03 fevereiro, 2012

Economia Política Setorial

querido blog:
mesmo trabalhando afanosamente com a análise setorial (basicamente o modelo de insumo-produto), sou um tanto cético quanto à importância da tese dualista essencialmente baseada em setores. entendo que falta muita coisa para que eu mesmo possa colocar meu ponto de vista de maneira mais convincente do que apenas apelar à intuição criativa de meu leitor.

então o título desta postagem é um tanto brincalhão, pois os setores são menos importantes para a distribuição da renda do que parece. obviamente, o produto interno bruto captura precisamente a distribuição do excedente entre, na linguagem do IBGE, remuneração dos empregados, excedente operacional e impostos indiretos líquidos de subsídios. ou seja, trabalhadores, capitalistas e governo.

e também estou brincando com a matéria das p.22-24 da Carta Capital de first/fevereiro/2012. lá encontramos uma declaração do professor Fernando Cardim, do Instituto de Economia da UFRJ. diz ele:

"É importante ter em mente como a dependência ds exportações de matérias-primas pode ser uma alternativa razoável para países menores, sem a possibilidade de alcançar escalas de produção que justifiquem uma estrutura econômica mais diferenciada. Nós não temos esta opção."

eu fiquei, claro, pensando naquelas coisas. obviamente qualquer economia terá alguma dualidade, ou seja, os níveis de produtividade da mão-de-obra e mesmo da produtividade total dos fatores serão diferentes em diferentes setores. a embriologia humana e mesmo animal deixa claro que crescer harmonicamente implica crescer desigualmente. ele está falando com "estrutura econômica mais diferenciada" naquela ideia que considero absolutamente equivocada do "fechamento do parque industrial".

o que é importante, o que corrige o dualismo, é a nivelação do consumo per capita. obviamente, esta apenas vai ocorrer se houver razoável redistribuição da renda, fazendo a produto dos fatores sair de um jeito e a receita (nota bene: não falei em renda) das famílias chegar de outro. tenho argumentado que não há nada de errado com o Brasil, no sentido de estar vendo seu setor primário crescer mais do que o industrial. obviamente, a indústria nunca chegará a 0% do PIB nem o primário chegará a 100%. a experiência histórica internacional permite assegurarmos este tipo de obviedade. por outro lado, insistir que precisamos ter indústria, que precisamos de uma opção de economia política que encha o BNDES de dinheiro, que favoreça a promoção da pequena e média empresa, que se oponha ao livre comércio mesmo daqui a 20 anos é insistir no inserção do Brasil no Clube da Baixaria.

para estes fins, o que importa é reduzir o escandaloso índice de Gini brasileiro, o que obviamente pouco tem a ver com a distribuição funcional da renda. como insisti: a visão contábil é hábil: o que interessa é a receita das famílias e não o produto devotado à remuneração dos empregados. tenho insistido que filho de rico e rico velho não são empregados e consomem que é uma beleza!
DdAB
imagem: botei ali um negócio ultra-preconceituoso (de minha parte): pai e filha. ou garota rica e rapaz pobretão. you never know.

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