seguimos hoje com a segunda parte do artigo de Oskar Lange [cujo original é de 1945]. para ler o que ontem postei, clicar aqui.
O objeto e método da economia.
Literatura Econômica. v.7 n.2 p.207-230, 1984.
2. A objetividade da ciência econômica
[chamar a atenção que objetividade não é neutralidade]
:: uma vez que os fatos são interpessoais, isto é, valem para todos, a economia é objetiva: duas pessoas que concordam em acatar as regras da lógica chegarão às mesmas conclusões, pois a mesma hipótese deve gerar o mesmo teorema.
:: as divergências entre ortodoxos e não-ortodoxos, burgueses e socialistas, e outros, não refutam a tese da objetividade e sim devem:
.a. refletir divergências entre objetivos sociais
.b. refletir divergências sobre os fatos relevantes
.c. fracassar ao ater-se às regras da lógica, da identificação e da verificação.
:: a persistência de divergência indica que as influências perniciosas são muito fortes. estas podem ser conscientes ou subconscientes:
.a. certa sociedade histórica
.b. certo padrão civilizatório (crenças, valores, preconceitos e interesses, horizontes, limitações)
.c. dependem da universidade, instituição de pesquisa, editores, imprensa, governo, empresas
.c. nação particular (classe social, grupo religioso ou filosófico, tradição política).
:: as influências subconscientes operam por meio de processos de racionalização de motivações não-lógicos; as ideologias não têm validade interpessoal. convencem apenas aqueles que compartilham das mesmas motivações subconscientes e se submetem aos mesmos processos de racionalização.
:: mas devemos notar que nem toda a influência ideológica é perniciosa, uma vez que foi a ideologia que influenciou no desenvolvimento da própria economia teórica.
:: certas situações econômicas levam ao desemprego e à inflação, qualquer que seja a simpatia ou antipatia do economista pelo sistema capitalista.
:: o elemento ideológico pode até ajudar a alcançar resultados válidos interpessoalmente:
.a. física e química - lucro e defesa nacional
.b. biologia - simpatia humana pelo doente
.c. ciências sociais - justiça social, liberdade.
:: também se sabe que as motivações conservadoras desfavorecem, ao passo que as progressistas favorecem, a obtenção desses resultados.
"é o desejo de mudança e aperfeiçoamento que, consciente ou subconsciente, que cria a inquietude da mente resultando na investigação científica da sociedade humana."
.3. As Unidades Econômicas e sua Coordenação
:: unidades: indivíduos, famílias, empresas, entidades governamentais
[quase 30 anos depois de ter lido o artigo pela primeira vez, penso: cara, bicho, gente, indivíduo, pessoa: ele está falando no que a matriz de contabilidade social designa como instituições envolvidas com a absorção da produção. as famílias protagonizam o consumo das famílias, as empresas protagonizam o investimento. também as empresas são responsáveis pelas exportações e importações. por fim, as entidades governamentais protagonizam o consumo do governo (e, se quisermos, o investimento do governo)].
:: cada um dispõe de certos recursos, os quais são classificados em três tipos:
.a. consumo
.b. produção
.c. troca
[na MaCS, fala-se em produção, apropriação e absorção; a apropriação pode ser feita por troca ou donativo]
:: os objetivos guiam as decisões:
.a. nas famílias é o consumo
.b. nas empresas é o lucro
.c. nos serviços públicos: bem estar público [escolas, hospitais, sistema judiciário, serviços industriais de utilidade pública, correio, exército]
:: as decisões destes três tipos de unidades podem ser independentes, e sua totalidade constitui a economia [o sistema econômico].
:: há equilíbrio na economia quando as decisões das unidades são consistentes umas com as outras.
:: como alcançar a coordenação?
.a. planejamento
.b. mercado
.c. misto entre planejamento e mercado.
.4. O Capitalismo e Outras Formas de Organização Econômica
:: a história da sociedade humana mostra diferentes maneiras pelas quais a administração de recursos escassos é organizada.
:: de todas as atividades econôicas é a produção aquela para a qual os homens dedicam mais tempo e atenção.
[isto também deve ter mudado nesses últimos 30 anos, ou desde que Lange publicou o artigo, lá em 1945; hoje fala-se em custos de produção e custos de transação e estes últimos chegam a superar os de produção; a menos, claro, que estejamos entendendo como produção o que Marx chamava de trabalho improdutivo, como o comércio e a proteção jurídica ao cumprimento dos contratos].
:: em tempos passados, os produtores eram as famílias: tratava-se da economia doméstica.
:: a crescente troca levou ao aparecimento da empresa.
[e aqui tem algo rimando com os parênteses acima: a empresa surgiu por causa do custo de usar o mercado, na visão de Ronald Coase]
:: o objetivo da empresa é o lucro, e ela o atinge tanto melhor conforme maior seja seu valor, ou seja, ela procura maximizar o lucro auferido em sua atividade.
:: a economia cuja maior parte da produção é da empresa é a economia capitalista:
.a. capitalismo estatal
.b. capitalismo privado
:: mas ainda há outros objetivos para a empresa: prestígio, posição social, desejo de 'vida mansa', responsabilidade social, aversão a decisões que envolvam risco.
:: elas sacrificam algum lucro para atender a esses objetivos. mas a busca do lucro domina os outros objetivos de tal modo que podemos pensar que elas se ajustam aproximadamente a nossa concepção teórica de empresa que maximiza lucros.
[mesmo porque, sem lucro, não haveria como investir em, digamos, posição social do proprietário e sua família].
:: quanto ao risco, pode-se dizer que a empresa deseja maximizar seu lucro descontado o risco.
:: outra forma de organização econômica é o socialismo: a produção é feita por serviços públicos operados para a satisfação das necessidades da comunidade.
:: os proprietários são
.a. os governos: central, estadual e municipal
.b. as associações de cidadãos: cooperativas, clubes, sindicatos, fazendas coletivas
.c. corporações especiais do governo
.d. fundações.
:: a coordenação é planificação e mercado, tal como no capitalismo
[mas não havia um verdadeiro mercado monetário nos países socialistas, como identificamos claramente hoje em dia]
::a história raramente nos confronta com uma organização econômica que corresponda exatamente às nossas classificações teóricas, pois há claramente as economias mistas.
DdAB
o original desta foto com a fetichização da própria pele encontra-se aqui. tomara que fosse das tatuagens que se desvanecem quando o lombo (avermelhado pela agressão do artista) é submetido a sucessivos banhos de água e sabão.
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