27 fevereiro, 2012

Lange: O Objeto e Método da Economia - Parte Um

querids blogueirs:
Proêmio:
estaremos tods lembrads que, no outro dia, anunciei (aqui) alguns textos de Oskar Lange, a quem atribuí influência importante na minha formação de -agora temos até batismo - economista neo-heterodoxo.

nos dias seguintes, transcrevi as notas que usei para ministrar aulas de "O objeto da economia política; noções preliminares. p.13-15."

e hoje começo a fazer o mesmo com relação ao artigo [de 1945]:

O objeto e método da economia.
Literatura Econômica. v.7 n.2 p.207-230, 1984.

cujo original é de 1945, o ano da guerra que ainda não terminou... e uns malvadinhos diriam que ele, Lange, não terminou de escrever "economia política", ficando apenas no substantivo. e outros, malvadões, diriam que, se é o substantivo, ainda bem, pois o pior é o adjetivo. seriam, talvez, os que criaram o afamado silogismo "Todo político é ladrão"...

então lá vem Lange:

1. De que trata a economia
:: economia é a ciência da administração dos recursos escassos na sociedade humana

:: com isto, lembramos a noção de "necessidades", que são biológicas ou sociais. as biológicas têm comunalidades com o mundo dos demais seres vivos, ao passo que as sociais são produto da vida em sociedade.

:: para satisfazer as necessidades: usam-se recursos, que são bens e serviços. alguns são escassos e outros são abundantes. a questão sobre como distribuir os recursos escassos resulta de decisões tomadas pelos homens.

:: administrar os recursos escassos é produto dos padrões da civilização e organização e instituições da sociedade. há, a este respeito, uma influência que se desdobra:
.a. as necessidades determinam os padrões da civilização [e tu sabia que "civis é 'cidade'?].
.b. as organizações e instituições sociais determinam as maneiras pelas quais os recursos são usados.

:: as formas de administrar os recursos são influenciadas por:
.a. firmas de propriedade
.b. instituições tais como as corporações e os bancos
.c. conhecimento técnico
.d. regulamentação de atividades
.e. hábitos
.f. padrão moral.

:: daí poder-se ver por que a economia é uma ciência social, mas ela difere da sociologia, uma vez que privilegia o estudo das ações do homem quanto aos recursos escassos.

:: a economia não se satisfaz apenas com o conhecimento descritovo, tentando discernir padrões gerais de uniformidade na administração dos recursos escassos. [estes padrões, também chamados de 'regularidades' podem ser classificados em paralelismos e simetrias].  por exemplo, se os indivíduos ficam mais ricos, eles gastam mais em bens e serviços.

:: o ramo da economia que lida com tais padrões de uniformidade e os combina num sistema coerente é a teoria econômica. as proposições que enunciam estes padrões de uniformidade são as leis econômicas [e.g., se a renda sobe, compra-se mais]. mas devemos ter presente que as leis são proposições condicionais.

:: ou seja, tal e qual acontece sempre que tais e quais condições são satisfeitas [p.ex., se a renda sobe, mas os preços sobem ainda mais, não podemos garantir que se compra mais].

:: deste modo, podemos entender que as leis são historicamente limitadas a certos tipos de organizações e instituições sociais. não há, a partir disso, nenhuma diferença entre as leis sociais e as naturais, apenas que estas têm maior permanência histórica [algumas leis da meteorologia são menos permanentes...]

:: as leis são estabelecidas para fazerem predições. na economia, servem para prever o resultado de políticas, i.e., de ações públicas ou privadas com referência à administração dos recursos.

:: o processo da construção da teoria econômica é a observação, que deve ser
.a. realizada
.b. classificada
.c. interpretada
à luz das uniformidades estabelecidas pela própria teoria.

:: as leis são um conjunto de proposições dedutivas obtidas pelas regras da lógica (e da matemática) a partir de um conjunto de supostos e postulados.

:: a economia é tanto uma ciência dedutiva quanto empírica.

:: os teoremas estão sujeitos a testes através da observação empírica, quando -então- se tornam teorias ou hipótes ou modelos.

:: a teoria não é específica: não se pode conceber -por exemplo- o preço de um bem específico

:: os teoremas da economia teórica nunca são confirmados completamente e sim apenas parcialmente.

:: às vezes, formulam-se hipóteses compatíveis com os fatos

:: a administração dos recursos escassos deve ser feita tendo em vista certos objetivos sociais:
.a. satisfazer as necessidades individuais
.b. satisfazer as necessidades coletivas: industrialização, guerra, justiça social

:: uma vez que os objetivos têm caráter social, pode-se encontrar regras de uso dos recursos escassos que melhor conduzem à realização desses objetivos.

:: o uso daí sugerido é o uso "ideal". dele surge um padrão para a avaliar o uso real. e daí surge o capítulo da microeconomia chamado de "economia do bem-estar".

:: na economia do bem-estar, o caráter condicional das proposições é mais claro do que no restante da economia teórica.

:: as regras do uso "ideal" dos recursos podem então ser consideradas como um tipo especial de leis econômicas. isto torna conveniente incluir a economia do bem-estar na economia teórica como um ramo complementar.

[seções 2 e 3 seguem amanhã; termina quarta-feira!]
DdAB
imagem: aqui. entre o que falamos acima e o globo movido por dinheiro, houve uma longa evolução histórica. pelo menos 10 ou 20 mil anos!

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