26 fevereiro, 2012

Mais da Carta Capital

querido diário:
novamente caiu o horário de verão. uma vez que o domingo parece outonal em Porto Alegre, apenas posso dizer que o Sol gira mesmo em torno da Terra, ou vice-versa, pois seu passeio já venceu a inflexão estival. novamente leio a Carta Capital da próxima quarta-feira.

nas p.30-31 tem uma entrevista com o prof. Antonio Dias Leite, importante intelectual brasileiro, de 93 anos de idade e que foi ministro das minas e energia principalmente no afamado governo Médici. festeja-se agora o lançamento de um livro (2011) de título talvez propositadamente comercial: "Brasil, país rico; o que ainda falta". ou seja, não somos um país rico, pois faltam requisitos. parece-me -to be true- que, na verdade, falta mesmo é renda per capita. a turma do FMI e do Banco Mundial nos distingue com o título de "renda média".

mas o que poderia fazer a diferença é que os pobres brasileiros não precisariam ser tão pobres. o vilão desta história é o índice de Gini, se minha ironia não me esconde a visão das causalidades.

li e amei o livro "Caminhos do Desenvolvimento", em que Dias Leite articula um projeto nacional para o Brasil. na entrevista, fala-se nesta questão, com outro enfoque. seja como for, talvez por barbeiragem do jornalista Maurício Dias, o entrevistador, que indagou:
"Essa seria mais uma contradição?".
e diz que Dias Leite respondeu:
"Ninguém sabe exatamente o que é 'curto' e o que é 'longo' prazo. Para o mundo financeiro, o curto prazo é uma semana, o longo prazo é um mês."

pois eu, na condição de economista neo-heterodoxo, juro que sei o que são os prazos relevantes para a análise econômica e, em especial, a teoria da produção. claro que Dias Leite não disse nada contra isto, pois sabe-se lá o que quereria dizer o jornalista com a pergunta e ele com esta tirada.

curtíssimo prazo: período de planejamento (veja só, não é "período de tempo") em que nenhum fator de produção pode variar.

curto prazo: período de planejamento em que apenas o trabalho pode variar.

médio prazo: não existe esta definição na teoria microeconômica da produção.

longo prazo: período de planejamento em que podem ajustar-se os níveis de alocação do trabalho e do capital.

prazo secular (ou longuíssimo prazo): período de plajamento em que todos os fatores de produção podem variar, inclusive a tecnologia. neste caso, desloca-se a própria função de produção. aliás, sempre que uma função de produção se desloca, ou seja, seu intercepto cambia, estamos no prazo secular. e isto pode durar um dia, ou uma semana, sabe-se lá. quando falamos em "secular", parece que estamos falando em grandes ondas de inovação. mas este não é o uso adequado do termo.
DdAB
imagem: aqui.
p.s.: fora que o jornalista, como muitos, não sabe o que é leito de Procusto.

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