querido diário:
tem uma canção que diz "Já vai?, já vai, meu bem, já vai?" (que achei no YouTube, dentro de um pot-pourri), e por aí vai o que me diz a memória. no Caderno Donna de Zero Hora deste domingo tem uma entrevista com Danusa Leão. para mim, Nara Leão era o máximo, a musa da bossa nova. Danusa, vim a saber, era irmã de Nara. na verdade, muitos falavam que Nara é que era a irmã de Danusa, esta sendo sua irmã mais velha e afastada das lides da bossa nova. casada com o polemicíssimo jornalista Samuel Wainer, de quem li uma biografia milhares de anos após saber da Nara e sua irmã.
aparentemente a fama voltou a bafejar Danusa Leão quando ela tornou-se cronista social, ou o que valha, fazendo crônicas sobre boas-maneiras. tão festejada é Danusa que tem uma enorme entrevista no jornal. não fui capaz de ler tudo, olhando um trechinho daqui e outro dali. chamou-me a atenção este "já vai?" encartado no final de uma sentença. vejamos:
Danuza: Café você não vai ter aqui, viu? Porque ninguém faz e ninguém toma café aqui em casa. Se quiser uma água ou uma Coca-Cola, você me fala. Bom voltando: jeans, bastam dois, um no corpo, outro na mala e mais uma calça preta... Já vai?
Comentário da pessoa que está fazendo a entrevista: Conceição, a diarista, está na porta e se despede de Danuza. Ela interrompe um instante a entrevista. "Conceição, então tudo falado, né? Valeu, tchau, obrigada."
garrei de pensar: "já vai?". era que a Conceição (nome que vim descobrir depois de ter lido o 'já vai') estava se despedindo. e era que Danuza estava triste, por perder a companhia da amiga ou pesarosa por ser deixada por uma serviçal? ou seja, o 'já vai?' era uma expressão de uma chefa ou de um sentimento de simpatia?
no outro dia, vi alguém falando que é um erro politicamente errado chamar as empregadas de secretárias, o que ofenderia as verdadeiras secretárias. já fui aduzindo: e deve também ofender as empregadas, por que não? ou chamar as secretárias de, digamos, domadoras, sei lá. e "diarista"? que diabos será uma diarista, uma boia-fria? eu já refleti bastante sobre este assunto e fiz duas brincadeiras. a primeira é chamar as pessoas que se envolvem (na classificação da matriz de insumo-produto brasileira dos últimos anos, sem compra de insumos de qualquer outro setor econômico) em "Serviços prestados às famílias" de "asssistentes domésticas" ou, melhor ainda "assistentes residenciais" ou, o fino da bossa, diriam Nara e Elis. a segunda é designá-las por "engenheira de manutenção residencial", o que evoca o termo 'engeneer', que não é tradução perfeita de engenheiro, pois temos o engenheiro de automóveis, o engenheiro de elevadores, e por aí sobe-se ou se desce.
afastar-se-ia o sentido pejorativo de "empregada", termo, aliás, que não é pejorativo em si. o que, parece-me, é pejorativo associa-se à enorme massa de pessoas de baixo nível cultural e falta de opções sobre a arte de ganhar a vida que se dedicam a prestar serviços residenciais a outras famíias. sei que rico nunca fará os serviços domésticos, nem aqui nem na China. mas sei também que os salários brasileiros são aviltantes. como, aliás, o próprio salário mínimo legal.
epa, epa, esta não é uma postagem marcada como "Economia Política". o que me ficou na cabeça foram duas ideias:
.a. o chefe não negligencia de suas atividades supervisoras nunca: "já vai?", como quem diz: "que diabos, saindo tão cedo?"
.b. o amigo não negligencia de seus afetos: "já vai?, fica mais, toma outro mate, tchê!".
DdAB
imagem: aqui. isto que nem falei que a maioria das empregadas deve ser negra, juntando o preconceito social ao racial. de que cor será a diarista Conceição? quanto ganha? quantos anos de estudos enfrentou? fizeram-na fugir da tabuada? das consoantes? dos verbos da terceira declinação?
3 comentários:
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será que este comentário promete-me ganhar um milhão?
DdAB
e sem falar que confundi declinação com conjugação. teria feito o mesmo a Conceição?
DdAB
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