05 junho, 2012

Quebra-se um Vaso (perdem-se R$1.000)

Querido Diário:
Digamos que minha netinha, em seu afã de dominar as formas do mundo, esteja manipulando aquele vaso que chegou-me a casa por meio de algum meio que não nos interessa escrutar. Ok, escrutar é investigar, pesquisar, sondar. Ok, estamos em plena postagem de busca de entendimento (Verstehen) dos métodos científicos. Estamos com duas postagens [(a) e (b), para não falar na (c)] do Bípede Pensante em mente, além de milhares de outras. Estamos com a pergunta: quantos métodos há de gerar conhecimento? E qual subconjunto destes são científicos?

A resposta é muito simples. Há incontáveis métodos de gerar conhecimento, por exemplo -te esconjuro- a tortura. Logo eu falar nisto, que ontem mesmo estava preocupadíssimo com o general que disse que tomaria a liberdade de fuzilar Graciliano Ramos. Só na cadeia! Deixemos este hediondo método no inferno (de onde nunca deveria ter saído) e passemos aos mais conhecidos: dedução e indução. Depois falaremos de abdução.

Atrevo-me a fazer um resumo dessas postagens do B.P.:
.a. a ciência não pode basear-se na indução, pois o salto que se faz para levar o conhecimento conhecido à conjetura de que ele também se verifica num período de resultados desconhecidos é um ato de fé. Como fé rima com café e valência rima com ciência, conclui-se que esta passagem não tem valência, isto é, validade.

.b. a ciência não pode ampliar seu estoque de conhecimento sobre as coisas do mundo por meio do método dedutivo, pois a dedução não gera conhecimento novo: a conclusão já estava dentro das premissas. Obvio que Sócrates é mortal, pois todos os homens são mortais. E se Sócrates não fosse homem? Então o silogismo da forma bArbArA não rolaria.

Então precisamos saber de onde vem o conhecimento científico. Já sabemos: do método hipotético-dedutivo. Ouvi um barulho de vaso de R$1.000 quebrado, vira a instantes a netinha brincando com ele, perscrutando-lhe as formas. Olhei para o ponto de onde supuz estar-se originando a fábrica de caquinhos. Vi frangalhos de vaso de R$1.000; vi bugalhos em lugar dos doces olhos da garota. Ao observar aquelas duas -a bilha quebrada e a menina derreada-, saltou-me aos olhos como que uma caixa de um jogo de quebra-cabeça. Na capa da caixa, vi o vaso como me acostumara a vê-lo, num pedestal. Abrindo-a, vi os caquinhos. Pensei: estes frangalhos dentro da caixa precisam ser armados como a imagem que temos em sua tampa. Pensei: nada isto está acontecendo. Apenas um avô senil deseducaria uma netinha daquelas deixando-a destruir o patrimônio artístico do bairro Menino Deus. Mas a hipótese de que a menina deixara cair o vaso tinha consequências lógicas que me fariam dar sentido ao barulho de vaso escangalhando-se e, mais ainda, ao depósito de caquinhos sobre o tapete de R$1.999. Caso resolvido: a neta quebrou o vaso.

Mas tenho algo a aduzir. Ao pensar mais detidamente sobre o ocorrido, percebi que, no preciso instante em que, despertado de minhas meditações sobre o método científico pelo ruído do vaso ao chão, vi os caquinhos, vi os olhos da menina, mas também vi, porta afora, um vulto das dimensões aproximadas do gato de Schroedinger. Estaria o gato, depois de ter assustado a garota, sendo abduzido por sua zelosa mãe? Que disse B.P.?

É daí que surge a necessidade das hipóteses e consequentemente do método hipotético-dedutivo. As hipóteses são o grande pulo do gato. Elas são os insights, os educated-guesses, os lampejos, como preferirem... São as respostas tentativas (e criativas, frutos do engenho inventivo do homem) para as perguntas que estão nas mentes dos cientistas.Elas são a fonte das novidades que estamos procurando.



