26 março, 2014

Raymundo Faoro e a Escolha Racional Machadiana

Querido blog:

Tenho um objetivo na vida, nomeadamente, terminar de ler o livro:

FAORO, Raymundo (1976) Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. 2ed. São Paulo: Nacional.


Em outra postagem (já fiz meia dúzia carregando-lhe o nome ao cyberespaço), terei dito que ele escreve ainda melhor do que Machado de Assis, cuja obra é o objeto de seus ilustríssimos comentários e um estilo de servir de exemplo no curso de introdução à língua portuguesa do Brasil.

E hoje quero falar da página 198 deste livro. Para bem entendermos o que será digitado em seguida, precisamos saber o que é "correspondente". Diz o aurelião em sua quinta acepção: "Pessoa que trata de negócios de outra(s) fora da terra desta(s)." Pois bem (naquele digitado 'suprindo', lia-se o indigidado 'suprimindo', que corrigi, como indica o bom-tom; no segundo, tudo de bom):

Mas o correspondente não se limitava às ligações com o agricultor, vendia em loja aberta e negociava com os comerciantes do interior, suprindo-lhes os estabelecimentos mediante suprimento de safras futuras, com juros anuais que variavam entre 7 e 17%, ou, em certas províncias, de 18 a 24%. De qualquer maneira, o juro anual de 7% era considerado não só barato, mas privilegiado. A regra, para os empréstimos bancários, seria de 9%, se realizado diretamente entre o estabelecimento e o fazendeiro; se um intermediário correspondente ou comissário - atravancasse a operação, o encarecimento atingiria mais 2 ou 3%. Mas o problema não era só o juro - esta seria a hipótese normal, se suficiente a safra, pelo preço ou pelo volume, para saldar a dívida. Se ficasse um resíduo, as amortizações cumuladas aos juros punham em risco a estabilidade e o equilíbrio financeiro da fazenda, dada sua produtividade não alta (10 a 15% ao ano). Daí a bancarrota, o desastre, a execução hipotecária - porque a dívida, se excedente à rotina entre safras e avultada ou extraordinária era, em regra, hipotecariamente garantida, na composição da qual pesava a escravatura.

Ele -Faoro- cita como sua fonte J. Nabuco, O abolicionismo, op. cit., pág. 163. Op. cit.? Sim: São Paulo, Ipê, 1949. Não tenho muito que falar. Desejo apenas registrar que os juros podem cair no máximo 100% e podem subir infinito por cento. Mas os mais altos eram de até 24%.

Mesmo com pouco a falar, não posso deixar de lado o mais estrondoso elogio ao conceito de equilíbrio: deveria manter-se certo "equilíbrio financeiro" entre a taxa de juros e a produtividade da fazenda. E se não houvesse? O correspondente iria crau na terrinha.

DdAB
P.S.: aqui postei alguma coisa sobre ler milhares de livros ao mesmo tempo. Menos de um ano atrás, nem registrei este Faoro. O certo é que comecei a lê-lo em 21/set/2013. E quando o terminarei?

Imagem: aqui. Lindíssima postagem sobre os 1.001 livros e sem esconder seu caráter crítico, pois denuncia a ausência de Saramago (Ensaio sobre a Cegueira). Então já são 1.002, ok?

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