27 março, 2014

Sinestesia Brasileira: o cheiro da lei

Querido diário:

O jornal Zero Hora de hoje, minha sina, tem um "informe comercial" sobre logística. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Rio Grande do Sul deu uma entrevista. Em letras de chamada, leio: "Em São Paulo, foi aprovada uma lei que caça a inscrição estadual do receptador de carga roubada. É muito comum cargas roubadas sendo vendidas." De imediato, pensei: "e não aprende a carga?"

Não pude deixar de esboçar um sorrisinho de mofa. Uma lei estadual para proibir as vendas de cargas roubadas? Apenas para São Paulo? Então, se o senador José Sarney quiser roubar cargas lá no Amapá, ele pode? E Jader Barbalho, no Pará? E eu, pecado dos pecados, aqui no estado que abriga o diligente sindicato patronal?

Qual a razão de meu já afamado e proverbial sorrisinho de mofa? Primeiro, pensei nos escritos políticos de Otto Maria Carpeau (aqui), um severo crítico do regime militar. A respeito a espantosa quantidade de atos legislativos protagonizados por aquela sanha redacional, falava em "churrio legislativo". Nada me parece mais a isto do que a sanha contemporânea que, atrevo-me a pensar, deixaria no chinelo a daqueles tempos. Nome de estrada? Virou lei. Pode ou não usar armas? Virou plebiscito. Queremos república ou monarquia? Outro. O senado? Só fechando. A câmara dos deputados? Só com ostracismo a seus eleitos.

DdAB
A imagem é daqui.

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