26 março, 2012

Trabalhar Menos


querido diário:
sem falar na história de Paul Lafargue ou Domenico de Masi, o ócio é apreciado por todas as espécies humanas, é um dos mais concorridos universals. se é 'sem falar', não vou falar. mas tenho outras coisas para -precisamente- falar. marcador 'economia política', começo estranho, hehehe.

ocorre que, há pouco, olhava eu um dicionário enciclopédico. daquelas coisas, olha daqui, procura dali, cheguei na palavra 'menos', de significado óbvio: apenas por exceção, 'menos valem mais'. em geral, menos é 'a menor', como dizíamos no Banco da Lavoura de Minas Gerais, na Av. Borges, de Porto Alegre, do final dos anos 1960s. segundo ele, trata-se de um advérbio, que vem do latim 'minus', que eu pronunciava 'mainus', por causa do neocolonialismo, hehehe. na segunda acepção, vemos 'Com menos intensidade: Todos gostaríamos de trabalhar menos [itálico no original, cores da bandeira brasileira homenageando os políticos nacionais de minha iniciativa]'. pensei: 'é um universal' [itálico para sinalizar que é um estrangeirismo, o singular defectivo de universals].

ou seja, aparentemente, vemos a expressão de um princípio hedonista que assegura que desejamos obter o maior benefício com o menor sacrifício. muito sensato, aliás os gregos originais nem falavam em sacrifício. há muito entendi que 'o consumo é a finalidade do sistema econômico', quando tem gente que até hoje pensa que é o investimento. ou que é 'acumular, acumular'. mesmo o capitalista que pense (ou que faz-nos pensar que pensa) que sua finalidade na vida -além da morte- é acumular, acumular não estará em desacordo que ele apenas poderá fazê-lo se entender que o sistema tem por finalidade o consumo.

depois disto, nesta linha: diz-se, talvez antes de Marx, mas certamente a partir dele, que o processo civilizatório (ou ele dizia apenas a sociedade capitalista?) rege-se pelo desejo de, na produção, substituir-se trabalho vivo por trabalho morto. ou seja, horas de trabalho humano por produção de máquinas que imitarão movimentos humanos ou da natureza, reduzindo a necessidade de trabalho humano por unidade de produção obtida. ou seja, todo mundo deseja trabalhar menos. e, se todo mundo deseja, quem são aqueles que não desejam? crianças? criminosos? loucos? provavelmente apenas os últimos: o workoholism, vício mais destrutivo do que o próprio alcoolismo.

agora, se o valor das mercadorias é dado pelo número de horas de trabalho que a sociedade despende em sua produção. e se a sociedade deseja racionar essas horas despendidas, o que faz com que a empresa que desperdiça não cresça e até feneça. e se o valor se relaciona com o preço, podemos ver uma contradição: tem que usar menos trabalho, mas quanto menos usa, menos a mercadoria vale e, na economia competitiva, seu preço vai caindo.

e mais. tem a hipótese renda-lazer, que aceita esta característica humana: apenas sacrificamos nosso lazer para ganhar dinheiro. claro, claro, é exagerada. mas é uma espantosa aproximação das tendências humanas.

finalmente: chego a meu ponto central. sempre que os políticos e os empresários ficam falando que suas iniciativas de ganhar dinheiro (muitas delas precisamente destinadas a evitar o trabalho) gerarão "emprego e renda", fico pensando nas considerações que estou fazendo por aqui e que foram motivadas pela postagem de LeoMon. sob o ponto de vista do empresário, nem sei o que dizer, parece sincero. se ele quer 'acumular, acumular', então ele precisa de trabalhadores. mas a verdade é que 'os custos nunca são suficientemente baixos' -no dizer de Michael Porter-, o que deve levar o empresário a querer obter o máximo com o menor volume de emprego. gerar muito emprego é gerar incomodação e vencer na vida é reduzir o emprego.

o político, finalmente, não entende muito do assunto e, na maioria dos casos, não pode confiar em seus assesores. estes, naturalmente, foram escolhidos para preencherem cargos em comissão, são 'a companheirada' e, como tal, tampouco entendem muito do assunto. se entendessem, eles iriam querer criar mecanismos para aumentar a produtividade agregada do sistema. ou seja, produzir mais com cada vez menos recursos.

p.s. na postagem de hoje não falei sobre a distribuição. como é que quem não trabalha ganha dinheiro? só pode ser da família ou do governo. não é mesmo?
DdAB
imagem daqui.

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