20 fevereiro, 2012

Oskar Lange: os prolegômenos

queridos/as blogueiros/as:
ontem, no rodapé da postagem um tanto premonitória (antecipei eventos que ocorrerão apenas depois de amanhã, hehehe), falei que começaria uma série de postagens sobre Oskar Lange e centenas de glimpses que aprendi com ele. descontadas leituras de que não tenho registro (por exemplo, os dois ou três livros em espanhol), encontrei quatro pastas com textos dele e, em duas, comentários meus. lá vai:

.a. livro:
LANGE, Oskar (1967) Moderna Economia Política; problemas gerais. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura Econômica.

.a.1 Capítulo 1: O objeto da economia política; noções preliminares. p.13-15.
.a.2 Capítulo 4: O método da economia política. p.90-138. [Não falarei mais sobre ele].

.b. artigos:

.b.1 O objeto e método da economia. Literatura Econômica, v.7 n.2 p.207-230.
Notas. Tradução: Antonio Silva Dias, Luciana Varnieri Brito, Maria Juliana Zeilmann Fabris e Renato Lui Romera Carlson. Revisão da tradução: Achyles Barcelos da Costa, DdAB, Pedro Silveira Bandeira e Suzi de Avila Bérni. O original intitula-se "The scope and method of economics" e foi publicado na Review of Economic Studies, v.13, em 1945. Os tradutores foram meus alunos de Introdução à Economia na UFRGS em 1984, ou seja, há milhares de anos. Fizemos uma empreitada, da qual participou também o acadêmico Marco Antonio Vargas, cujo trabalho foi misturado com alguma gema de fino lavor e a autoria perdeu-se na ourivsaria do tempo.

.b.2 A economia marxista e a moderna teoria econômica. Publicado em:
HOROWITZ, David, org. (1972) A economia moderna e o marxismo. Rio de Janeiro: Zahar. p.66-83. [Não falarei mais sobre ele].
Notas: diz o rodapé: Reproduzido da Review of Economic Studies, junho de 1935. Digo eu: este é uma dos mais extraordinários e visionárias outras matérias (artigos e livros) que já li.

Hoje vou tanscrever um apêndice de menos de duas páginas do primeiro capítulo do livro:
.a. título do capítulo: O objeto da economia política; noções preliminares.

OBSERVAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA DENOMINAÇÃO "ECONOMIA POLÍTICA" E OUTRAS SIMILARES
O termo "economia" provém de Aristóteles. Designa a ciência das leis da Economia Doméstica. Em grego, oïkos quer dizer casa e nomos, lei. A expressão "economia política" começou a ser usada no princípio do séc.XVII. Foi Montchrétien que a introduziu, para publicar, em 1615, um livro intitulado Traité de l'écononomie politique (Tratado de economia política). O adjetivo "política" devia indicar que se tratava de leis da economia do Estado; Montchrétien ocupava-se, com efeito, em seu livro, principalmente das questões das finanças do Estado. Posteriormente, a denominação "economia política" generalizou-se para designar as pesquias consagradas aos problemas da atividade econômica social. O termo grego politikos é sinônimo de "social" (por exemplo, Aristóteles definiu o homem como sendo um "animal social": zoon politikon). Daí considerarmos as expressões "economia política" e "economia social" como sinônimos, se bem que esta última exprima melhor o verdadeiro conteúdo desta ciência.

Por vezes, a Economia Política é definida como sendo a ciência da "economia social". É esta a expressão que empregou Supinski no título de sua obra: Szkola polska gospodarstwa spolecznego (A Escola Polonesa da Economia Social) (1862-1865). Na França, em conformidade com uma tradição que remonta a 1615 e a Montchrétien, a expressão "economia política" é geralmente empregada até hoje. Por exemplo, o célebre tratado de Charles Gide: Principes d'économie politique (1884). A expressão "economia social" foi muito empregada na Polônia em fins do séc. XIX e princípios do séc. XX. Esta expressão tinha igualmente partidários em outros países. Na Itália, Luigi Cossa intitulou a sua obra, publicada em 1891, Economia Sociale. Na Alemanha, foi essa a expressão empregada por Heirich Dietzel: Theoretische Sozialoekonomie, 1895.

Na Inglaterra - certamente por influência francesa - a expressão adotada foi "economia política". James Stewart foi o primeiro a empregá-la, quando intitulou o seu livro, editado em 1767, Inquiry into the Principles of Political Economy.

