Querido Blog:
Todos sabemos que "Capitalismo, socialismo e democracia" é um livro de Joseph Alois Schumpeter que nunca li nem, provavalmente, lerei. Ainda que eu diga aos meninos de rua que me situo numa franja de pensamento entre neo-estruturalismo, neo-marxismo, neo-austrianismo e novo-liberalismo, meus austríacos não são bem Schumpeter. Pelo sim, pelo não, terei lá algumas simpatias por Hayek e, as such, Friedman, claro que não na parte do apoio à ditadura do Chile.
E que tem a ver capitalismo com socialismo e com teologia? Que tem a ver o touro sagrado, o chifre de ouro, o culto politeísta? Tem que o Mister Leonardo Boff, teólogo, teria dito a Zero Hora, na p.16 do exemplar (nada exemplar, by the way, como seria?) das "Sentenças": "O mito de que o mercado se autorregula se desfez. Quer admitam, quer não, o capitalismo está sendo salvo pelo socialismo."
Pois eu pensei que talvez devesse enviar esta preciosidade a Leonardo Monastério, que distribui o Prêmio Eço, um troço destes, aos rapazes que dizem besteiras, pensando que estão falando de modo razoável em categorias econômicas. Pois bem, vejamos.
Primeiro: talvez há milhares de anos, os economistas de formação precária tenham pensado que o mercado se autorregula. Que quereria dizer isto, porca (vaca?) madonna? Que não há impostos distorcivos? Que não há bens públicos? Que não há mercados ausentes? Que não há bens de mérito e demérito? Que não..., sei lá que mais? Uma estupidez falar que alguém, além, claro de aborígenes de milhões de anos atrás, acredita que algum dia o mercado se autorregulou. O Monsieur Léon Walras, que inventou o modelo de equilíbrio geral, himself, dizia que um mercado concorrencial poderá chegar a um vetor de preços que equilibre todos os mercados simultaneamente. Obviamente, este troço de concorrência perfeita é uma conquista maravilhosa do intelecto humano. Falei "intelecto", entendido? Ou seja, não é realidade. A realidade realmente real não tem concorrência pura, em absoluto. Ergo tampouco estará permitindo que esta modelagem de perfeição seja levada mais a sério do que o levaram Walras, Marx, Leontief, Bródy e milhares de outros.
Segundo: e pior do que este troço de nível informacional de aborígenes. O capitalismo está sendo salvo pelo socialismo. Esta, meu caro amigo, deixou-me mais contrafeito do que quando o Grêmio foi rebaixado. Que será que os teólogos entendem por "capitalismo"? Há vários anos que eu venho espalhando que o capitalismo -formação econômico-social- acabou há mais de 15 dias. Quem não sabe isto é porque não tem levado meu pensamento a sério. Isto permite-me, sem maiores recriminações, negligenciar qualquer átomo de seriedade no pensamento de Leonardo Boff. Como pode um indivíduo humano pensar que o capitalismo não acabou há mais de 15 dias? Pior que isto? Como pode um indivíduo humano pensar que o estado pós-capitalista d'aujourdui, ao regular o funcionamento dos mercados financeiros, seria um lídimo representante do socialismo? Isto leva-nos a confundir socialismo com comunismo, Stálin, Lênin, Golbery do Couto e Silva, Alfredo Stroessner, Evo Morales, Hugo Chavez, essa malta, essa cáfila, e milhares de outros dromedários.
Terei ouvido que precisamos fazer reformas democráticas que conduzam ao socialismo. Ou seja, ainda hão houve um número suficientemente grande de reformas democráticos, tanto é que ainda precisamos delas, ou de uma fração delas, se é que as primeiras já ocorreram. Bem, por exemplo, a proibição do trabalho escravo, claro, é uma delas. Mas o imposto sobre o tabaco, por exemplo, não poderia ser comparada: é estatal, mas nada tem a ver com a sociedade justa. Mas, mais importante do que estes aspectos, o que devemos ter presente é que ainda precisamos de mais discussão para conceituarmos adequadamente "socialismo". Claro que não é bolivarianismo, como nunca de núncaras foi stalinismo.
Abaixo a ditadura! Abaixo as ditaduras, abaixo os ditadores e os dromedários que não se flagram que não deveriam ficar mais de, digamos, 10 anos encastelados no poder. Com frases teológicas como esta é que a vaca foi para o brejo, como ilustra a primeira chamada para "deus-mercado" no Sr. Google Images.
Saudações libertárias.
DdAB
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