querido blog:
tem muito neguinho que sabe um português irado. e tem muito irado que sabe um português abobado, ou -o que é pior- alobado... entre eles, os alobados, não se encontram dois grandes autores. entre os alobados, encontra-se o da figura acima encontrada nesta enciclopédia.
entre os grandes cultores da língua, cito três:
.a. Cláudio Moreno
.b. Raymundo Faoro
.c. Machado de Assis.
no outro dia, Cláudio Moreno deu uma esculachada naqueles que usam expressões do tipo "necessidade de o revisor ser imbecil". ele, Moreno, disse que os bons mestres não recomendam escrever-se desta forma. que diabos teria levado o revisor a achar que a "contração da preposição 'de' com o artigo 'o' não dar 'do'"? (dá dó...). a verdade é que não há necessidade do revisor ser imbecil. não estaríamos frente à decomposição da expressão "do", para fins de análise léxica ou sintática. estamos, isto sim, frente ao preciosismo do ignorante! de minha parte, desde que vi "Lições de um Ignorante", de Millôr Fernandes, sinto-me à vontade para falar de o que bem entendo... inclusive de formas arrevezadas, como este "de o" e do substantivo "destrambelho", o nome derivado do verbo "destrambelhar", da primeira conjugação.
no outro dia, há décadas, Raymundo Faoro deu uma esculachada nos políticos do tempo de Machado de Assis, nas p.176 e 177 de seu maravilhoso livro "Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio", de que já falei algumas vezes e falarei ainda outras. Disse Faoro, o que é bom citar nestes tempos de política ("abrace a política: sufoque um político", já foi meu motto), sobre os intermináveis discursos na câmara legislativa dos anos finais do Império do Brazil:
Retórica não se confunde com literatura. A retórica abre todos os caminhos: convence, muda a realidade, é o cerne da opinião. A literatura, sobretudo a poesia, desvia do caminho da sociedade e da gravidade; frívola, é uma grande desgraça - 'isto de poesia não dá nada de si' [diz alguma personagem machadiana]. 'Já tínhamos Lafayette, ministro de Estado e presidente do Conselho, citando Molière na Câmara. Não é tudo. Para citá-lo bastam florilégios e o incomensurável Larousse, mas o nosso ex-ministro leva o desplante ao ponto de o ler e reler. Felizmente, a indignação parlamentar e pública lavou a Câmara e o país de tão grande mancha, e podemos esperar com tranquilidade o juízo da história.' [... A retórica é] a arte de 'pensar o pensado', com o adorno das figuras gastas, que não obrigam a indagações nem despertam as curiosidades vadias [...]".
ou outro dia, outro século, Machado de Assis disse, conforme grafei acima na cita de Faoro:
ao ponto de o ler e reler.
quando li esta construção em Faoro (não a identifiquei no original machadiano, pois sua referência é para a velha edição das "Obras Completas", o que já foi multiplicado por três ou quatro), pensei: não é isto que os alobados tinham em mente ao inventarem este troço de "necessidade de o autor ser Lobo das Neves"... obviamente, seria inconcebível que quem quer que fosse reescrevesse como "ao ponto do ler e reler", a menos que quisesse dizer algo "ao ponto do ler tornar-se esclarecedor", com o artigo "o" substantivando o verbo "ler". e, claro, escrever "ao ponto de o ler tornar-se esclarecedor" é esclarecidamente estúpido, idiota e imbecil (não lembro a ordem em que grafei as debilidades mentais é crescente).
a postagem não é de economia política, o que me deixa aliviado para não falar em excesso na campanha que iniciou como "abrace a política: sufoque um vereador", pois eram as eleições municipais de 2008. agora, minha campanha é (e já foi anteriormente): "política no Brasil? não vote. ou, se tiver que votar, anule o voto!". por causa do conselheiro Lafayette, por causa da chapa branca Serra-Dilma, por causa da falta de moral completa dos praticantes da retórica da conveniência, do assalto aos cofres públicos, do destrambelho institucional deste país de voto proporcional e obrigatório! diz-se que, com Dilma, teremos o terceiro Governo Lula. se bem sei calcular, com ela, o que teremos será o quinto Governo Fernando Henrique. tava coberto de razão o deputado Márcio Moreira Alves, apenas errando o alvo: o vilão não era a milicada, mas os políticos de então e de hoje.
DdAB
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