavras importadas partindo deles/as. por exemplo, se falamos em banana, devemos lembrar também batata. se já incorporamos "fã", devemos incorporar, incontinenti, fãzoca, e assim por diante.
a rason d'être de falarmos em tsunami é óbvia por um lado: acontecimento do mês. e de outro é o moto escolhido por Moreno para falar coisas que fascinam em sua coluna. ele refere um
[...] dr. Castro Lopes, homem de letras que chegou a gozar de certa notoriedade no final do século XIX. Defensor fanático de uma causa equivocada -ele se opunha à 'invasão' de vocábulos estrangeiros-, este filólogo diletante acabou se tornando um personagem cômico, que muito fez rir Machado de Assis [...]. [...] Estavam em sua lista negra: abajur (lucivelo), piquenique (convescote), turista (ludâmbulo), engrenagem (entrosagem), feérico (fádico), de 'fada'), drenar (haurinxugar),massagem (premagem), engomar (telisar, de 'tela'+'alisar'), golpe de Estado (legicídio social), greve (operinsurreição, insurreição de operários), chalé, (castelete).(negritos e itálicos removidos por mim)
Moreno também fala da invocação de Castro Lopes com "avalanche", querendo substituí-la por "ruminol" ou "alude". O "ruminal" merece mais, citado por Moreno: ru do latim ruere, correr precipitadamente, o que me lembrou de "run", simplesmente correr; ni, de nix, nivis, neve e mol, de moles, massa, ergo: "uma massa de neve que se precipita." depois ainda fala em fiorde, iceberb.
questiono-me se "aiceberg" e "tsunâmi" não seriam as melhores grafias para os icebergues e tsunamis. questiono-me rindo, na verdade, pois evoco o sr. Américo Pisca-Pisca, milenar reformador da natureza de Monteiro Lobato e do dep. Aldo Rebello, ambos invocados, os três, com Castro Lima, com os dizeres do povo. ainda não sei se o povo sabe que iceberg é aisberg ou aiceberg, essas tecnicalidades. a solução é que o país gaste mais em educação e não exigir que deixemos sem deletar a macacada que quer reformar a natureza ou apropriar-se de uma parte ilegítima desta. (n.b.: esta do "deletar" aprendi-a com uma professora em artiguinho publicado no boletim da Associação dos Professores da PUCRS, há priscos anos).
em outro ambiente, alertarei para a necessidade de diferenciarmos termos técnicos de neologismos. quem não diferencia se diferencia (na ignorância alheia ao academicismo). e devemos cuidar, pois tem o caso do walk-man, inventado, se bem lembro, por Akio Morita e estranho para o gramático da língua inglesa: walking-man? he-listener? walking-person?
mais ainda: este dr. Castro Lopes me rapou os trocos. não sei se Moreno diz, na verdade, que ele é que invetou este troço de "convescote", que eu sempre pensei ser um arcaísmo daqueles tempos, Joaquim Manoel de Macedo, o próprio Machado de Assis, sei lá. em compensação, parece que o "ludopédio" de que ouvi falar como termo esdrúxulo parece que tem mesmo o tipo de preocupação que levou a inventar o "ludâmbulo" para substituir "tourist".
DdAB
ps.: à propos este troço de "fã", o Aurelião discorda de mim: "do inglês americano, fan, forma reduzida de fanatic, 'fanático'." mas o Cambridge diz: "[ before noun ] having a great liking for someone or something". sou mais este "fond" do que "fanatic".
p.s.s.: a imagem internacional saiu d(aqui). |
3 comentários:
Duilio: estava curiosa para ler teu blog hoje achei q postarias sobre aniversário de Porto Alegre (q por concidencia tbem é o meu aniver)RISOS
Taninha e POA são D+!!!
Bom fim de semana!
abraços
Duilio, não me convide para um convescote que eu não vou. Pobre Moreno, se estivesse vivo, hoje, seria tão infeliz...
Beijão.
MdPB
amigas!
e no entanto é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar a cidade.
DdAB
Postar um comentário