19 março, 2014

Os Chips: batatas x silício

Senhoras e senhores:

No outro dia, vi uns dados estarrecedores. Tão estupefacientes, na verdade, que queimei a fonte para que ninguém possa realmente pensar que isto é verdade. Em parte, estou defendendo a reputação daqueles que dizem que o conceito de indústria tem alguma relevância para a discussão sobre a desindustrialização. Ou seja, por burros que sejam, merecem uma defesa eivada de ironia.

Senão vejamos. Pringles da Kellog (marca conhecidíssima no Brasil, by the way e vendida a esta pela Procter & Gamble). Gastou US$ 100 milhões em marketing, passando a 1,4 bilhão em 2007.

O verdadeiro problema é que a negadinha não percebeu que o estonteante aumento no marketing (e quem poderia dizer que é socialmente indesejável?) não foi produto da indústria de alimentos, mas dos serviços prestados às empresas. O verdadeiro problema é que a turma que preza a produção industrial não consegue pensar na economia aberta. O mais verdadeiro problema ainda é quem consome e não quem produz. Meu proverbial argumento para este último caso é o confronto entre uma fábrica de aviões a jato e um supermercado em Sant'Ana do Livramento, progressista município na borda do Uruguay (o país, não o rio). O espantosamente verdadeiro problema é a questão da convivência econômica com a China: sua taxa de câmbio artificial e seu dumping social não permitem dizermos que eles praticam fair trade. Sua entrada para a Organização Internacional do Comércio foi um engodo, aliás, a esta organização é -elle même- um engodo!

DdAB
Imagem daqui. Boa homenagem aos Rolling Stones, à indústria de alimentos e, claro, seu envoltório do setor serviços. Nomeadamente, a banda de rock e toda a publicidade que envolve um desses chips. Emprego e renda, como dizem aqueles que não aprenderam, no primeiro semestre da faculdade, a diferença entre custo social e custo privado, entre as virtudes de ganhos de produtividade com a maldição de preços escorchantes.
P.S.: aditado às 9h20min de 20/mar/2014: reli a postagem e estou insatisfeito com dois aspectos. O primeiro é que não citei o ano daqueles 100 milhões gastos em publicidade. O segundo é que não citei a fonte de todos os dados. E agora não lembro! De um deles, apenas de um deles. O outro é a Wikipedia. Olhando-a agora vejo que o faturamento atual é de 1,4 bilhão de dólares, o que faz aqueles 1,4 bilhões uma cifra completamente deslocada do bom-senso.
P.S.S.: isto não elimina meu ponto: haverá um estrondoso aumento nos gastos em publicidade, haverá tendência mundial a fazer com que os serviços prestados às empresas cresçam mais do que a produção de bens pelas indústrias. Há um problema de classificação escondido, ou melhor, não detectado por muitos defensores do crescimento da indústria. É o caso: uns querem o crescimento dos chips de silício, quando o que cresce é a propaganda dos chips de batata.

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