24 março, 2009

MACONHA E CAPITAL

Querido Blog:
O momento é solene! Vemos na imagem do Sr. Images uma folha de maconha, ou sua representação digital, pegando fogo. O cânhamo ((cf. Aurelião, S. m. 1. Bot. Planta herbácea da família das canabidáceas [Cannabis sativa (v. cânabis)] , amplamente cultivada em muitas partes do mundo. As folhas são finamente recortadas em segmentos lineares; as flores, unissexuais e inconspícuas, têm pêlos granulosos que, nas femininas, segregam uma resina; o caule possui fibras industrialmente importantes, conhecidas como cânhamo; e a resina tem propriedades estupefacientes (v. maconha e haxixe). [Sin.: cânave, cânhamo-da-índia e maconha.] 2. Fibra, fio ou tecido de cânhamo. 3. Bot. Designação comum a várias plantas têxteis. )) já foi uma indústria de respeito.

Algum empresário destrutivo (ou seja, ladrão, ou seja, político) deu-se conta de que poderia fazer ganhos extraordinários com sua proibição. E nasceu a mais florescente indústria do final do século XX: a das drogas. On the other hand, como diria Tom Ammiano, na p.19 da Carta Capital de 25/mar/2009, há um artigo de Walter Fanganiello Maierovitch epigrafado -o artigo- com o título "A utilidade da ONU". Fala da ONU, claro, mas também chamou-me a atenção para algumas coisas relacionadas com drogas. Vai lá:

.a. "Na semana passada,em Viena, reuniu-se a Comissão de Narcotráficos (da ONU) para debater políticas sobre o fenômeno das drogas, matéria regida pela vetusta Convenção de Nova York de 1961, que consagra a falida war on drugs. O encontro foi inócuo. Nada mudou, apesar da falência da linha proibicionista, crominalizante e militarizada. Por incrível, repetiu-se a fantasiosa fixação de prazo para colocar termo aos problemas relativos às drogas proibidas. Explicando melhor: em 1961, na Convenção de Nova York, foi fixado o prazo de 25 anos para a erradicação de cultivos ilícitos, a contar de 1964. O prazo terminou em 1989, com aumentos da produção, oferta e demanda."
.b. "No encerramento do encontro da referida Comissão de Narcóticos da ONU, não se abdicou da tradição. E com mais dez anos contarão os Estados membros para liquidar com os malefícios causados pelas drogas proibidas. Enquanto isso, e diante da crise financeira da Califórnia, o deputado Tom Ammiano apresentou um projeto legislativo para tirar o etsado do buraco e levar aos cofres públioc, todos os anos 1,3 bilhão de dólares. O projeto contempla o monopólio estatal para a venda de maconha, com otabelamento do preço do cigarro canábido a 1 dólar norte-americano."

1,3 bilhões de baseados? Para uma população de 36.553.215 pessoas, a estimativa é de um consumo per capita de praticamente 10 baseados por dia, o que -a meu ver- baseia-se numa função de demanda com parâmetros exageradamente superestimados.

Buscando "Tom Ammiano" e "marijuana", encontrei 41.500 registros no Google Search. A página do deputado é: http://www.tomammiano.com/, onde lemos:
"Supervisor Tom Ammiano is a long-time San Francisco Democratic leader who has served the city nearly three decades as a teacher, civil rights leader, educator and Supervisor. [...] A strong advocate for schools, health care and civil rights, Tom has been at the forefront of reform in San Francisco. Today, his campaign for State Assembly, 13th Assembly District, is uniting the city behind his strong leadership for change in California."
Ao olhar sua foto no site, não pude evitar de pensar no recente filme que conta a história de Harvey Milk, o divino lider gay que, no tempo em que os animais passaram a ganhar direitos, começou a campanha para os gays serem tratados com dignidade. Teria dito ele, ou algum outro, "um homem gay é, primeiramente, um homem; uma mulher gay é, primeiramente, uma mulher". E que dizer de "um homem maconheiro"? Será que o homem não tem direito a praticar ações que decorrem de suas crenças? Será que a sexualidade humana deve ser submetida a tabus que transcendam a noção dos "consenting adults"? E será que Richar Layard estará errado ao dizer que devemos pensar no conceito de "consumo recreativo de drogas".

Precisa mais? Então pesquise: http://www.salon.com/news/feature/2009/03/03/legalize_marijuana/: March 3, 2009 | Can Californians help dig themselves out of their historic fiscal crisis by getting high? Tom Ammiano thinks so, and he isn't smoking a thing. [...]
On Feb. 23, the California State Assembly member introduced legislation that would regulate the cultivation and sale of marijuana, and then tax it. By legalizing pot, the San Francisco lawmaker argues, the state could reap huge new revenues. Currently pot is California's biggest cash crop, with annual sales reaching $14 billion. Vegetables, the state's second hottest agricultural product, take in a mere $5.7 billion. And California's famous grapes? A piddling $2.6 billion.

Federal law preempts a lot of things we've done in California, anyway -- domestic partners, gay marriage, the medical use of marijuana. Certainly the Obama administration has been telegraphing they'd like to revisit the failed war on drugs. New Attorney General Eric Holder just issued an edict: No more raids on medical marijuana dispensers. And, man, if that doesn't reinforce what I have been saying, I don't know what does. Of course, everyone likes to be in the position of saying, "See, I told you I was right."

Acho que o Brasil não tem, infelizmente, estofo moral e jurídico para encaminhar uma solução decente ao problema. Mas creio que o conceito de consumption rooms poderia ter enorme eficácia para acabar com o crime mais banal, como o induzido pelo crack. Transações de R$ 50,00 ou menos causas tragédias familiares as mais aterrorizantes. Ainda assim, atrevo-me a sonhar que a união estado-mercado possa trazer solução mais eficaz para reduzir o consumo e principalmente o crime associado à indústria das drogas.

Tu compreendeu? Maconha não é para crianças, criminosos ou loucos, agentes sociais cuja autonomia para fazerem escolhas é severamente barrada pela sociedade. Se neguinho tem uma mente inquieta, e mesmo assim insistir em meter-se com álcool e outras drogas, trancafia ele na cadeia, pois só pode ser criança, criminoso ou louco, o que é comprovado pela sabedoria asinina embutida em sua decisão e na inquebrantável vontade de manter-se viciado, uma tristeza. Consumo recreativo é uma coisa, como o de polenta, mas neguinho começa a comer polenta como burro come azevém, então vira burro, gordo e dá atestado de que não sabe a diferensa entre diferença e ser indiferente.
DdAB

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