tenho dito que uma das mais crueis piadas que já ouvi -endereçada contra o comunismo- é aquela dos restaurantes russos. a incompetência era tanta, os atropelos, a falta de insumos, que o melhor que criaram foi estabelecer o horário de folga para os trabalhadores precisamente durante os horários de refeições.
é claro que esta inversão de valores não era típica do desastrado modelo soviético, que gente como eu e milhares de outros endeusaram por algumas décadas. como eu, disse eu. é como fila em setores de emergência dos hospitais porto-alegrenses, é como o osso morder o cachorro, é como a frequência livre nas escolas pré-universitárias. ontem falei do modelo cubano e a promessa de demissão em massa de servidores públicos. pois não é que hoje vi no mesmo jornal que leio diariamente que na Rússia, devidamente pós-sovietizada, também há promessas de demitir outros 500 mil trabalhadores, ou algo parecido.
em minha maneira de ver o mundo no século XXI, especialmente daqui a 50-60 anos, o grande problema será da ocupação da população em atividades socialmente desejáveis, pois as economicamente relevantes serão apanágio de meia dúzia de privilegiados. uma vez que, nas sociedades em que os padrões de consumo não são razoavelmente equalizados, rege a desordem ou a repressão desenfreada, vim a entender que esse mundo do desemprego e mesmo o mundo do seguro-desemprego estão fadados a pegar fogo.
a saída é o serviço municipal, a contratação de toda a população excedente sob o ponto de vista dos enormes diferenciais de produtividade que serão alcançados pelas atuais revoluções industriais e outras tantas (mais, digamos uma ou dias) que rolarão nesse período. a saída é a criação de um arranjo comunitário que force o futuro governo mundial a financiar, com verba do orçamento público, emprego para a prestação de cuidados humanos e ambientais: cuidar de velho, cuidar de criança, cuidar do vizinho, cuidar do meio-ambiente, ensinar o que se sabe, matricular-se em aulas dadas por pares do que se quer saber mais, e por aí vai.
DdAB
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