É desta tradição franco-inglesa que provém a designação "economia política" que Marx e Engels escolheram para designar a ciência que trata das leis sociais da produção e da distribuição dos bens, devendo-se observar que Marx definiu por vezes a sua obra como sendo uma "crítica da economia política", quer dizer, uma crítica das doutrinas que formam o que se chama a Economia Política clássica. Desde então, a expressão "economia política" tem sido universalmente empregada na literatura marxista. Rosa Luxemburgo constitui uma exceção: falava, com efeito, em seus cursos de Economia Política, da "ciência da economia nacional" (Nationaloekonomie), (Cf. Rosa Luxemburgo - Einführung in die Natonaloekonomie. Ausgewählte Reden un Schriften, Berlim, 1951, vol.1).

Era essa a designação que, a partir da segunda metade do séc. XIX, tinha alcançado ampla aceitação na ciência oficial alemã (Nationaloekonomie, Volkswirtschftslehre). Traduz a apreciação específica, de papel da nação enquanto fator econômico, da chamada escola história que representava a corrente dominante na ciência oficial alemã. Deve-se acrescentar que esta expressão foi empregad apela primeira vez pelo monge veneziano Gianmaria Ortes em seu livro Della Economia Nazionale, publicado em 1774. Fryderyk Skarbek também intitulou o seu curso de Economia Política, publicado em 1895: Ogólne zasady nauki gospodarstwa narodowego (Princípios Gerais da Ciência da Economia Nacional). Na Rússia, a expressão "economia política" foi empregada com persistência, a princípio sob a influência da tradição franco-inglesa, posteriormente por se tratar de expressão universalmente empregada na literatura marxista.

Depois que Alfred Marshall intitulou o seu livro, publicado em 1890, Principles of Economics, o termo "economia" foi usado cada ver mais no ensino univestitário dos países anglo-saxões. Nesses meios, suplantou a expressão "economia política", que empregava ainda William Stanley Jevons (seu livro, publicado em 1871, chamava-se The Theory of Political Economy). Na Polônia, o termo ekonomika é empregado com especial insistência por Edward Taylor em seu Wstep do ekonomiki (Introdução à Ciência Econômica), 2a. edição, Gdynia, 1947. Cf. igualmente Adam Krzyzanowski, Zalozenia ekonomiki (Os Princípios da Ciência Econômica), Cracóvia, 1919. Isto não deixa de ter relação com um certo deslocamento do objeto das pesquisas econômicas, questão sobre a qual teremos ocasião de voltar a falar. Atualmente, nos países anglo-saxões, o termo "economia política" é empregado quase exclusivamente na literatura marxista, que opõe conscientemente a "economia política" da chamada escola clássica e de Marx e Engels à "ciência econômica" universitária contemporânea. (Por exemplo, Maurice Dobb, Political Economy and Capitalism, Londres, 1937).

de minha parte, posso juntar-me à temática da definição da -que chamo- ciência econômica. primeiro: vejo, aprendido com o próprio Lange, que não há uma mas, pelo menos, duas ciências econômicas, dois paradigmas, no dizer de Thomas Kuhn e sua aplicação mais direta à ciência econômica, o belíssimo artigo "Radical Political Economics as a Scientific Revolution", de Stephen T. Worland, e publicado no Southern Economic Journal, v.39 n.2 oct/1972. o próprio Lange, como observamos pelo título acima, fala em "economia moderna" e "marxismo", ao invés de "economia", ou "economia política" e "economia marxista". e, de passagem, ganhamos o entendimento que os economistas radicais (marxistas?, apenas estes?, claro que não) americanos (que hoje alguns chamariam de heterodoxos, juntamente a pilhas de outras escolas, como os pós-keynesianos, os austríacos, os evolucionistas, os institucionalistas, os comportamentalistas, e por aí vai) falavam em "economics" e não em "economy", a diferença entre a ciência e o sistema econômico.

outro ponto que junto a esta discussão é que a teoria da escolha pública dos anos 1950 também é intitulada de "Political Economy".

por fim, gostaria de dizer o que andei inferindo ser a contribuição para o "economics" de Alfred Marshall. tempos atrás, baixei da Internet o livro "Political Arithmeticks", de William Petty. daí chegou-me a "political economicks", o que mostra que realmente Marshall pulou o "political" (como poderia ter pulado o "social"), mas manteve o "economics", sacando fora apenas o "k".
DdAB
a foto de Oskar Lange vem da Wikipedia. lá podemos ver alguns traços biográficos do polaco. a tradução acima referida, feita por meus alunos, fez-se acompanhar por alguns traços biográficos de Lange, ausentes da ficha da Wikipedia.

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