14 outubro, 2009

DMLU, Terceirização e Insanidade

querido Blog:
parece que, na foto acima, a única coisa mais -digamos- próximas à civilização decente (conceito da ILO) é o caninho encabeçado por uma latinha verde. poderia ser uma sinaleira, uma coisa dessas. De resto, vemos o que andei pixando como FMI-Fome, Miséria e Imperialismo. Não pude evitar, pois -logo que nos reencontrássemos, em não sendo presos, o que nunca pensáramos que seríamos- iríamos meter umas biritas no Bar Alaska. Era, digamos, 1970.

Hoje, acho que o FMI - Fundo Monetário Internacional pode salvar o Brasil e o mundo. O banco central mundial, uma organização cujas verbas sustentarão a Brigada Ambiental Mundial, tudo escritinho na aba direita deste blog. E acho que a International Labour Organization, ao definir "emprego decente" também fez sua parte. Quem não fez foi o DMLU - Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre. Por certo, houve terceirização, eis que parte dos caminhões são da "Transportes Barão", são ou foram, que não sou dado a cheirar lixo (exceto hoje de manhã, ao resfolegar nas cercanias do ponto em que o Arroio Dilúvio forma o Rio Guahyba, em que lembrei-me de uns chiqueiros que também andei cheirando na Vila Taverópolis, do Bairro Amanbaí, da cidade de Campo Grande (que outrora um deserto transformou-se em cidade primor etc.).

Pois bem, é certo que odeio lixo seco. Não no sentido de que não ache serventia em reciclagem de valores de uso descartados, ao contrário. O que odeio é que se usou esta campanha aparentemente benévola para terceirizar não para as Transportes Barão, mas para os papeleiros e toda sua entourage, cavalos, crianças, carroças, atividades de produtividade tão baixa que dá vergonha convidar o diretor da ILO para correr meus 5km na orla do Guaíba. Sempre pensei que também o projeto de reciclagem humana teria maior pay-off do que esse de reciclar jornais e garrafas, além dos famosos tomates do curta-metragem "Ilha das Flores". Nesta linha, ouvi -no Conselho de Justiça e Segurança do Bairro Menino Deus, em reunião de maio passado, uma coroa dizer que ouviu um papeleiro dizer que não queria favor da comunidade, apenas emprego. Eu pensei cá com meus paralelepípedos retângulos que esse neguinho não sabe a diferença entre luva e Lua, ou olho da rua e olho da pua, essas coisas de livrinhos de alfabetização de adultos.

De onde vieram os moradores de rua? Certamente não se originaram de membros desviantes das famílias dos políticos, não em sua maioria. Com certeza, há loucos em todas as famílias, mas a maravilhosa Lei Paulo Delgado (ou era Pauno Grosso?) botou para a rua dos manicômios basicamente os pobres, os desvalidos. Estes e estas tornaram-se presa fácil deles mesmos e de outros todos os tipos de predadores, inclusive animais silvestres. E as crianças? A pedofilia e prostitição infantil. Todos habitam as ruas, com a conivência das autoridades, permitindo que o Arroio Dilúvio tenha sido testemunha de inúmeras cenas de amor e desespero entre desvalidos. Fora o linchamento (evitado por um policial) de um devedor de dinheirinho sagrado das drogas. Um mundo cão, um inferno, uma coisa de louco, insanidade absoluta. Se me não equivoco, até já foi criado o jornal "Boca de Rua", querendo condições de trabalho decentes.

O crime desta terceirização odiosa é que o DMAE, ou seja, a comunidade porto-alegrense delegou uma dimensão importantíssima de sua vida ao controle de ladrões (epa, não estou falando dos objeto de benevolência por parte do MAL*, ou seja, os ladrões de que falo devem ir irremediavelmente para a cadeia, pois corrompem a juventude, usam um senso de honra completamente incompatível com o senso de justiça e infiltram-se até nos xeroxes das cartas de amor que andei enviando a umas almas penadas.

Se é verdade que o DMLU deve avaliar, deliberar e fiscalizar a limpeza urbana, mais verdade ainda é que a comunidade precisa envolver-se para evitar que os "cargos em comissão" proliferem e façam da administração estratégica do lixo um palanque eleitoral. Foi sugerida a criação da Associação Comunitária de apoio ao DMLU. Viu-se que a ação tópica desse departamento é absolutamente tópica, ou seja, não adianta eles retiraram o lixo depositado ilegalmente aqui e ali, pois os alixarados vão para acolá e algures, sei lá. O que é preciso, sem a menor dúvida, é a criação de mecanismos perenes. Acabar com a terceirização, criar um verdadeiro setor público encarregado do manejo do lixo urbano. Inserir verbas no orçamento municipal para tratar do tema, comtratar pessoas, treiná-las, contratar equipamentos.

Não sei se é isto que se entende por orçamento participativo. Tomara que seja. Tem que ter uma saída. Não é concebível que sigamos sendo predados como os ratos europeus fizeram com os dodos da ilha de Madagáscar. Era isto? Era isto.
DdAB

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