10 março, 2009

Mérito ao Demérito

Querido Blog:
Como não poderia deixar de ser, como sempre digo, os acontecimentos se sucederam! Acordei sedo, digo, acordei sedado, digo, fui sedado por Zero Herra, com milhares de notícias aconchegantes, por assim dizer. Agora diz que o cardeal não excomungou ninguém, apenas avisou que poderia fazê-lo. Aborto é, claro, um bem meritório (mérito ou demérito?). A polícia absolveu um sequestrador que requereu pagamento de dívida de uma sociedade de economia mista para com ele. O depósito foi feito em sua conta, o sequestro levantado e -tomara- o povo comece a sequestrar os políticos requerendo moralidade. Precisamos dar um "crack" nos políticos, como a foto do Sr. Google Images dá na pobre noz, pobres de nós, aditaria a Sra. Lurdete Erthel. Lembro-me da campanha que lancei, de poucas adesões: "Abrace a política: sufoque um vereador".
O confundimento de crack das nozes e dos políticos acima com o crack da fumaça abaixo não quer sugerir qualquer apologia de seu uso. Usou? Viciou. Viciou? Difícil de largar. Mas o que podemos fazer com uma polícia que autoriza que o sequestrador tenha seu requerimento deferido? Ou com Zero Herra que, em seu editorial de hoje, exproba o uso do crack, dizendo que a repressão é que deve aumentar, olvidando -ela mesma- a notícia de dias atrás, quando integrantes do marcador "Lixo Urbano" atacaram a porretadas -assim entendo- um viciado em drogas que foi mandado matar ("sent to be killed") pelo Sr. Traficante de Tal.
Quer visão científica sobre o crack, sobre como vicia, como é difícil evadir-se do vício, uma vez instalado? Diretamente das Images do Mr. Google, achei a seguinte imagem. Dopamina? Isto dopa? É bom? É bem de mérito? O bem de mérito pode ter demérito? O moralismo dos governantes é hediondo? No outro dia, pensei: aparentemente, antes de nos livrarmos dos traficantes, o de que precisamos -para fazê-lo- é livrarmo-nos dos políticos!
Com políticos moralistas, que pensam que a proibição a certas práticas é motivo para demover multidões e que -assim- esquecem que há agora 55 mil usuários de crack apenas em meu edifício, ou Menino Deus, ou Porto Alegre, sei lá, não é possível pensarmos em solução séria para o problema das drogas. Claro que fumar crack não é o mesmo que fumar maconha, como sugere (sugere o quê?) a simpática figura -estilo Mandrake- abaixo.
O moralismo de quem a montou esquece o conceito de "droga recreativa", que aprendi com Richard Layard. Aprendi, no sentido de que mesmo antes de conhecê-lo, antei metendo meus chocolates, cafezinhos, chimarrões, para não falar da inalação de lança-perfume no Carnaval de, digamos, 1957, no Clube dos Sargentos em Campo Grande do Centro-Oeste, para não falar em - melhor parar de falar...
Como evitar o crime resultante da droga, que corrompeu políticos e policiais? No caso da tentativa de assassinato do devedor do traficante da Av. Ipiranga, parece que há algo muito simples: distribuição de crack "for nothing" para essa macacada. São 55 mil viciados. É preciso que o poder público livre-se dos políticos atuais e crie uma verdadeira brigada ambiental (sucursal da mundial) para dar conta de problemas populacionais, eles -os políticos- que, patrimonialistas, pensem apenas em sua família, uma geração ou duas, no máximo, pois sofrem de "shortsightednia". Claro que, em cinco gerações, tudo ter-se-á resolvido, ainda que certas soluções tenham custos sociais elevadíssimos.
Claro que, quando o neguinho -diria Dilma- for pedir crack numa das "consumption rooms" que os novos políticos criariam, seria frechado -diria Adoniram- com a seguinte pergunda: "mas tchê, tu já fuma este troço ou vai começar hoje?". Se a resposta é "tou aphim de começar hoje", joga neguinho nas mão do pessecólogo. Se era "já garrei o vício", joga ele na brigada das causas perdidas e o transforma em estudante de pessecologia, no "research programme" de largação de vício brabo.
Mas quem ainda lembra desse troço de "custo social"? Esse troço de pensar para frente? Esses troços de movimentos comunitários em prol da vida? Eu é que não...
DdAB

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