18 outubro, 2009

Maconha e a Aviação Militar

Querido Blog:
Todos sabemos que o jornal Zero Hora, em sua edição dominical, chega aos lares gaúchos (como lá eles diriam) ainda durante a tarde do sábado. Mas eu deixo para lê-lo no domingo, sem abalar minha sonolenta rotina. Ou rotina que dá sono, ou rotina que tira o sono, sei lá.

Há pouco, considerando que estamos nas 9h22min do novo horário de verão, acabei de lê-la. E ficou-me apenas um ponto nesta breve postagem dominical: esta foto -entendi, via Google Images- é de uma plantação de maconha, em vista aérea. E, por contraste, no Rio de Janeiro, um helicóptero do governo foi botado abaixo (como era mesmo o nome d' "O Bota Abaixo"?, lá deles?) por tropas de guarda dos traficantes de drogas.

Quando, digamos que em 1961, chamei meu pai de maconheiro (epa, esta postagem dominical -"domingo pede cachimbo"- está descambando para a "Vida Pessoal"), ele disse algo como "a droga ainda vai destruir o Brasil". Quando apresentei uma lista de exercícios de "teoria elementar do preço" a meus alunos de Introdução à Economia, muitos anos depois (digamos que em 1993, ou até antes), inseri um problema (o centésimo da listinha, que pode ser vista com o clic na mãozinha acima) com parâmetros "calibrados", mostrando que, se a maconha recebesse o mesmo imposto indireto que incide sobre o tabaco, sua quantidade de equilíbrio iria cair. Um aluno chamou-me de maconheiro, e eu apenas comentei que, neste caso, a droga já destruíra o Brasil.

Postagem "Economia Política": não é concebível que as autoridades governamentais gastem helicópteros, incitando uma corrida armamentista urbana com os traficantes de drogas. Dados meus parâmetros, bastar-lhes-ia jogar um imposto de 73% sobre a "mardita", como digo na lista, para reduzir a quantidade consumida.

Postagem "Vida Pessoal": vou explicar melhor as razões que me levaram a chamar meu pai de maconheiro. Mal chegados de Jaguari, a cidade de Porto Alegre me fascinava. Mais que ela, creio que meu finado primo Arlei Acácio Ávila fascinava-me denodadamente. Ele associou-me ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e levava-me ao Estádio Olímpico a ver os jogos. Naquele mesmo verão da chegada, fez-se um torneio envolvendo -se bem lembro- a dupla Gre-Nal e dois clubes catarinenses, um deles chamando-se Metropol (talvez também os paranaenses). Pois o Grêmio ganhou o torneio, não sem certos tropeços. Num vacilo de um juíz em momento de perigo, ouvi alguém classificando-o como maconheiro. Ao divergir de meu pai em um desses assuntos banais que cercavam a vida familiar de antanho, não hesitei em aplicar-lhe a recém descoberta interjeição porto-alegrense. Fui pedagogicamente reprimido: a droga não destruiu minha relação com ele, nem o resto da família.
DdAB

p.s.: espécie de postagem extra
não contente com aquela listinha de 100 problemas sobre a teoria elementar da formação do preço em um mercado convencional, no outro dia expliquei a um menino de rua a diferença entre custo médio e custo total de uma forma -para mim- inédita e -para mim- interessante.

de modo análogo à análise custo-benefício, muita gente sugere que o projeto é viável quando o custo/benefício é alto. Na common parlance, isto não é grotesco, ainda que a obviedade acompanha a idéia de que só queremos projetos cujo benefício (b) supere o custo (c), ou seja c/p<1 .="" 1.000.000="" 100="" 101="" adesivos="" agora="" autom="" br="" campanha="" claro="" custo="" d="" da="" de="" deio="" dio="" do="" e="" estamos="" fazer="" lixo="" m="" maior="" mais="" mandamos="" mesmo="" n="" o.="" o="" pagamos="" pagando="" produzir="" que="" r="" se="" seco="" situa="" temos="" um="" uma="" vel="" vidro="">
Quando o custo médio cai, em resposta ao aumento do tamanho da fábrica (ou seja, maior estoque de capital), passamos do curso ao longo prazo (mas imediatamente, caímos, na fábrica de tamanho maior, a nova condição de curto prazo, que o "tempo" cronológico sobre o qual se desenvolve a atividade econômica). Neste caso -presença de economias de escala-, nosso interesse desloca-se da quantidade produzida (que, naturalmente, vai aumentar), e centra-se no tamanho da fábrica (que cresceu).

Mas, no caso do curto prazo, existe outro fator importante que faz o custo médio cair quando a quantidade produzida aumenta. Ocorre que, na contabilização dos custos da empresa, diferenciamos o gasto em mão-de-obra de outros gastos que chamamos de fixos, como o gasto em, digamos, manutenção do portão de entrada, um troço destes que absolutamente não depende do nível de produção. Então, se começarmos a ratear o valor da manutenção por cada (diria Zero Hora, com suas tradicionais cacofonias) unidade produzida, teremos claramente o custo fixo cainda ao lado da elevação de seu denominador, não é isto?

Ok, fim da diferença entre custo médio e custo total. Falta agora, antes de começar a beber gin -que a vida vem em ondas, como o mar-, deixar claro que a frase da "por cada" pode ser emendada, num bom jornal, para: "o valor da manutenção de cada unidade produzida", ou "o valor da manutenção correspondente a cada unidade produzida", e por aí vai. E eu também vou.

2 comentários:

maria da Paz Brasil disse...

Ei Duilio!

É inacreditável a simplicidade (pelo menos aparente) de algumas soluções para assuntos complicados como o consumo de maconha. Gostei muitíssimo da forma como foi abordada nesta postagem. Adorei a parte pessoal também.
MdPB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é, MdPB, não sei se comecei a pensar no assunto de modo independente. o fato é que um marco em minha posição de defender o fim da proibição foi passado por James Tobin. ele disse que os USA foram derrotados na guerra contra a cocaína. do livro "Happiness", do microeconomista Richard Layard, de 2005), ganhei o conceito de "droga recreativa". descontando as "crianças, criminosos e loucos", apenas a hipocrisia e o interesse material mesquinho é que sustentam o combate numa guerra perdida. e o Grêmio? tantas fez que levou-me a abandonar o futebol como lazer.
DdAB