E agora? Tenho duas hipóteses: a menina quebrou o vaso versus o gato quebrou o vaso. Não resolve pensar em usar o método abdutivo, pois ele nada mais faria do que insistir em que devemos pensar mais nestas duas hipóteses que explicariam o barulho de bilha quebrada. Pensei em contratar um detetive. Pensei em olhar o site recomendado na postagem do B.P. a que se chega clicando aqui.

Como sabem aqueles que frequentam academias calistênicas (ou que têm consciência corporal qualis A, mesmo sem a mercantilização da beleza), há duas máquinas que se chamam 'adutor' e 'abdutor' e que, embora o movimento das pernas seja o mesmo, digamos abre-fecha, os músculos requisitados são diferentes: um aduz e o outro abduz. Confuso? Ver Webster:

abduce vem do latim abducere, to lead away, to draw from; to withdraw, or draw to a different part

abducens, abducentes one of the abducent nerves [   ] The abducent muscles, called abductors, are opposed to teh adducent muscles, or adductors

abducent to take a person away unlawfully and by force; kidnap (epa, volta o método do general...)

abduction
1. an abducting or being abducted
2. in logic, a knd of aragumentuation, called by the Greeks apagoge, in which the major is evident, but the minor is so obscure as to require a further proof
3. in law, theunlawful taking and carrying away of a child, a wife, etc., either by fraud, persuasion or open violence
4. in physiology, (a) the moving of a part of the body away from the median axis or from another part; (b) the changed position resulting from this.

abductor
1. in physiology, a muscle or nerve which abducts
2. a person who abducts; a kidnaper.

Pois bem, não resisti e pensei em ir ao próprio Webster olhar o que é adduction. Ora, to begin with, aduzir é acrescentar, complementar. Mas e o Webster? Quase meia página:

adduce do latim adducere, to lead or bring to; ad, to and ducere, to lead. to give, present, or offer as a reason or proof, to cite, name, or introduce as an example. Syn - advange, allege, assign cite, quote, bring forward, urge, name, mention

adducent in physiology, adducting, opposed to abducent

adducer one who aduces

adducible, adduceable , cabable of being adduced

adduct adductus pp of adducere, to lead to; in physiology, to mode or pull (a part of the body) toward the median axis or toward another part; opposed to abduct

adduction
1. an adducing
2. in physiology, (a) an adducting; (b) the position (of a part) resulting from adducting
adductive
1. adducting
2.. of adducton

adductor Latim: adducere, to leat to
1. a muscle which adducts, as the adductor of the eye toward the nose; the adductor of the thumb, which draws the thumb toward the fingers
2. in zoology, one of the muscles which bring together the valves of the shell of the bivalve mullusks

addulce: adoçar, epa, acabou, mas acabou docemente... (transcrições feitas um tanto contrafeito/as: muito longas).


DdAB
A imagem é daqui.
P.S.: além disto, lá no site B.P., li mal: todos os mamíferos são cordatos e pensei em adotar um leão. Olhei com mais vagar, pensei que as despesas de casa, comida e roupa lavada para um leão numa metrópole brasileira contemporânea seriam proibitivas. Olhei o dicionário: cordado é um animal que em pelo menos um estágio da vida, ou durante toda ela, apresenta notocórdio. Notocórdio? Pensei: não adotaria um animal que pode apresentar notocórdios aos vizinhos, aos cães dos vizinhos, ao gato que fugia, espavorido com o ruído da bilha quebrada.

2 comentários:

Bípede_Pensante disse...

Oh, God! E agora? Vou precisar pensar até o final do ano para conseguir te dar uma resposta sobre isso. Ainda mais que vc usou o marcador "TER equilíbrio"...

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Para começar, será que não houve um terceiro agente envolvido, sendo o responsável pela quebra do vaso? Como inocentar a garota? Ela, ao mexer no vaso, teria deixado traços, impressões digitais, algum fragmento de célula dos dedinhos, sei lá. Sem traços da menina, sem pelos do gato, eu votaria no vento.
DdAB