11 setembro, 2010

Há 20 anos...

querido blog:
procurei "prá quê vergonha, prá quê, seu Queiróz" e nada achei. então reduzi para "prá quê vergonha?" e achei a animada imagem que nos encima. em outras palavras, a palavra da imagem, estamos frente a uma postagem de "economia política", sob o ponto de vista de meus marcadores. que achará Dilma? de quando é esta previsão de explosão demográfica no litoral paulista? por que temos cracolândia em centenas de cidades brasileiras? qual é a raiz quadrada de "rabo de gato 64"? é oito? e que foi mesmo 1964, sob o ponto de vista da desorganização da sociedade brasileira pela qual pagamos até hoje, e nem a chapa Serra-Dilma estaria oferecendo perspectivas de solução?

a milicada, para proteger o Delegado Fleuri, cujo prenome me foge gentilmente..., criou uma lei que começou -pelo que entendo- a destruir o poder judiciário brasileiro. o General Geisel, quando fechou o poder judiciário, a fim de aperfeiçoá-lo, esqueceu-se de fazê-lo, reabrindo-o em piores condições do que as originais. eu, quando sugiro o fechamento:
.a. dos estados da república,
.b. do senado da república e
.c. do poder judiciário da república,
estou apenas querendo mais eficiência na administração pública, mais eficiência no gerenciamento da res publica.

um menino de rua, ao ouvir estas propostas, sugeriu que eu sou um tecnocrata. fi-lo ver seu grosseiro erro de domínio da língua portuguesa, pois posso ser tão techno quanto queiramos (graduado no jardim da infância, curso primário, curso secundário, faculdade de ciências econômicas, mestrado e M.A., doutorado e pós-doutorado, omitindo apenas o curso de datilografia, o do uso de ortofotocartas, e outros assemelhados), mas meu conteúdo de kratos (κράτος) é baixou ou nulo.

segue-se logicamente que, há 20 anos, Rachel de Queiróz (finada cronista que sempre considerei "de direita") escreveu na p.80 da obra que referenciarei abaixo: "

Faz parte da educação do tecnocrata o horror da política e dos políticos. Política, para eles, é o conchavo de cúpula, é a eleição viciadoa, é a prepotência de coronel do interior, é a verborragia parlamentar, é a demagogia. E os que praticam todas essas ignomínias cívicas são, logicamente, os políticos.

pensei: meu, cara, bicho, gente! é isto que sempre pensei, especialmente depois do fracasso do projeto PT, ou seja, no primeiro dia o Governo Lula, ou ainda, no dia do caso Valdomiro Diniz ou finalmente no caso do mensalão. em todos estes casos e alguns outros que nem conheço. mas o primeiro mesmo foi minha constatação de que o Governo Olívio Dutra não deveria ter aparelhado a administração pública, ao contrário, deveria tê-la democratizado. ela seguiu mais adiante:

O povo de um país, de um estado, de um municipio, não se pode comparar a um grupo de operários cujo contrato de trabalho prevê apenas a execução de determinada tarefa mediante remuneração. Pois, passada a hora da jornada, o operário sai da fábrica, recupera a sua identidade pessoal e vira povo.

cara, meu, bicho, gente. acho que ela andou lendo o que tenho chamado de modelo completo do fluxo circular da renda, inspirado na matriz de contabilidade social, que dá mais destaque ao mercado de arranjos institucionais, em relativo detrimento dos mercados de bens e serviços e de trabalho (e demais fatores produtivos). ok, vamos à desconstrução, já na p.81:

Verifica [o tecnocrata], encantado, que a política pode ser uma arte bela e nobre, conforme a ideologia dos que a exercem. Descobre que, na classe dos políticos -classe que ele anteriormente abominava em massa- há homens de qualidade superior, de virtudes severas e patriotismo invencível.

iniciei a pensar: política enquanto arte bela e nobre? não tá falando no Brasil. homens de qualidade superior na política brasileira? nunca ouvi falar. gente de virtudes severas e patriotismo invencível? acho que desaprendi a ler... fosse como ela quer, eu nem teria criados os dois importantes slogans eleitorais:

A. abrace a política, sufoque o político!

B. política no Brasil? não vote. mas, se tiver que votar, anule o voto.

nem o novo silogismo (que ainda batizarei, por analogia ao bArbArA como blaZ-blaZ-blaZ):

M: todo político é ladrão
m: ora, todo ladrão é político
C: logo todo político e todo ladrão são farinha do mesmo saco.

então pensei: sempre pensei que ela era da direita. e concluí: e é ou foi!

quem acha estranho o plural de bla-bla-bla nomeando um novo tipo de silogismo, deve consultar a p.159 da obra queiroziana:

A gente sabe, tinha seca no Nordeste, impaludismo no Amazonas, febre amarela no Rio, tuberculose pelos suis mais frios.


em resumo, nem todo cronista de direita é de direita o tempo inteiro. ou seja, achei interessante esta pluralização do "sul". e lembrei do vendedor de lanches da Galeria do Rosário, quando ofereceu suas mercadorias a duas lindas garotas dizendo:

pois nões, senhoritas.

DdAB
referência: QUEIROZ, Rachel de (1993) As terras ásperas. Rio de Janeiro, São Paulo: Record.
:: foi ela mesma que grafou "país", "estado" e "município sem iniciais maiúsculas, o que é óbvio. e também meteu aquela próclise no "não se pode comparar". uma erudita!

2 comentários:

maria da Paz Brasil disse...

Oi, Duilio!
1. se eu tivesse tido uma segunda filha ela se chamaria Raquel;
2. acho que qualquer análise sobre política fica muito mais eficiente e factual quando a gente se abstrai dos conceitos (?) de esquerda e direita;
3.penso que o que a gente tem que fazer é hierarquizar as reformas que o Brasil precisa - acho que você vai concordar que a primeira seria a política. Porém, para que ela tenha qualidade teria que ser feita sem políticos. Já pensou como o Brasil tem problemas?;
4. acho que com o aparelhamento do Estado feito pelo PT vamos voltar para o início dos anos 40: vamos ter outro 1950, outro 1954, outro 1964, outro 1968...
Beijão.
MdPB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é, garota, estamos em lados distantes nesta parada. minha primeira filha chamar-se-ia Cecília. digo-me de esquerda como um "short" para "igualitarista" e a sociedade justa no sentido de John Rawls. colho-me boa parte do tempo pensando nisto (e tenho estudado as acusações de que a economia brasileira está "reprimarizando", coisa negada por minha intuição). desconfio que o PT não represente nenhuma singularidade quanto ao aparelhamento do Estado (mas esperava que ele passasse, ao contrário, a desmontá-lo).
DdAB